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Depois de longos segundos a encarando e longos segundos que ela se manteve devolvendo o olhar, Malvor ordenou que a levassem à uma ala médica, já que de acordo com ele "seu sangue começava a manchar o seu chão".

Criadas a levaram com calma, auto-controle e discrição imprescindíveis para o primeiro local em que ela pudesse ser tratada, mas Veena ainda tinha em sua visão os olhos acinzentados do rei de Fireeasy, como se ele ainda a encarasse com aquela expressão... atormentadora, retirando dela cada vestígio de segredo. Não era uma curiosidade medíocre como o próprio príncipe havia feito, e sim evasiva.

Jephinia alcançou a sala minutos depois de a chamarem. Ela vinha apressada, ainda terminando de amarrar as tiras do próprio vestido de criada. As sobrancelhas franzidas exibiam aquela preocupação toda que ela tinha ao encarar o corpo da garota.

A lateral direita da sua cintura sangrava cada vez mais rápido e o mundo dela começou a ficar lento. Ela sorriu, anestesiada.

— Olá, Jephinia.

— Se teimar mais uma vez em falar eu vou sair dessa sala — ela disse como repreensão, mas a voz falhou por meio segundo. — O que demônios a senhorita arranjou dessa vez?

E ela responderia, se a mulher e mais duas curandeiras não comçassem a despi-la da camisola e começaram a retirar as ataduras. Ao menos daquela vez não sentia os órgãos se movimentando a medida que tiravam as faixas.

Mas a careta de Jephinia disse o contrário. Ela encarrou o corpo da garota e só então piscou:

— Tudo bem. Vou precisar dar uns pontos... de novo — ela disse e começou a colocar as luvas. — Garota... o que eu faço com você?

— Salve-me. Só mais essa vez. — a voz mal passou de um sussurro, mas ela tinha que dizer antes de a exaustão a levar e ela perder a consciência.

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Veena despertou em meio aos lençóis de seu quarto, novamente. Reconheceu a textura das almofadas e a coloração já tão familiarizada do dossel, assim como a forma que o sol despencava dos vãos das cortinas. Só assim percebeu que estava viva.

E ao sentir o cheiro de leite morno que notou que não estava sozinha daquela vez.

— Eu não quero saber. Sinceramente, não quero saber como você se mete em tantos problemas — foi a saudação de Jephinia, sentando-se na cama ao seu lado e concentrando-se em soprar o leite para esfriá-lo. — Sabe o que passou pela minha cabeça quando me disseram que você estava se esvaindo em sangue?

— Diga — ela respondeu, a voz rouca, mas sorrindo. Era bom tê-la ali novamente. Ranzinza e mandona, mas a melhor companhia que ela tinha em anos. E ela a encarou, como se aquela única e curta palavra pudesse fazê-la ter uma infecção grave.

— Eu pensei "agora ela vai parar de me dar trabalho". Não cuido de mortos. Mas — ela suspirou demoradamente. — você acordou. Devo me preparar para a próxima vez? Vai fazer o quê? Se jogar da escada? Colocar os intestinos para fora? Espere, isso você já fez.

— É bom estar viva para ouvir sua voz — a garota falou, ajeitando-se para sentar no colchão. Felizmente, apesar de sentir dor, não era como se tivesse regredido demais. A curandeira aproximou a xícara com o leite de seus lábios e ela o bebeu, fazendo uma careta em seguida. — Eu sabia que você tinha colocado algum remédio no meio.

— Que outra maneira de lhe fazer beber? Preciso conversar com você. A última madrugada foi... extremamente tensa e o castelo está cheio de novas regras.

— O sequestro da rainha — a mente foi inundada com lembranças e vestígios de dor. O sorriso quase sumiu de seu rosto quando se lembrou de cada detalhe da noite anterior.

Coroa de Eagenon ¤ A FeridaOnde histórias criam vida. Descubra agora