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As pernas do príncipe congelaram na entrada do quarto ao mesmo tempo que as íris verdes brilhantes pela luz refletida das chamas da lanterna paralisaram nele. Não demonstravam medo e não era o que ele esperava. Talvez houvesse uma espécie de insegurança e pavor repentino, mas não parecia o tipo de coisa que uma assassina de dragões não pudesse controlar.

Ele desceu os olhos pelo corpo coberto pela longa camisola branca de inverno e para as pernas cobertas de bandagens que por pouco não tocavam o chão. Não havia nada que o impedisse de mandá-la para uma punição bem próxima de morte.

Mas não o faria. Não olhando para aqueles olhos que acompanhavam a postura destemida que fazia novamente os centímetros de inconsequência do príncipe inflarem.

Ela usou os braços para cobrir o corpo, subitamente, fazendo com que o príncipe desviasse o olhar para o corredor vazio, pensando em sair dali e deixá-la pensar que havia sido um mero sonho.

Mas algo o impediu de fazê-lo. Ele fechou a porta atrás de si, para evitar que qualquer guarda que circundasse os corredores o visse. Já fora difícil o suficiente sair de seus próprios aposentos sem alguém em seu encalço para ir ali. Ainda mais difícil que da primeira vez, uma semana antes. Não estava com a finalidade de ir embora

Ele afastou os pensamentos com eficácia. Ainda se perguntava porque fora vê-la à noite. Precauções, ele repetiu a si mesmo, agarrando-se ao argumento. Ela não é de tudo inocente.

— Devo me curvar? — foi o que ela disse, após os longos segundos que seguiram se encarando. Ela tinha aquele sotaque facilmente decifrável, com um leve toque típico camponês, mas que não inibia um sinal de algum contato com a nobreza.

— Não se curvou da primeira vez que nos vimos, então suponho que não fará diferença.

— Está falando de quando eu estava morrendo, ou quando eu estava quase morrendo? Porque se estiver falando da segunda vez, garanto que você não se importava com o que eu faria. Ou não teria se apresentado pelo primeiro nome.

— Questão de segurança.

— Não é como eu pensava que seria. Essa tática se mostrou bem inútil para um reino como o de Vossa Alteza.

Ele comprimiu um sorriso que ficou tentado a aparecer.

— Ou você é bem esperta.

— Na verdade, não. Qualquer um tem seu nome gravado na lista de quem se temer. E convenhamos, apenas um rei daria um nome tão ostentoso a um garoto.

O sorriso surgiu então, mas ela não se mostrou menos desconfortável. Ele identificou quando os olhos dela passaram sutil e rapidamente sobre suas vestes, certamente se certificando se estava segura ou não. Bem, podia ser tolice, mas ele não carregava sequer uma arma. Era algo que seu cérebro vinha gritando para ele desde que alcançara o corredor de seu quarto.

Magnus escondeu mais uma vez o sorriso e resolveu que era definitivamente a hora de mudar de assunto.

Desceu o olhar para suas pernas que ainda estavam fixas na mesma posição.

— Onde pensava em ir?

— Banheiro.

— Como acha que consegueria ir até lá?

Ela deu de ombros.

— Golpe de sorte.

— Precisa de ajuda?

— Não acho que vou ficar confortável com isso — ela respondeu. — O que veio fazer aqui?

— Ver se você estava bem.

Coroa de Eagenon ¤ A FeridaOnde histórias criam vida. Descubra agora