Dando o troco nas crianças

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Vinguei_me das meninas esses dias. Estávamos ni carro e, a caminho de casa, passei a perguntar insistentemente: " Já chegamos? Já chegamos? Já chegamos? ". Pra verem o que é bom pra tosse. A cada dois minutos perguntava " já chegamos?", e elas eram obrigadas a me dizer que  não, que não, calma que já vai chegar. Foi uma ótima vingança.

Aí então, confiante com o sucesso desse primeiro experimento, ampliei minha área de atuação. Passava a manhã gritando " Tô com fome! Tô com fome!", e quando saia o almoço dizia que não queria comer. Pedia ajuda para fazer as tarefas mais simples. Se ninguém me ajudava eu gritava: " Mas eu não consigo!". E fingia um choro quando queria que elas amarrassem meus cadarços, por exemplo.

Passei a perguntar " Por quê? " pra tudo. Se contavam uma história do colégio, eu perguntava: " Por que?". E se uma explicava que era porque a professora de matemática passa muito tema de casa, eu mandava outro : " Porque? ". E ela tinha que explicar que era porque o pessoal da sala não era muito bom de matemática. " Por que?". Porque todo mundo não prestava atenção na aula. " Porque?". Porque era um assunto que não interessava. "Por que? Por que? Por quê?". E ela ficava irritada até gritar que não sabia, que ela não tinha que saber de tudo, meu Deus pra que perguntar tanto assim?!

E era ótimo dormir com a alma lavada.
Até que um dia senti um sorriso malandro na cara delas, como se tivessem descoberto algo que eu não sabia. Passamos o café da manha todo nos olhando, eu desconfiando e elas rindo de alguma coisa. Tomei banho e fui trabalhar. Quando cheguei em cada uma delas disse: " Já pro banho". Mas o que é isso, quem manda nessa casa aqui sou eu. "Já pro banho!", ela repetiu. E a outra gritou: " Se não tomar banho agora, vai ficar sem o celular ". Na janta tive que comer tudo, até o brócolis, raspar o prato e colocar na pia. Levei maus uma hora arrumando o  quarto. " E escova os dentes bem escovados!".

Naquela noite fui pra cama antes das nove, sem direito a televisão.

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