Máfia no diva

184 8 0
                                    

Provavelmente deveria estar falando isso apenas para o meu psiquiatra, mas me lembro até hoje do dia em que o meu professor na faculdade explicou por que não tinha filhos. Ele olhou para a sala lotada e perguntou: "Quantos de vocês acham seus pais uns bananas?". A sala ficou muda, mas aos poucos dezenas de mãos se levantaram. "Pois então. É por isso que eu não tenho filhos. Não quero ser banana pra ninguém."

Não é preciso olhar nossos óculos de aro grosso e nossa fixação por bandas índies do Canadá pra percebe que somos uma geração de jovens pais inseguros e perdidos, tentando ser amigos de nossos filhos enquanto eles estão muito mais pro clima "acho que consigo algo melhor". Algo aconteceu com a nossa geração. Eu olhava aqueles filmes do John Hughes no meio dos anos 1980 e os pais de família eram senhores de respeito, não esses branquelos ranhentos que a minha geração se tornou.

Lembro-me de brincar na casa do meu amigo Gustavo. O pai do Gustavo era um pai típico da época: barriga grande, dedos grossos na mão e pouco paciência para brincadeiras. Ele entrava em casa, estávamos jogando Atari, dava um beijo no filho e desaparecia. A partir dali precisávamos abaixar o volume da TV e das conversas, ou a mãe do Gustavo vinha gritando: "Silêncio! Teu pai tá em casa! Teu pai tá cansado!". Ser pai naquela época era como ser um mafioso. As pessoas te respeitavam.

Hoje em dia minhas filhas me acordam pulando na minha barriga. "Ta mimindo papai?", pergunta a menor, enquanto abre meu olho a força. A mais velha exige que eu pare tudo o que eu estou fazendo pra arrumar algum problema no Netflix. O único momento que me sinto um mafioso com um trabalho sujo é quando troco as fraldas da pequena. Eu achava que minha vid de pai seria como a do pai do Gustavo, mas estou mais para a mãe dele. Sempre com medo e arrumando tudo. As mafiosas de verdade lá de casa têm dois e oito anos.

" O papai é pop" Onde histórias criam vida. Descubra agora