Diamantes

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Num casamento que eu fui esses tempos, o mestre de cerimônias era daqueles modernos, sem religião, que fazem o casamento ficar bem descontraído e, às vezes, por causa disso, constrangedor. A gente se sente meio que numa palestra motivacional ( quem é casado consegue entender a ironia nisso).

Em determinado momento, o mestre de cerimônias moderninho pediu pra todo mundo dar as mãos e, na contagem de três, gritar bem alto alguma coisa que desejávamos para os noivos. Todos contaram "um... dois... três e" e berraram ao mesmo tempo coisas do tipo "alegria!", ou "amor!", ou "felicidade!".

E no meio disso uma criança de sete anos gritou: "Diamantes!". O que poderia ser melhor do que ganhar diamantes no dia do casamento? Alegria é passageira, felicidade plena é inalcançável, amor o casal de noivos já está cheio. Desejem aos noivos diamantes! Eles são eternos, e em um momento de necessidade poderão vender alguns para fazer um cruzeiro pelo mundo ou completar o tanque de combustível com gasolina (não aditivada que está muito cara). Dizem que vendendo alguns diamantes se consegue pagar uma refeição no aeroporto, mas acredito que seja realmente possível.

Chamou-me a atenção que ninguém gritou: "meias!". Meias, portanto, não são um bom presente pra desejar aos outros. Ninguém tampouco gritou "vale-presente da saraiva". Eu gosto muito da saraiva, mas abomino vale-presentes, praticamente um cartão escrito "não perdi tempo pensando em um presente melhor". Ninguém gritou: "compact discs!", nem "a coleção completa do seriado Friends em DVD". Seriam presentes interessantes, mas fora de moda.

Eu gritei "amor", meio constrangido com a situação e com medo de parecer um desejo ridículo para os outros na festa. Gritei "amor" porque sei que no final das contas é a coisa mais importante em uma relação (tirando o iate, quando houver). Mas desejei ter gritado "diamantes" depois que o mestre de cerimônia moderninho falou no microfone: " Que vocês recebam o que gritaram em dobro!"

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