Minha filha não tem nada contra gays.

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Quando uma criança nos brinda com sua visão de mundo é uma delicia tão grande que devemos ficar bem quietos. É como olhar unicórnios se alimentando. Você quer ficar vendo aquilo sem espantar a magia do ambiente. Estávamos no carro, eu dirigindo, minha mulher no banco do carona e minha pequena no banco de trás, sentada no meio. A de dois anos dormia. Lá fora as pessoas desrespeitavam outras pessoas no trânsito. O que podemos chamar de um dia normal.

"O que eu não entendo é que uma mulher pode se vestir com calça jeans e até com camisas masculinas. Isso é aceito pela sociedade," ela tem oito anos e está falando sobre a sociedade. "E um homem não pode se vestir com roupas de mulheres que todo mundo fala mal. Não que eu tenha alguma coisa contra travestis. " Eu explodi em risos. "O quê, pai!?", protestou a Anita.

A Anita sempre diz que não tem nada contra determinada minoria, sempre que fala delas. "Por que as pessoas tratam os pobres mal, pai? Não que eu tenha alguma coisa contra os pobres." Ela sempre parece preocupada com a possibilidade de ser considerada racista, elitista, sexista, machista ou preconceituosa. Deve ser uma preocupação muito atual entre as crianças. Porque o mundo está politicamente correto. E imagino que isso seja uma coisa boa. Mas quando eu tinha oito anos, nossa principal preocupação era conseguir a maior quantidade de doces entre a hora de acordar e a hora de dormir.

"Eu só acho que os homens deveriam poder se vestir com saia e salto se quisessem. As mulheres podem fazer isso. Os homens não, porque são considerados gays. Nada contra os gays", ela diz novamente, antes que seja mal interpretada. Estávamos no carro ouvindo a Anita falar sobre a sociedade. Lá fora as pessoas desrespeitavam outras pessoas no trânsito. O que podemos chamar de um dia normal.

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