Vocês vão dizer "tal pai, tal filha", mas a verdade é que eu queria que minha filha mais velha acreditasse em algo que não fosse a simples matéria. Mas ela não acredita. Ela nunca acreditou em Papai Noel, por exemplo. Nunca teve medo de Papai Noel, como algumas crianças. Simplesmente olhava impassível para o cara vestido de Papai Noel porque pra ela era exatamente isso: um cara vestido com uma roupa esquisita.
Eu dizia: "Olha filha, o Papai noel!". E ela me olhava como se eu fosse algum idiota. "Pai, é um cara vestido de Papai Noel". Isso quando ela tinha três anos. Com o passar do tempo, o ceticismo dela foi me deixando constragiso de sugerir qualquer entidade fantasiosa. Eu ia me sentir ridículo tentando apresentar, como algo verossímil, o coelho da páscoa, por exemplo.
— É um coelho que traz ovos de chocolate, filha.
— Sério, pai. Isso não faz sentido nenhum!
— Errrr... OK, filha. Eu sei.
Quando caiu o primeiro dente da Anita a gente tentou fazer alguma coisa mais lúdica, pra ela acreditar na fada do dente. Sabe? Aquela que pega o dente da criança? OK, eu sei que não faz sentido. Tô só contado uma história. Enfim. Falamos pra que ela colocasse o dente embaixo do travesseiro, esperamos ela dormir, colocamos uma moeda de um real no lugar do dente, e esperamos pelo dia seguinte.
Ela acordou gritando: "Pai!". Naquela manhã eu realmente achei que veria aqueles olhos brilhando, aquele sorriso largo e aquela alegria do tipo: "É REAL! FADAS EXISTEM!".
Ela entrou no quarto mostrando a moeda de um real.
E disse:— Só isso?!
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" O papai é pop"
Humor" Estou pagando essa dinheirama para ser chamado de Herói quando mato uma barata. Estou pagando essa pequena fortuna para pegar a bola que caiu no terreno do vizinho e ser aplaudido pelas pequenas. Estou pagando para saber tudo sobre todas as coisas...