*Anteriormente:*
Mãos no capô antes dos joelhos. Ficar de pé e manter o equilíbrio.
Um, dois passos... impulso.
Mãos e pés no capô.
Não caia, por favor.
Isso, levantando... já!
Só mais dois carros.
Aproveite o momento!
— Por que essas caras? – pergunto para o pessoal, já em terra firme.
— Isso foi bem prático. – disse Verônica, sentada no tubo da bicicleta com Thiago nos pedais, antes de se virar para frente.
— Obrigado. Foi um desejo de infância realizado... Podemos continuar?
Finalmente sentei no banquinho de couro, Emi à minha frente.
— Gostei dessa ideia – ela disse quando retomamos o caminho – curtir os detalhes que não existiam antes de tudo isso... Realmente gostei, garoto!
— Obrigado...
E aquilo me fez refletir.
Detalhes que não existiam antes...
Quer dizer então que o tal fim do mundo teria nos aberto novas possibilidades?
*
DIA Z + QUATRO MESES.
"Mas é claro que o sol vai voltar amanhã. Mais uma vez... Eu sei..."
"Três dias. No píer." Emi dissera.
"Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã. Espera que... o sol... já vem..."
Já haviam se passado sete. Não haveria mais ninguém em lugar algum esperando por mim.
Eles tinham desistido.
Sentado na beirada d'água, eu deixava que minhas pernas balançassem centímetros acima das águas do Lago Paranoá enquanto refletia pela última vez em como minha vida era e de tudo o que tinha passado para terminar assim. Ao mesmo tempo, era presenteado com um belíssimo pôr-do-sol: os raios alaranjados faziam a água brilhar em uma tonalidade quase mágica. Havia uma brisa refrescante e o clima estava um pouco melhor. Tudo isso só porque eu ia morrer. Certeza!
Vida, você é a maior sacana de todas as coisas!
Continuei cantarolando a música do Legião Urbana porque estava com ela na cabeça, enquanto admirava aquele belíssimo pôr-do-sol.
A pistola em minhas mãos brilhava sob os últimos raios solares do dia, meu último dia. Apreciei a beleza mortal daquele objeto uma última vez antes de erguer e encostar o cano em minha têmpora direita.
Eu queria que meu último pensamento fosse bom. Não necessariamente algo feliz, mas bom, pra fazer todo esse inferno ao menos chegar perto de valer a pena até aqui. Porém estava difícil encontrar algo bom no mar de depressão que minha mente se encontrava atualmente, mesmo com a música.
Sei lá, essa música, na verdade, me parecia meio apocalíptica. Devia ser os contextos geral e pessoal em que eu me encontrava. Só podia ser...
"Mas é claro que o sol vai voltar amanhã... Mais uma vez.". Mas não para mim.
— Não para este garoto — apontei para mim mesmo –. Desculpe Renato, mas eu desisto.
E tinha desistido mesmo.
Preparei-me para apertar o gatilho quando ouvi o som de outra arma disparar não muito longe dali. Uma voz surgiu, tendo como fundo a trilha sonora do choro de um bebê.
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ApocalipZe [Primeira versão]
Science Fiction*A história foi postada em sua primeira versão no site em 2014. De lá pra cá muita coisa mudou de maneira absurda e o autor evoluiu bastante também. Essa é uma versão-teste, que será reescrita, reeditada e revisada para se transformar em algo maior...