Eu já estava no corredor da escola com meu armário aberto diante de mim; eu substituía o livro de química pelo de biologia e o corredor inteiro estava quieto.
Nada das típicas vozes de centenas de adolescentes conversando enquanto os professores passavam matéria no quadro.
Apenas alguns burburinhos vindos das salas mais próximas. Quase cochichos.
Assim que termino de trocar os livros, ouço um som diferente vindo de mais à frente. Da Diretoria. Um barulho bruto e arranhado, como se alguém gritasse ameaçadoramente para outra pessoa com a voz rouca.
O som lembrava o filme ridículo que eu tinha visto, na cena onde a protagonista é mordida por um monstro e começa a gritar incontrolavelmente; um grito desumano e medonho.
O burburinho dos alunos, o som dos pássaros e o do vento nas janelas cessou de imediato.
Em seguida, uma batida suave começou vinda do mesmo lugar que o barulho; era como uma batida no armário de ferro, um baque alto, mas ligeiramente passageiro que foi tornando-se mais forte à medida que os segundos passavam, misturando-se ao som brutal.
Quando estavam altos e terríveis o suficiente, algo surgiu no chão da curva no final do corredor. Uma mão. E então, os gritos.
Gritos apavorados, uma voz masculina. Outra mão surgiu junto com aquela, como se a pessoa estivesse estirada no chão com as mãos para cima. As mãos começaram a se mexer desesperadamente, agitando o pedaço de antebraço que era possível ver àquela distância e que não estava para lá da curva.
E então, subitamente, os gritos e o movimento incontrolável pararam enquanto os sons tenebrosos eram reduzidos a leves ruídos. Agora, era como quando um animal começa a comer sua presa; aquele som repugnante de comer carne crua misturado a algo mais; alguma coisa começou a escorrer pelo chão, debaixo da mão. Estava longe demais para que eu pudesse ver sua cor, mas era escuro e parecia ser espesso.
Eu estava imóvel; não conseguia me mover. Apenas assistia o que quer que estivesse acontecendo. Instantes depois, outro grito desesperado; agora, feminino.
Uma mulher surgiu em meu campo de visão correndo. Ela tentou fazer a "curva" do corredor e adentrar. E teria conseguido, teria vindo em minha direção, se outra mão não tivesse segurado seu pé e a derrubado no chão. A mulher caiu com um baque não muito alto, mas gritou enquanto uma multidão de pessoas avançou gritando – sim, avançou – sobre o corpo já caído da mulher e a cobriu.
Então me dei conta de que o som terrível e animal vinha deles.
Aquilo era demais. Gritei sem pensar duas vezes.
Alguns (os que estavam mais pra fora do bolo humano que aquilo tinha se tornado) se viraram para mim. No momento seguinte, eles dispararam em minha direção.
Quando fui correr, travei. Meu corpo não se mexia.
E cada vez que eles se aproximavam, pude vê-los melhor. Seus olhos e dentes estavam com cores estranhas. A pele estava meio acinzentada demais. Eu queria correr, mas, como se estivessem coladas ao chão, minhas pernas não se mexiam.
Então, quando me dei conta, um deles já estava bem diante de mim. O pânico cresceu, mas eu não podia fazer nada além de vê-lo abrir a boca e pular.
Levanto em um sobressalto, arfando alto.
O professor parou o que quer que estivesse falando para me encarar; meus colegas de classe fizeram o mesmo.
Os que estavam mais perto tinham expressões de quem tinha acabado de levar um susto.
- Senhor Enzo, poderia nos explicar o motivo desta interrupção, digamos... repentina?
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ApocalipZe [Primeira versão]
Ciencia Ficción*A história foi postada em sua primeira versão no site em 2014. De lá pra cá muita coisa mudou de maneira absurda e o autor evoluiu bastante também. Essa é uma versão-teste, que será reescrita, reeditada e revisada para se transformar em algo maior...