Quanto dura o sempre?

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Nota, desculpe a quem já leu, mas haverá descrições de cenas violentas e pesadas.

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Em posse de "novos" documentos, Rafael e Betânia poderiam casar e casaram-se. 

O padre que batizou, deu a eucaristia e crismou o menino Rafael, ficou comovido em celebrar aquele casamento. O médico fora um anjo na vida do pároco, pois um transplante de rim bem sucedido pode prolongar sua vida para além dos sessenta anos. 

Betânia estava belíssima, podia-se notar o brilho em sua pele jovem, seu sorriso e as lágrimas emocionadas por cada palavra que lhe abençoava junto ao marido. Depois foi surpreendida por um pequeno e doce discurso:

— Se eu aceito, padre? Eu não aceito é ficar longe dessa mulher. Não aceito que ela seja infeliz. Não aceito, não ter seu amor, Betânia. Sou seu, lembra? Te aceito! Te amo! Sim, padre, eu a aceito!

Palmas romperam no silêncio, mas antes que o padre permitisse que os noivos selassem com um beijo, palmas persistiram. Houve um homem que não recebeu um convite por não ser conveniente aos noivos e a ele mesmo, justo este batia as palmas solitário.

Ramiro trajava seu melhor terno, uma cartola e "adornava" a cara com um sorriso quase demoníaco. Sua aparição inesperada deixara dois corações preocupados, pois o não convidado tinha o olhar cheio de certeza de algo, mas nada disse. O noivo resolveu conversar com o filho do dono da olaria. Sem clima para encerrar a cerimônia, Rafael beijou a testa da noiva  e quase arrastou o "rival" para o fundo do local sacro.

— Tem alguma coisa para dizer? —  O noivo quase sussurrava com medo de ser ouvido. —  Eu e Betânia estamos felizes por você, não casou-se recentemente? Por favor se mantenha no seu devido lugar. Betânia é minha esposa, fizemos os votos e não permitirei que se meta entre nós.

— Isso é uma ameaça?  Sei de algo, doutor... algo que deverá descobrir na noite de núpcias. Se já descobriu, provavelmente é um tanto mais grave.  Já sabe o que tem debaixo das saias dela?

Um choque passou pelo corpo inteiro de Rafael e ele teve medo de responder que sim. Se assim o fizesse, Ramiro faria um escândalo na igreja e contaria a todos sobre a "abominação" que estavam cometendo, além da documentação falsa que era um ato criminoso. Mas se falasse que não sabia? Então somente Betânia seria acusada de estar pecando e talvez a comunidade lhe fizesse algum mal.

— Hahaha... — O riso de Ramiro era baixou e diabólico, causando desconfortáveis arrepios no jovem médico . — Sabe, não é mesmo? Não tem porque se preocupar, jamais contaria as pessoas dessa cidade, pois eu mesmo seria alvo de chacota. Não esqueça que fui o primeiro "namoradinho" dela... ou dele.

Rafael foi invadido por uma onda de medo, ciúmes e despeito, e isso o levou a avançar sobre Ramiro. No primeiro soco, o nariz quebrou, não havia dúvidas, Rafael sentiu a cartilagem estalar e moer contra seu punho fechado. A igreja presenciou horrorizada o sangue grosso e escuro escorrer no nariz do rapaz que ainda sorria.

Ramiro deu as costas a todos e foi embora do casamento naquela igreja. Nem mesmo deu queixa e não reclamou com a família. No início, Rafael e Betânia andavam com o alerta ligado, mas com o passar de meses e anos, presumiram que a "lição" ensinada na porta da igreja, fora lição aprendida e passaram a se sentir tranquilidade.


Betânia era a esposa perfeita e seria boa mãe, cochichavam as mulheres. Sua sogra era bastante elegante e tratou de ensiná-la as boas maneiras para que se portasse bem na frente da"high Society" da região. A jovem não gostava disso, mas sendo devotada ao esposo, acatava as instruções.

O Papai UrsoOnde histórias criam vida. Descubra agora