Capítulo 7 - O Guerreiro Solitário

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A brisa batia leve de forma que as palmeiras na costa cumprimentassem os visitantes com um aceno gentil de boas-vindas. Ralph acompanhava a desbravadora que se livrava das folhagens e cipós com dificuldade, Auria parecia aflita por adentrar um território desconhecido, mas não conseguia esconder a frustração por ter sido tapeada nas primeiras horas de sua jornada.

— Há selva para cada canto que olhamos, como essa espécie miserável consegue viver em um local tão primitivo? — a moça reclamava enquanto golpeava o tronco de uma árvore para derrubar frutos que pudesse comer, mas sem sucesso.

— Geckos preferem não interferir na natureza, ela é importante demais para eles. Ao invés de devastar tudo que encontram no caminho, eles criam trilhas. Acredito que deveríamos aprender muito com esta lição: sempre procurar por outra saída.

As pegadas do ladrão eram avistadas em troncos e rochas arranhados por garras. A criatura era ágil e conseguira despistá-los com horas à frente.

Percorreram uma grande rota entre as árvores e, para sua sorte, a areia voltou a surgir entre seus pés, deixando os vestígios mais nítidos. Estavam alcançando o extremo sul da ilha.

— Eu odeio esse lugar — disse Auria com exaustão.

Por tratar-se de uma área afastada, a região não devia receber visitas frequentes. Os dois apressavam-se para que a maré não apagasse a única pista que os guiava em sua busca incessante.

Mesmo sem referência para localização, era possível avistar fumaça espessa nas alturas.

— Auria, veja só! Deve ser uma chaminé — alertou.

— Ninguém constrói chaminés na praia. Por que alguém faria uma lareira num lugar que faz calor o ano inteiro? Pode ser uma fogueira ou até um aviso de resgate.

— Vamos investigar!

Os dois se aproximaram cautelosos até que avistassem uma pequena cabana cercada por um muro de pedras distintas. A fumaça indicava que o ocupante estava presente. Ele vivia solitário e longe de toda a civilização. Uma palmeira estrondosa erguia-se logo ao lado fornecendo sombra e proteção, por toda a costa restos de comida e embalagens plásticas eram levadas pelo mar, desde latas de refrigerante e garrafas até os mais variados tipos de produtos enlatados.

— Pelo visto nem todos os geckos são ecológicos — comentou Auria.

— Uma casa no meio do nada, como se fosse um ambiente secreto. Isso não é o máximo? Imagina só morar sozinho, sem a companhia de ninguém, você e seus pensamentos, e... — Ralph pensou com mais calma. — É. Acho que não deve ser legal.

Os dois se silenciaram quando algo na entrada se moveu. Não havia porta, só alguns frutos de casca dura presos em um fio que tremia com um som calmo e rítmico. A cabana do gecko tinha paredes revestidas de barro e madeira improvisada, como se tivesse sido construída há pouco tempo e de forma improvisada.

De dentro da toca, surgiu um gecko de aparência esquisita, nariz alongado e dentes tortos. Seu rosto era marcado por uma cicatriz no olho esquerdo, nada mais do que uma lembrança de tempos antigos. Sua barriga saltava para fora e ocultava qualquer evidência do porte atlético que tivera uma vez. Os olhos demonstravam cansaço, como alguém que não fizera nada o dia todo e mesmo assim estava esgotado.

Auria ficou enfurecida quando viu que o lagarto vestia sua jaqueta de couro — que por sinal lhe coubera muito bem. O gecko despejou um saco vazio na areia de sua varanda, mas não os viu, depois coçou sua região traseira e entrou de novo na cabana.

A moça apertou os punhos e franziu o cenho.

— É ele. O ladrão.

Auria queria agarrar a sua espada e atacá-lo enquanto ainda estava distraído, mas lembrou-se de que Melodia havia sido roubada. Agora ela dependia de Ralph e sua espada de madeira.

Matéria, Espada de MadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora