Capítulo 3 - Papel Carimbado

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A academia da Vila das Pérolas tinha história — primorosa e antiga —, diziam que grandes guerreiros da raça humana caminharam por aqueles corredores. Era um porto usado para transporte de mercadorias, o turismo havia sido abandonado depois que as pérolas perderam seu valor comercial. Oitenta e cinco porcento da população era formada por estudantes, os alunos consideravam a academia como uma continuação do ensino fundamental, a diferença era que podiam ser convocados para a guerra sem aviso prévio. Muitos clamavam pelo chamado, enquanto outros consideravam uma desonra serem deixados para trás.

A torre principal era rodeada por seis prédios diferentes, cada um deles representava uma especialização: a espada trazia seu significado de honra e glória; o escudo, a proteção; a lança era a agilidade; o machado pela força bruta; o arco e flecha pela destreza e a mana como todas as energias que permeavam o mundo.

Assim que Ralph chegou ao portão — onde sua cabeça ficara presa na noite passada —, pôde ver toda a grandeza da academia e dessa vez sem limitações. A partir daquele ponto estaria decidindo o tipo de treinamento que levaria para os próximos anos, se seria um guerreiro disposto a defender sua nação, ou talvez um mago capaz de manusear magia com esforço de sua mente.

Ralph notou que nenhum dos outros alunos trazia os devidos equipamentos para uma batalha. Onde estavam as espadas e escudos? Pensou que nunca mais precisaria de apostilas pesadas. Um pensamento lhe percorreu — sua estimada professora, Srta. Clover, dissera certa vez que os livros eram as armas mais poderosas que ele poderia ter em mãos. Não discordava, pois ela os arremessava com muita força quando estava estressada, e aquilo o fez rir.

Ralph adentrou o saguão e passou por corredores repletos de salas que eram preenchidas por alunos. Janelas de um estilo clássico medieval revelavam a idade do território, como um castelo imponente do passado.

Chegou perto de um balcão onde residia uma senhora de óculos coberta por papeladas. Ela entregava os devidos documentos para os novatos.

— Oi, moça — Ralph a chamou, o que era uma gentileza, pois a velha parecia ter pelo menos uns cem anos. — Posso me inscrever?

— Dá para sentar e esperar como todos os outros? Você não é especial.

Ralph concordou e foi sentar-se. Por acordar cedo, seria um dos primeiros a ser atendido, mas ainda odiava esperar em filas, sentia-se preso, quase torturado, cada minuto perdido era uma tremedeira em suas pernas.

— Olá. Já decidiu o que vai fazer? — perguntou para o rapaz ao seu lado, puxando conversa só para não ficar parado.

"Não faço ideia", foi a resposta que mais recebeu. Era interessante notar como na verdade todos aparentavam estar agoniados ou aflitos.

— Eu não queria estar aqui — repetiu um deles assustado, uma gota de suor escorrendo pelo rosto —, gostaria de ser dispensado. Eu só queria ir embora.

Quando chegou a vez de Ralph, a feição de desânimo da secretária se intensificou por algum motivo.

— Bom dia. Seja bem-vindo ao Curso Preparatório Classe E da Academia da Vila das Pérolas. Qual área pretende prestar? — a atendente perguntou de forma automática, logo acrescentando como se já soubesse o que iria ouvir: — Se ainda não tiver decidido o que fazer, pode deixar em branco ou marcar todas.

— Eu sou Ralph, da Espada de Madeira!

A mulher ficou sem reação, as pessoas sentadas na banqueta da fila começaram a rir. Atender novatos confusos e cheios de dúvidas com as mesmas respostas há anos não era uma tarefa interessante, mas vez ou outra aparecia algum louco para diverti-la.

Matéria, Espada de MadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora