L A I L A

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NATAL, RN
ALGUNS MESES DEPOIS...

O Sol que batia nas minhas pernas era o mesmo que brilhava aqui em Ponta Negra, mesmo sendo inverno, dei sorte de ser um belo dia ensolarado.
Agora eu observava minha irmã mais nova, Alice, brincando na areia, enquanto minha tia tentava tirar uma foto dela.

"Alice, olha pra titia" Joana falava enquanto sorria boba para a criança.
Eu decidi dar um mergulho depois de tanto tempo esperando o protetor solar fazer efeito no meu corpo.

"Tia, eu vou dar um mergulho, depois podemos voltar pra casa, já está tão tarde" falei e tirei o prendedor do cabelo, soltando meus fios longos e pretos. Agora assim eu era Laila. Me sentia livre com o corpo cortando o vento enquanto dava uma breve corrida em direção ao mar.

~

"Tia, antes de ir quero alguma coisa pra beber" Avistei uma cerveja na mão dela e perguntei "Pode ser essa cerveja" eu disse empolgada, nunca havia bebido antes.

"Nada disso, você tem 16 anos, mocinha" ela relembrou e minha empolgação sumiu. Joana pegou Alice no colo, juntei nossas coisas e fomos em direção a parada de ônibus, e logo voltarei pra minha realidade sem descanso e calma.

Pegamos o ônibus e descemos no nosso bairro Alecrim, as ruas estavam cheias como sempre, mesmo sendo domingo, o Alecrim nunca parava: Lojas, camelôs, vendedores gritando, o Sol forte como nunca, as vilas bem movimentadas e com pessoas sentadas nas calçadas falando da vida alheia e claro, o ar puro e leve que entrava em meus pulmões, junto com o cheiro de maresia que vinha do estado "pós-praia" em que eu me encontrava. Assim chegando em casa, fomos recebidas por meus pais, Arnaldo e Lídia.

"Pensei que chegariam depois do almoço" meu pai disse e me abraçou.

"Lice já estava chorando e pedindo pra voltar, e já estava tarde né" falei e segurei a mais nova no colo.

Depois do almoço, eu já estava no meu quarto, decidi ficar no celular pra passar o tempo e então eu já estava recebendo uma ligação dos meus amigos.

"Não posso ter sossego" pensei e ri sozinha.

"Vocês me amam mesmo, boy" eu disse atrevida enquanto posicionava o celular de um jeito melhor.

"Coitada da senhora" Luzia debochou de mim.

"Quase tive um susto, socorro, você tá muito preta, nem chama pra Ponta né?" Humberto disse exagerado e o encarei com cara de tédio.

"Pegar um solzinho é sempre bom né, menines" eu disse. A conversa foi se desenrolando por horas, toda vez era assim, sempre faziam chamada por vídeo comigo.

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Luzia e Humberto são meus amigos há algum tempo. Eu falo a eles que eles são meus melhores amigos, mas para mim eles são só amigos.
Para mim não existe essa coisa de melhor amigo.
Eu não sou uma pessoa de ter muitos amigos, se eles vão embora da minha vida, eu deixo eles irem.

Eu sou uma pessoa desapegada.

Luzia e José são meus amigos na sala, fora eles, só tenho duas amigas na escola: Viviane e Ivana.

Eu e elas, já tivemos uma amizade colorida, assim com eu, elas são bissexuais.

Hoje Viviane não fala muito comigo, porque agora ela é popular. Já Ivana, só me dá um oi, e pronto. Por isso sou mais próxima de José e Luzia.

Eu conheço José, desde que estudavámos no Mary Correia. Lá nós não nos falávamos muito, e a escola jogava o boato de ele ser gay.

Quando eu vim estudar no Guel Moreira, eu e ele começamos a estudar na mesma sala. E descobrirmos que tínhamos algo em comum, ele é bi.

O CONSERTADOR DE ERROSOnde histórias criam vida. Descubra agora