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- Você ainda tá bêbado?
- Um pouco.
- Então, amanhã você vai se arrepender de estar falando tudo isso.
- To sóbrio o suficiente para saber que te amo.
- Você me conhece há menos de vinte e quatro horas.
- Foi amor a primeira vista.
- É só paixão pós sexo, logo passa.
- Você não é nada romântica, sabia?!
- Nem você.
- To dizendo que te amo.
- Seria melhor se você dissesse que eu transo bem pra caralho, amor de mentira só faz bem pra vaidade. Além do mais você está bêbado.
- Já falei que eu to meio bêbado.
- E isso com certeza faz toda a diferença.
- Você transa bem pra caralho.
- Eu sei, mas obrigada.
- E eu?
- O que tem você?
- Transo bem?
- Muito melhor do que eu imaginava.
- Como assim?
- Não achei que fosse ser tão bom.
- Então por que veio pra minha casa?
- Acho que bebi demais, e também porque você é bonito pra porra.
- Só bonito?
- Seu papo é péssimo, me desculpe.
- Você também é bonita e se não fosse tão metida seria melhor.
- Não sou metida.
- Fala sério você é insuportavelmente metida.
- Então por que me trouxe pra sua casa?
- Além do fato de você ser bonita?
- Sim, ou me trouxe só porque sou bonita?
- Queria descobrir o que tinha além desse seu papo mamão com açúcar sobre obras de arte e livros chatos.
- Livros chatos?
- Pra cacete.
- Não acredito que você acha o meu papo mamão com açúcar.
- Você é metida, e também metida à dona da razão.
- Claro que não!
- É sim.
- Você não tem noção do que está falando.
- Ta vendo só?
- Eu não sou... ah, talvez eu seja um pouco, mas só um pouco, dona da razão demais.
- É, talvez...
- Então eu sou chata?
- Te amo.
- Para com isso...
- Com o que?
- De ficar falando que me ama.
- ...
- ...
- Aguenta mais uma?
- Você vai parar de ficar falando que me ama?
- Por que eu não posso falar que te amo?
- Porque você não me ama.
- Como você pode saber que eu não te amo?
- É que eu sou a dona da razão.
- Ta, essa foi boa.
- Tenho uma metáfora pra explicar o amor.
- Qual?
- É clichê demais.
- Mas eu quero saber.
- Promete que não vai rir?
- To bêbado, não posso te garantir nada.
- Você ta só meio bêbado.
- É verdade, to meio bêbado, mas tanto faz, fala sua teoria e eu tento me controlar.
- Ta bem, vamos lá. O amor é igual uma florzinha, para que ele nasça o solo tem que ser favorável, ou você já viu planta nascer em cimento? É, então, tem que ter alguém pra regar também, se faltar água a semente não vinga. Você não pode comprar uma semente de flor hoje e esperar que amanhã já esteja nascendo o primeiro botão. Por isso você não pode me amar.
- Então antes do amor ser amor ele é uma semente?
- Sim.
- Que alguém tem que plantar?
- É.
- E regar todo dia?
- Exatamente.
- Bem, é uma boa metáfora.
- Também acho, é minha, afinal.
- Então você tem razão.
- Quanto ao que?
- Não te amo.
- Pois é.
- Acho que eu to ficando sóbrio.
- Isso é ruim?
- Talvez.
- Por quê?
- Ta me dando sono.
- Quer que eu vá embora?
- Você pode dormir aqui, se quiser.
- Prefiro ir pra casa, tem algum telefone de táxi?
- Você ficou brava?
- Por que você me mandou embora da sua casa? Claro que não.
- Falei que você pode dormir aqui.
- Não quero.
- Para de ser tão irritante.
- Te disse que você ia se arrepender.
- Não me arrependi.
- Ta bom.
- Juro que não.
- Vou pedir um táxi.
- Fica.
- Não dá.
- Dá sim, até porquê ta tarde, eu não tenho telefone de táxi e bebi demais pra dirigir.
- Tem certeza?
- Amanhã te levo, fica tranquila.
- Ta bem, amanhã bem cedo.
- Você quem manda.
- Só porquê ta tarde.
- Tudo bem.
- Mas se você preferir eu do um jeito.
- Aguenta mais uma?
- Você não ta cansado?
- To.
- Então até amanhã.
- Até.
- Posso apagar a luz?
- Pode.
- Boa noite.
- Boa noite.
- ...
- ...
- ...
- Ta acordada?
- Uhum.
- Acho que você é a minha semente, quero plantar você e te regar todo dia.

O Verão Em Que Tudo Mudou 2Onde histórias criam vida. Descubra agora