SÓ NÃO SE ESQUEÇA DE MIM.

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- Nossa!
- Oi? O que?
- Oi. Você tá tão diferente, moça.
- É. Faz tempo que a gente não se esbarra.
- É.
- É.
- Já fez dezessete.
- Dezoito.
- Já?
- Pois é.
- Ual.
- Que foi?
- Só fiquei impressionado.
- Comigo?
- Não. – risadas. – Com o tempo, como passou rápido.
- Ah, sim.
- Quer dizer, com você também.
- Sei.
- Sério... Você ficou tão mulher. Tá muito diferente.
- Cresci.
- É.
- Então tá.
- É, tá.
- Não.
- Não o que?
- Não tá não.
- Não?
- Não!
- Que foi?
- Nada, deixa pra lá.
- Agora fala.
- É besteira, esquece.
- Fala pô'.
- Sabe que dia é hoje?
- Sábado!?
- Dia de número.
- Quinze. Por quê?
- Só estava pensando.
- Pensando em que?
- Em hoje.
- Hoje?
- O hoje de seis anos atrás.
- Ah. E o que tem?
- Você não lembra?
- Não, eu devia?
- Não.
- Então...
- Então o que?
- Você ia dizer algo.
- Era isso.
- Só isso?
- Sim.
- Não faz sentido.
- Não.
- O que estava acontecendo hoje a seis anos?
- Não tem importância. Pelo menos não mais.
- Mas você disse que estava pensando...
- Estava. Já passou.
- O que passou?
- A gente.
- Como assim?
- Há seis anos. Já passou, passamos.
- Não to entendendo nada.
- Eu sei.
- Então me explica.
- Pra quê?
- Para eu entender.
- Pra quê?
- Porque eu quero.
- Pra quê?
- Explica!
- Deixa pra lá, vai...
- To te pedindo. Por favor?
- É só que tem tanta coisa, sabe? Tanta coisa que você não sabe, ou esqueceu, ou nunca soube. Sei lá. To confusa. É você e já não importa mais, me entende? Seus olhos, meu Deus esses olhos que eu tanto desejei que me possuíssem, estão aqui fitando a mim em busca de uma explicação do que houve há seis anos e isso não me faz estremecer. Você era meu mundo, sabia? Dei meu primeiro beijo em você e hoje faz seis anos, mas e daí? De que isso importa agora? Eu dava tudo pra te ter e você foi embora como se nada nunca tivesse importado, e não importou mesmo, mas é que cara, por mais besta que pareça, te olhando agora eu vejo que de certo modo foi bonito, foi intenso, só que eu exagerei demais nos efeitos especiais, transformei frases em livros, fiz de uma história de verão o romance da minha vida e nós não valemos tudo isso, você não valia tudo isso. E, caramba, nasceu um nó na minha garganta, mas eu não vou chorar não, porque já passou. Sabe? Acabamos e eu não coloquei o ponto final porque esqueci nossas folhas jogadas no fundo da gaveta, nos perdemos de vez em alguma dessas esquinas mal traçadas da vida e eu não senti sua falta, doeu tanto e depois cessou. Parou. Acabou. E agora eu to aqui parada na sua frente, com vontade de dizer tudo o que eu guardei pra mim nesses seis anos, mesmo sabendo que já não faz mais diferença, você é só alguém entre tantos alguéns que passaram pela minha vida e saíram sem marcar muita presença, porque a sua marca feriu e ferida cicatriza. Você cicatrizou. Eu cicatrizei. O amor estancou, que merda, o amor estancou e eu nem tive tempo de dizer que te amava. Eu te amei. Amei seu jeito moleque de ser homem, amei suas juras, seu toque, seus beijos. Amei todas as cenas e scripts que criei para nós, amei até mais do que devia, mais do que você merecia, e o mesmo amor que por tantos anos transbordou em mim e você nunca quis, é esse amor que se esgotou. Estranho né? Há seis anos, meu Pai do céu, há seis anos você era tudo o que eu mais desejava na vida e te olhando agora eu percebi que nada é tão eterno que a vida não possa apagar, esquecer. Mas é isso aí, foi bom te ver, quem sabe a gente não se esbarra de novo, só que agora eu preciso ir, tá ficando tarde e eu ainda tenho um bocado de coisas pra fazer, você deve ter também né. Tchau?
- Tchau.
- É.
- É. Então, feliz seis anos. Posso te ligar mais tarde?
(15/11/2013)

O Verão Em Que Tudo Mudou 2Onde histórias criam vida. Descubra agora