Um texto sobre como é ser a irmã mais velha

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Eu sei que isso vai parecer um pouco egoísta, mas eu confesso que de vez em quando queria que fosse só eu. Fico imaginando como seria a minha vida se eu não tivesse que ficar dividindo a minha atenção, o meu tempo e as minhas coisas com mais ninguém. No começo parece bom passar horas e horas em silêncio aproveitando a paz que só um filho único consegue saber como é, depois fica um pouco solitário não ter ninguém te atrapalhando e eu esqueço a ideia.

Talvez eu nunca tenha te dito, mas nem sempre é divertido ser a irmã mais velha. Pelo contrário! Às vezes a gente também quer sentir medo do escuro, do monstro embaixo da cama e do bicho papão. Às vezes também queremos pedir colo, conselho e deixar transparecer que não somos tão boas em tudo como vocês gostam de imaginar. Pra ser sincera, você é muito melhor que eu em várias coisas, mesmo que não saiba disso. Eu sei que a irmã mais velha costuma ser vista como aquela heroína dos desenhos animadas, mas a verdade é que às vezes a gente também prefere chorar em vez de fingir que está tudo bem, e algumas vezes eu só segurei as lágrimas por você. Dizem que isso é ser irmã mais velha, mas eu acho que é bem mais.
Confesso que é um pouco cansativo tentar errar o menos possível e ser o mais perfeito que der, porque tem alguém que te enxerga assim e se inspira em você. É cansativo se sentir responsável por alguém que, teoricamente, não é responsabilidade sua. Mas como é que a gente lembra disso quando vê que alguma coisa de ruim pode acontecer com aquela coisinha indefesa? E que vai ser indefesa pra sempre, porque pra nós, vocês não crescem nunca. Você é a minha coisinha. E eu sou grata por isso mesmo quando a gente briga e eu digo que preferia que cê não tivesse nascido. É mentira. Eu nem sei o que eu seria sem você. Como eu seria. Porque ser a primogênita tem lá seus pontos ruins, mas também tem um monte de outros bons.

Por exemplo, eu amo quando vejo um traço meu em você, quando sinto uma característica minha que cê admira aflorar aí dentro. Amo quando alguma coisa de muito importante acontece e você corre pra me contar como se eu fosse a pessoa mais importante do seu mundo. E é assim que eu me sinto. Também gosto quando você me pede socorro pra resolver os seus problemas mesmo quando nem eu sei como resolvê-los, e vou admitir que vez outra eu fico mais perdida que você e finjo estar com tudo sob controle só por saber que isso te dá segurança. Sabe aquela coisa de fingir que não tá com medo, só pra não assustar ainda mais o outro? Bom… acho que você, como irmão mais novo, não sabe, mas todo irmão mais velho eu tenho certeza que sim.

E apesar de ser um pouco irritante ter alguém te imitando, gostando das mesmas coisas que você, te provocando só pra ter um pouco de atenção e te dando cabelos brancos antes da hora, não tem nada melhor do que ter um irmão caçula. Mesmo nas horas em que eu berro enfurecida pra você “não mexer nas minhas coisas”, cê continua sendo o melhor presente que Deus me deu.

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