LIVRE, LEVE E SOLTA

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Ela é dessas que acredita em astrologia, mágica, tarô e vidas passadas, mas torce o nariz pra esse papo de metade da laranja. Meu amor, eu já sou inteira o bastante! Ela afirma enquanto pede mais um copo de cerveja e volta a se perder na pista de dança torcendo pra que ninguém a encontre. Ela não aprendeu a ser metade, acha que essa neura que a gente tem de ter de encontrar alguém pra se preencher é démodé demais.

Ela é do tipo que brinca e conta piada e discute política, mas quando o assunto é coração sai de fininho implorando pra não ser notada. O dela vai bem, obrigada, muito melhor que o dessa gente que vive dilacerado por relações unilaterais. Ela não se importa em ser solteira e tudo bem se acabar ficando pra titia, é que ela sabe bem que de nada adianta estar com alguém só por estar, se for por comodismo é melhor continuar solteira. Ela não entende e nem tenta entender esse pessoal que não consegue ser feliz sozinho. Pra ela, felicidade é um reflexo da nossa relação com nós mesmos. Ah quem diga que esse discursinho desprendido é disfarce pra um coração apaixonado, mas quem a conhece de verdade sabe que não. Ela só não faz o tipo que vive esperando pelo princípio encantado pra viver um conto de fadas.

Ela ri e desconversa com a maior naturalidade quando aquela tia chata pergunta no meio do almoço de domingo sobre os namoradinhos. A vida anda boa, ela diz, não to passando vontade nenhuma. Ela não quer achar alguém, não espera esbarrar no cara certo num dia qualquer e nem encontrar por acaso um pretendente enquanto espera o ônibus depois do trabalho. Nada de véu e grinalda e casa com cerquinha branca e flores no quintal ou jantar à luz de velas e pétalas vermelhas pelo chão, o sonho dela não tem nada a ver com isso. Ela quer viajar o mundo, melhor ainda se puder ser com as amigas. Quer sair na sexta e voltar no domingo sem ter obrigação nenhuma com qualquer pessoa. E isso não tem a ver com medo, é sobre liberdade emocional.

Ela lê romances e se diverte com os filmes de comédia de amor, mas afirma que essas histórias não nasceram pra ela, é tudo muito exagerado e pegajoso e cansativo. Ela sabe que pode ser feliz assim, sem ter um compromisso, e é. Quanto aos caras que sai, de vez em quando tem um aqui, um ali, outro acolá, mas quando começa a apertar o calo ela já sabe que é sinal de que tá na hora de mudar de sapato. Ela nasceu com a alma livre e não suporta a ideia de ser engaiolada, não consegue digerir a ideia de dormir e acordar todos os dias com a mesma pessoa e ter que aceitar manias que não são suas. Pode soar meio egoísta, mas ela nem liga pro que os outros estão pensando, ela só quer ser livre, leve e solta.

O Verão Em Que Tudo Mudou 2Onde histórias criam vida. Descubra agora