Cara, olha só como o mundo dá voltas

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Depois do nosso último dia eu sobrevivi a vários últimos dias, quando eu te vi virar a esquina e desaparecer levando consigo todos os planos que eu havia feito para nós, uma parte minha foi junto e eu não soube o que fazer sem ela. Eu fiquei incompleta, cara, e achei que não ia aguentar. Cê tem ideia do que é ter um buraco dentro de você e não saber como completa-lo? Você era a minha argamassa e eu comecei a ruir com a sua despedida. Passei noites encarando o teto vazio na esperança de que o celular tocasse e fosse você dizendo que sonhou com a gente e sentiu minha falta, mas nada acontecia, não chegava nenhum buquê de flores, nem encomendas especiais ou cartões de amor, nem mesmo um “pensei em você” meio sem graça em uma mensagem de texto e eu chorava um daqueles choros que doem na alma de tanta dor, como se desse jeito eu pudesse vomitar o enjoo que espremia a minha alma. Eu sentia tanto a sua falta, mas tanto, tanto, tanto que cheguei a achar que morreria com aquele vazio interno.

Foram meses cambaleando sobre a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, você voltaria. Fiz promessas de tudo quanto é tipo, te enviei textos de amor com a ilusão de que isso te faria mudar de ideia, mas raras foram as vezes em que você me respondeu com vontade de falar. Postei indiretas em todos os lugares possíveis, estampei pro mundo o quanto o meu mundo estava acabado, até as nossas músicas eu expus, mas nada fazia você se dar conta de que eu precisava de você, eu precisava muito, desesperadamente, porque eu estava sozinha e aquilo sangrava de um jeito que eu não sabia como curar. Enquanto eu clamava por mais uma chance em cima de mais um pote de sorvete, você enfeitava suas redes sociais com fotos sorridentes em lugares abarrotados de gente nova. Nesse meio tempo em que eu morria um pouco por dia, você mudou de amigos, aumentou o tamanho do seu sorriso e conheceu uma porrada de festas agitada. Até o corte você renovou. E eu só conseguia chorar ainda mais em cada vez que eu me dava conta de que o meu espaço em você tinha se tornado inexistente.

Demorei pra aceitar que todo o meu projeto de vida precisava ser modificado, eu já sabia até o nome dos nossos filhos e de repente não era mais você, de repente o homem da minha vida não era mais o homem da minha vida, mas ainda era eu, ali, e não dava para eu me abandonar. Sofri, muito, mais do que as pessoas achavam que eu deveria, mas quando as lágrimas secaram e o coração acalmou, eu vi aquele luto ir embora e senti uma necessidade anormal de sorrir. No fundo, eu não faço o tipo de gente que nasceu pra sofrer. Ergui as mangas e reformei a casa, se o coração é o nosso segundo lar, é nossa a obrigação mantê-lo livre de tudo o que machuca, aperta e estraçalha a alma, já tinha passado da hora de levar o lixo pra fora. Eu já não olhava mais os seus perfis, nem a sua última visualização, mal ouvia as nossas músicas e os textos de amor já não diziam mais tanto sobre a gente, teve um dia em que eu consegui jogar fora um punhado de recordações que alfinetavam a minha alegria e apaguei as nossas conversas. Um passo de cada vez, saco por saco, entulho por entulho, e eu estava livre de você. Não precisei provar isso pra ninguém, nem fiz questão de que ninguém soubesse, quando acaba de verdade não tem porque contar, e aqui dentro tinha acabado.

Até que teve um dia em que você percebeu que eu estava bem. Depois que as mensagens cessaram e as indiretas sumiram, cê se deu conta de que alguma coisa tinha acontecido, aí me ligou todo arrependido durante uma dessas tardes de domingo enquanto eu assistia o meu filme favorito na televisão e foi jogando pra cima de mim um monte de palavras vazias achando que ainda dava tempo de arrumar a sua bagunça, não dá não, ficou tarde demais, acabei percebendo que você ocupava espaço demais e coloquei o seu lixo pro caminhão levar. Sinto muito, cara, mas espero que você sinta mais.

O Verão Em Que Tudo Mudou 2Onde histórias criam vida. Descubra agora