Já é quase fim do dia e o tráfego está ficando cada vez mais intenso.
Desgrudo o rosto da vitrine e volto para o balcão. Sento na cadeira macia de veludo, e passo a mão sobre o tecido que está revestido no braço, é um toque suave e quente.
Como o dele.
Fecho os olhos e lembro do contato de nossas mãos e da intensidade do seu olhar. Suspiro e volto meus olhos para a vitrine novamente.
Pessoas e mais pessoas andam apressadamente pela calçada, cada uma delas perdidas em seus próprios pensamentos.
Aperto o braço da cadeira, desejando que fosse o seu braço. Provavelmente nunca mais irei vê-lo. Esse lugar é muito grande para um local ser visitado mais de uma vez. No máximo ele era um turista que já deve estar de volta às suas origens.
Ouço o sino da porta e vejo uma mulher e sua filha entrarem. Sorrio e elas vêm em minha direção.– Você poderia me ajudar a achar um livro que a minha filha tanto quer? – olho para a menina e a vejo perdida em meio a tantas histórias.
– Claro! Você veio ao lugar certo! Qual é o nome do livro?
– Eu não lembro direito mas acho que se chama Quarenta Tons de Quinta! Esses títulos de hoje em dia não fazem sentido algum!
– Mãe! O nome não é esse! – a menina gira seus calcanhares até nossa direção. – É Cinquenta Tons de Cinza!
– Qual é a diferença? Ainda não faz sentido algum para mim.
Observo as duas discutirem e escondo uma pequena risada.
– Cinquenta Tons de Cinza. – digo enquanto vou em direção até a prateleira onde se encontram os livros da trilogia.
Sei quase todos os lugares em que os livros mais famosos estão. – Aqui está! Você só quer o primeiro ou os três?– Existe mais de um? Bem Victoria, você só me disse um e vai ser esse que vamos levar.
Vejo uma carranca no rosto da menina, que logo é substituída pelo sorriso ao pegar o livro. Sorrio com a cena e retorno ao balcão.– São r$50, o preço do livro. – digo olhando para tela do computador e abrindo o caixa.
– Veja só a ironia r$ 50 para o 50 Tons de Cinza. – a mãe diz enquanto remexe dentro da sua bolsa. Sorrio com o seu comentário, nunca havia pensado nisso.
– Obrigada e voltem sempre! – digo no tom apropriado.
– Eu com certeza vou voltar para comprar os outros dois!– Victoria diz animada.
– Esses romances de hoje em dia tem cada nome estranho.
Se ela soubesse...
Me afundo na cadeira novamente e olho em volta para ver se está tudo organizado. Está na hora de fechar.
Dou um último suspiro sentindo o cheiro dos livros e vou em direção à porta. Configurando alarme e trancando-a.
Olho para o balcão que agora está escuro e vejo ele lá. Sob a luz da manhã. Com seus cabelos pretos e cortados, seus olhos intensos, e sua boca deliciosamente rosa.
E me despeço.
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Quando Você Me Toca
ChickLitO que fazer quando ficamos entre o prazer e a consciência?