Observo-o andar lentamente em minha direção, como um predador que está prestes a capturar sua caça.
– O que você está fazendo aqui? – digo automaticamente, e quando me dou conta do que digo, uso o tom de voz profissional. – Quero dizer, boa tarde, em que posso ajudá-lo? – dou um pequeno suspiro. Ele acha graça do meu vacilo e dá um pequeno sorriso com o canto da boca.
– Não sei se você pode me ajudar. – ele apoia as mãos no balcão, a única coisa que impede de ficarmos cara a cara. – Eu ainda estou faminto. – Bruce diz lentamente.
Tenho a sensação de que minhas roupas ficaram quentes demais e reprimo a vontade de tirá-las. Seria uma cena e tanto.
Ele nem sequer pisca! Continua a me encarar, a espera de uma resposta. Ele quer jogar. Mas não vou pelo mesmo caminho.
– Suponho que esteja faminto por leitura? É o que eu tenho para oferecer.– minto, e aponto para os livros.
Seu sorriso se expande e ouço o que mais se parece com uma risada baixa. Sinto vontade de rir mas viro o rosto e escondo meu sorriso.
– Poderia ser, mas eu vim até aqui para descobrir qual é o almoço do dia, e quem sabe usufruir do mesmo com você.
– Desculpe? Acho que você errou de local, não estamos em um restaurante.– digo com escárnio.
– Que boquinha inteligente. Mas você sabe exatamente do que estou falando. Não sabe? – ele diz e desce o seu olhar para o meu corpo. Que se arrepia em resposta.
Eu sei? Depois desse olhar eu não sei mais.
– Terminei meu almoço faz uma hora. Você chegou tarde demais. – gostaria que não o tivesse feito. Foi só por isso?
– Sim, foi só por isso. Não foi dessa vez. – Bruce continuou a me encarar e eu achei que ele diria mais alguma coisa, mas apenas se virou e começou a caminhar até a porta.
Me imaginei correndo até ele e o agarrando para devorar sua boca. Eu não faria isso. Ele virou novamente prendendo a minha atenção. – Tenha uma boa tarde.– e então, deu uma piscadela e foi embora.
Aquela piscadela foi tão sexy que eu realmente considerei correr até ele, mas como eu disse anteriormente, eu não faria isso.
Queria contar para Sirena o que havia acontecido esses últimos dias, mas ela iria pedir um relatório sobre Bruce, e eu não sabia absolutamente nada sobre ele. Apenas o seu nome, o que não ajudava muito.
Passei o resto da tarde limpando o estoque, reorganizando os livros, não apenas por categorias, mas realmente os reorganizei por cores e depois de terminar, realmente gostei do que vi. Pareciam mais chamativos agora. Espero que isso funcione.
Decidi passar o restante dos minutos até fechar, lendo. Eu tinha uma meta de leitura, e esperava atingi-la, ou ultrapassá-la. Só havia lido cinco livros, e já estava no fim de Abril.
Comparado ao ano passado, isso já era um bom progresso. Passei a maior parte do tempo em, como dizem, uma ressaca literária. Eu odiava isso, mas a única coisa que poderia fazer, era dar tempo ao tempo.
Ao terminar o capítulo, dei uma pausa e percebi que já havia passado quinze minutos da hora de fechar.
As ruas já estavam escurecendo e apesar da livraria estar em uma rua movimentada, a noite não era do mesmo jeito. Já ouvi notícias de assaltos por perto e não gostaria de passar por alguma situação parecida. Fitei a rua pela vitrine e algumas pessoas ainda passavam por ali. Me apressei em apagar as luzes e ligar o alarme. Dois minutos depois de pisar na calçada, um táxi apareceu, o que foi um alívio pra mim.
Alívio até chegarmos na metade do caminho e ficarmos presos no engarrafamento novamente.
Reviro os olhos e surge uma súbita vontade de sair do táxi e ir andando, mas a chuva está caindo e não deve parar nem tão cedo.
Pego meu celular e vejo alguns emails que esqueci de checar mais cedo. Livros novos vão chegar amanhã. Ótimo. Respondo-os e vou nas mensagens.
Sirena...
Mãe...
Bruce...
Releio as mensagens de hoje cedo e lembro do que ele fez hoje. Decidiu responder pessoalmente. Quem faz isso? Por que ele fez isso?
Megan: Por que você fez aquilo em vez de simplesmente responder aqui?
Digito e observo a mensagem por alguns segundos, até apagá-la e fechar nossa conversa.
Abro minha conversa com Sirena.
Megan: O que você está fazendo? Por favor, venha me salvar! Estou presa no engarrafamento! :(
Sirena: Não me peça um sacrifício desses! Você sabe que eu sou uma sereia, e sereias não podem entrar em contato com a água em público!
Sorrio ao ler essa mensagem. Seu nome tem o significado de sereia na língua espanhola, então ela leva ao pé da letra.
Megan: Tudo bem então, Aquamarine! O táxi até começou a andar novamente. Seus poderes de sereia funcionaram.
Sirena: Eu sempre soube que iam! Aliás, o que acha de irmos ao shopping amanhã?
Megan: De onde você tirou isso? Não tinha nada a ver com o que estávamos falando, e o que exatamente você quer fazer lá? Amanhã é sábado, vai estar lotado.
Depois da minha mais recente experiência na loja de roupas, tudo o que eu menos quero é ficar em lugares lotados novamente.
Sirena: Ah você sabe, andar, se distrair, comprar algumas roupas. Lembra que o Jimmy disse que teria uma festa em breve? Você mal compra roupas novas para você!
Megan: Calma aí! A festa é só semana que vem, temos muitos dias pela frente. Mas por você ser tão apressada que nasceu de cinco meses, eu irei com você amanhã. Mas se estiver lotado, você vai me carregar nas costas!
Sirena: Ótimo! Amanhã te digo o horário! :D
Megan: Mas tem de ser depois do meu turno! Amanhã chega coisa nova e eu não posso sair mais cedo. Beijos!
Guardo o celular e volto a olhar através da janela do táxi e o peço para parar quando reconheço a rua em que estou.
Apresso em procurar minhas chaves, antes que a chuva me deixe ensopada, e finalmente entro.
Depois de um maravilhoso banho quente, de uma mini faxina na casa e de jantar, me acomodo no sofá, e coloco meu seriado favorito, How I Met Your Mother.
Depois de dois episódios e meio, já não consigo mais lutar contra o sono, e decido dormir ali mesmo.
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Quando Você Me Toca
ChickLitO que fazer quando ficamos entre o prazer e a consciência?