Ouço uma música longe e ignoro-a. O que talvez tenha sido segundos depois, o som retorna mais alto.
É o meu despertador.
Faço uma carranca agarro o celular para desligá-lo.
Eu gostava da Beyoncé até ter sua música como toque do meu interruptor de sonhos.
Levanto e vou tomar um banho quente que só intensifica o meu sono, mas isso não me impede de me arrumar e passar trinta minutos na frente do espelho tentando arrumar meu cabelo rebelde. Apesar de não ter muita paciência com ele, eu não o cortaria por nada nesse mundo.
Como um pouco de granola, uma banana e um copo com suco de laranja, e depois pego minhas coisas para poder ir trabalhar.
Moro a 20 minutos de distância, geralmente vou andando, ou pego um taxi pelo menos cinco vezes no mês.
O ar gelado lambe meu rosto, e me faz apertar meu casaco em torno do meu corpo.
Hoje está mais frio que o normal, mas as visões dos lugares até o meu trabalho compensam a caminhada gelada.
Mesmo com o denso movimento de táxis e pessoas, eu consigo capturar a beleza e essência que só o Central Park têm.
Quando estou na metade do caminho, algo me faz pegar o celular e a primeira coisa que meus olhos vêem é o nome Domingo escrito na tela.
Porra.
Hoje é a minha folga.
Você deve estar pensando "quem diabos não conta os dias da semana para finalmente chegar a folga?"
Esse sempre foi o tipo de trabalho dos meus sonhos, quero dizer, passar o dia rodeada de livros e dando indicações de leitura para as pessoas? Eu não posso reclamar, poderia ir todos os dias, não seria um problema.
Se você trabalha com o que ama, então você não está trabalhando.
Em vez de ir para casa, paro em um café para comprar croissants.
A fila está um pouco grande, mas não me importo, apenas aguardo a minha vez.
Mexo distraidamente no celular, respondendo alguns amigos, quando não me dou conta que sou a próxima a ser atendida.– Devia prestar mais atenção nas coisas. – uma voz grossa chega em meus ouvidos e meu corpo se enjirece.
– E você devia cuidar da sua própria v... – me viro para discutir com o homem e perco a voz. – vida. – sussurro.
É ele.
Ele está tão próximo que consigo sentir o cheiro do seu perfume masculino. Devo estar com a maior cara de idiota nesse momento. Retiro uma mecha imaginária do meu rosto e me viro para ser atendida.– Bom dia para você também. – ele sussurra e meu corpo se arrepia agora que reconhece de quem é a voz.
– O meu estava ótimo.– minto. Claro que melhorou, mas ele não precisa saber disso.
– Eu estraguei?– imagino seu sorriso sarcástico enquanto a moça me entrega minha sacola.
- Bom dia para você!– digo e vou em direção à saída.
– Ei! Espere!– ele diz no momento em que eu agarro a maçaneta. Eu congelo.
O que ele quer agora?– Gostaria de sentar e tomar um café comigo?
O quê? Não!– Eu não gosto de café. – digo rapidamente, quase tropeçando nas palavras.
- Não precisa levar ao pé da letra. Há várias outras coisas para ingerir aqui.
Você está incluido? Descarto esse pensamento.
– Tudo bem então. Menos que meia-hora. – digo sem olhar em seus olhos e o sigo.
Ele escolhe uma mesa um pouco distante das outras e sentamos ao mesmo tempo.
Levanto meu olhar e o vejo me encarando. Desvio o olhar para a grande janela que há do nosso lado.– Então... o que você faz para se divertir? – ele pergunta enquanto toma um gole do seu café.
– Uma pergunta um tanto inesperada. Bom, eu leio.
– Só? – quando levanto o olhar, vejo que uma de suas sobrancelhas está arqueada.
– Isso mesmo. Não costumo sair muito.
– Falar também, não é? – ele zomba de mim. – Tem de se divertir. O que acha de marcarmos alguma coisa qualquer dia desses?
Mas hein?– Não acho que seja boa ideia. Eu trabalho.
– E você acha que eu não?– ele sorri. – Em uma de suas folgas. É só me dar seu número que eu te chamo depois.
Começo a encará-lo e meus olhos descem para sua boca.
Mantenha o foco!
Meus olhos descem até meu celular e vasculham meu número. Começo a ditá-lo enquanto ele anota.– E o seu nome é? – Ele pergunta ainda olhando para o celular.
– Megan.
– Tudo bem, Megan! Então está marcado, hein!
– Tenho que ir agora. – digo e levanto. Ele levanta em seguida.
– Foi um prazer te conhecer, Megan.
Ele estende sua mão e eu a aperto. E lá está aquela sensação suave e quente novamente.
Levanto meu olhar e vejo uma expressão séria em seu rosto, quase autoritária e isso me faz murchar um pouco. Ele é intimidador e deve saber disso. Sou a primeira a quebrar o contato visual.
Solto sua mão, dou um sorriso forçado e ofegante e vou até a saída, sem olhar para trás.
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Quando Você Me Toca
ChickLitO que fazer quando ficamos entre o prazer e a consciência?