Capítulo 6

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Cheguei na livraria vinte minutos mais cedo.
Estou animada para saber quais as novidades que vão chegar hoje, e quais livros irei adicionar à minha lista de leitura em meu celular. Isso mesmo, em meu celular. Minhas prateleiras de livro estão cheias, prestes a arrancar a parede se um ou dois livros forem adicionados, e não quero dar prejuízo ao proprietário.
Enquanto não compro uma estante, uso aplicativos de leitura, que são maravilhosos. Principalmente para ler durante a noite.
Depois de passar um tempo esperando, decidi ir em uma padaria, mal comi hoje cedo e meu estômago está reclamando desde que cheguei. Vai ser uma rapidinha. Tenho certeza que eles não vão vir tão cedo.
Enquanto estou na fila, não consigo resistir a vontade de ficar o tempo todo analisando o ambiente e as ruas. Por que estou fazendo isso?
Você sabe muito bem o que está procurando! Meu subconsciente grita. Ignoro-o e volto meu olhar para a fila. Isso é bobagem. Como as pessoas dizem, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Estou no local onde encontrei Bruce, perto da mesa onde nos sentamos, que agora está ocupada por um tipo de CEO, que me olha de volta e dá um pequeno sorriso antes de se virar e se concentrar no celular. Ele está tendo algum tipo de discussão, no qual eu tento ouvir, mas a minha vez de ser atendida chega. 
Depois de fazer meu pagamento, vou para a calçada e o caos de buzinas e motores começa novamente.

– Moça! – ouço uma voz masculina atrás de mim. É o suposto CEO.
O que essa saída tem? Imã para homens? 

– Você deixou isso cair. – ele sorri e estende a mão e vejo dinheiro em sua palma. Checo meu bolso e vejo que realmente é meu.

– Eu sou tão desajeitada! Obrigada por avisar! As pessoas geralmente somem com isso! – digo e dou uma risada.

– Você é nova aqui? Eu não te conheço. – diz em um tom casual.

– O que você quer dizer com eu não te conheço? – faço aspas com os dedos para a sua frase.

– Oh, eu costumo vir aqui, às vezes passo um tempo, e nunca te vi. 

– Entendi. Bem, faz uns meses que me mudei para cá, então eu diria que sou! E não costumo vir aqui. – digo e sorrio. Meu celular vibra interrompendo nossa conversa. É uma mensagem do meu chefe perguntando se os livros já chegaram. 
Os livros! Eu havia esquecido! 

– Desculpe, mas eu tenho de ir agora!– digo apressadamente e não dou chance do homem se despedir. Melhor ele não se despedir do que me despedirem.

Ao virar a esquina, dou de cara com três rostos nada satisfeitos. Estou encrencada? Espero que não.

– Bom dia para vocês! É bom revê-los novamente! – digo no tom mais doce possível.  

– Bom dia, Megan! Doce como sempre. – diz um dos carregadores, Trevor.

Enquanto abro a livraria, eles começam a organizar os pacotes destinados. Digito uma mensagem rápida, avisando que chegaram e conecto o celular ao carregador.
Quando vejo a pilha de pacotes na minha frente, vejo que hoje tenho realmente trabalho a fazer. Nessas horas sinto a importância de ter alguma assistente ou uma pessoa a mais, mas isso me traria alguma dor de cabeça. 
Uma das partes desagradáveis é a hora da reposição, e hoje é dia da segunda reposição que faço. Analiso a planilha com todos os livros que estão na loja em um intervalo de dois em dois meses. Os que venderam menos, infelizmente vão embora, dando espaço para os lançamentos, e principalmente, os que estão fazendo muito sucesso. 

– Baixinha, gostaria de alguma ajuda hoje? – Trevor me pergunta. Recusei na vez passada, e pela sua expressão, ele provavelmente pensou: "meu Deus, como esta criatura frágil vai conseguir organizar isso tudo?". 
Estou pensando em aceitar sua ajuda hoje. Eu ainda preciso de energia para aguentar Sirena e sua eletricidade infinita no shopping. 

– Você deve ter muito trabalho para fazer ainda, Trevor! Não quero atrapalhar, eu posso dar conta disso. E eu não sou baixinha!Apenas estou um pouco atrasada! – Assim que o conheci, ele me chamou de baixinha e em momento algum se referiu a mim pelo meu nome. Não me incomodei com isso, apenas repreendo-o por brincadeira.  Lá no fundo, estou torcendo para ele insistir. Os outros dois ficam parados na porta olhando e esperando uma resposta. Não os conheço, trocamos apenas algumas palavras, diferente da minha comunicação com Trevor.
Ele deve estar lá em seus 40 anos, com seu olhar simpático, barba grisalha e sua calvície sendo escondida pelo boné da empresa.

– Ah que nada! Podem dar conta disso, olhe para eles, são novos e estão em dose dupla! Não é rapazes?– os dois fazem um tipo de comunicação com o olhar e acenam com a cabeça, concordando com Trevor. – Então está decidido. Ligo para vocês quando o trabalho aqui terminar.
Ótimo! Mas não irei abusar da ajuda do bom homem. 

Vou até a porta e viro a placa de aberto para fechado, os clientes só vão retardar ainda mais o procedimento. Enquanto retiro os livros da prateleira, Trevor abre as caixas e as esvazia, para dar lugar para os que estou removendo. Depois que terminamos essa ação repetitiva, dou de cara com uma verdadeira montanha de livros, de todos os tipos, e fico encantada com a visão. 

– Olhe para tudo isso, Trevor! Como existem pessoas que não gostam de livros? – digo sorrindo.

– Não sei, baixinha! Só sei que existem dois tipos de pessoas em relação a isso: as que gostam de ler, e as que gostam de ver, e uma minoria das que gostam de ouvir. Eu estou no grupo dos filmes! – ele diz e solta uma risada baixa.

– Eu entendo! 
Chega de ficar analisando, hora de organização.

Terminamos por volta das 10:40 e a satisfação em nossos rostos eram evidentes. As prateleiras estavam lindas e recheadas, diferente do meu estômago que já estava vazio e pedindo por comida. Do outro lado da rua havia uma hamburgueria onde você podia escolher os ingredientes. Eu não queria algo pesado, se não, no almoço eu não teria fome. E também não poderia demorar muito, quase me ferrei mais cedo.

– Trevor, vou naquele lugar do outro lado da rua, estou com fome! – aponto para o estabelecimento. –  Você poderia esperar alguns minutos?

– Claro baixinha! Não vou a lugar algum enquanto você não chegar! 

Saio em disparada até a outra rua e agradeço silenciosamente ao ver através do vidro que não terei de enfrentar uma fila.

– Olá, bom dia! Em que posso ajudar? – a atendente do outro lado sorri docemente para mim.

– Bom dia! Eu gostaria de dois hambúrgueres! No primeiro eu quero apenas um hambúrguer, tomate e alface! No segundo, você pode caprichar!

– Quais ingredientes quer no segundo? Se você quiser, temos um cardápio! – ela diz enquanto pega um e me entrega.

Eu não pensei no que eu colocaria no de Trevor, e se eu o perguntasse, ele provavelmente diria que não estava com fome.

– Tudo bem, quero um desse! – aponto para um hambúrguer que eu com certeza não comeria sozinha.

Depois de dez minutos, volto para a livraria e tenho a reação que eu esperava.

– Baixinha, não precisava! 

– Eu sabia que você iria negar, então não o perguntei! Alguém terá de comer essa belezinha aqui! – digo entregando-o.

– Sinto muito em te dizer que não vou poder ficar para te fazer companhia! Os garotos me ligaram e eles precisam de mim, já estão a caminho.

– Tudo bem! Você fez mais do que o necessário e eu sou muito grata por isso! Obrigada, Trevor!

– Que nada! Isso foi besteira, agora tenho de esperá-los na esquina, tudo bem para você?

– Claro! Bom trabalho para você!

– Até mês que vem, baixinha! – ele bate continência, o que me faz rir. E então vai embora. 

(...)

– Te disse, Sirena! Olhe só para esse lugar, mal dá pra andar por aqui! O que você tem com lugares apertados?

– Deixa de frescura, Megan! Vamos logo com isso, quando mais rápido formos, mais coisas veremos!
Obrigada, Trevor! Por poupar minha energia para vasculhar todas as lojas! 

Depois de provar tantas roupas, me senti uma verdadeira manequim. Saímos às onze horas, e como já era esperado, Sirena estava com umas cinco sacolas, na minha visão. Não dava para ver através delas.

– Eu te disse que precisaria daquele carrinho que estava no estacionamento! 

– De onde surgiu ele? Aqui não tem supermercado.

– Provavelmente uma pessoa viciada em compras o trouxe até aqui. Você deveria usufruir também.

– Cale a boca e me ajude aqui! Você só está com duas! – ela disse e jogou mais duas para mim. 

Quando subi para a minha casa, tudo o que eu conseguia enxergar era a cama e ela parecia mais confortável que o normal.
Depois de tomar um banho quente e relaxante, me joguei na cama e fiquei feliz por saber que eu poderia ultrapassar meu horário de sono, afinal, eu não iria trabalhar. 
Então eu apaguei.

 

Quando Você Me TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora