Cap. 1

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Ela era linda.

Todos os dias eu a observava, com cautela para que não percebesse e achasse que sou uma psicopata. Seus cabelos cacheados tinham um corte em camadas que dava uma leveza ao seu belo rosto, sua boca carnuda muito bem desenhada me hipnotizava e eu poderia passar horas admirando seus belos lábios. Seu corpo parecia ter sido esculpido por um artista da Grécia Antiga. Tinha 1,65 de altura, sua pele negra reluzia como ouro, sua presença me deixava em êxtase.

Meu corpo reagia a cada movimento seu, mesmo ela estando do outro lado do patio eu podia sentir seu perfume pouco adocicado. Eu queria tê-la em meus braços, fazê-la a mulher mais feliz deste mundo.

Isso é clichê, eu sei...

Meu desejo por ela aumenta mais a cada dia que passa, quero tê-la comigo por toda vida e ama-la... Amá-la intensamente.

Assisti as aulas ansiosa para que o intervalo chegasse logo. Quando por fim o sinal bateu e o Sr. Johnson se despediu da turma pude sair em disparada direto para o pátio, mas para minha surpresa ela não estava lá.
Uma onda de tristeza me invadiu, minhas pernas ficaram bambas e meus olhos lacrimejaram.

"Por que? " "Será que ela está doente? " "Ou mudou de escola? "

Todos esses pensamentos invadiram minha mente. Ainda um pouco fraca caminhei pelo pátio em direção ao banco que me sento todos os dias para admirá-la. Mas hoje era diferente... ela não estava aqui.

— MARIE! MARIE!

Ana me tirou da penumbra que havia tomado conta do meu ser.

— Oi Ana. — a tristeza em meus olhos poderia ser notada por qualquer um, e mais ainda por Ana.

— Você saiu feito uma louca da sala, o que houve?

Não respondi.

— Ok! Ok! — continuou — Já sei o que aconteceu. Ela não veio hoje, por isso está assim tão triste não é?

Apenas balancei a cabeça confirmando o que ela acabará de dizer. Então ergui meu rosto para fitar Ana, seus olhos azuis me observavam a espera de uma resposta.

— Eu não consigo mais controlar o que sinto por ela. Pensei até em me mudar com a esperança de que assim eu possa esquecer essa garota, mas não dá. Simplesmente não dá! — falei tudo que estava entalado em minha garganta a tanto tempo.

— Então fala pra ela sua boba.

Mesmo nos piores momentos Ana conseguia arrancar um sorriso meu. Éramos amigas desde a infância e de lá pra cá ela sempre esteve ao meu lado, inclusive quando me assumi para meus pais.

— Não é tão simples Aninha. Ela é hetéro e não quero me machucar outra vez. —meu mal estar havia passado.

— Olha só Marie, é a primeira vez em anos que te vejo assim tão apaixonada por alguém. Tenta e se não der certo é só seguir em frente. — sorriu e saiu me deixando mais uma vez à mercê de meus pensamentos. 

Helena

Mais uma noite acordada, tudo outra vez. A boca seca, o coração acelerado, a tremedeira, a imensa sensação de estar afundando cada vez mais.

O relógio em cima de minha escrivaninha marca seis horas em ponto.
Meu corpo esta tão pesado que eu poderia passar horas, o dia todo aqui, deitada. Toda a energia que eu tinha foi embora com tudo de bom que havia em meu peito e em minha mente.

— Hora de sorrir e fingir estar bem! — digo para mim mesma em voz alta. Me levanto, vou até o banheiro, meu banho demorou mais do que o necessário. Aquela água caindo sobre meu corpo parecia levar embora todos os meus problemas e frustrações. Quando sai fui direto ao meu guarda e peguei a primeira peça que encontrei, agora estou vestida com uma calça jeans preta, uma blusa cinza com o desenho de alguma banda de rock que desconheço, tênis preto e cabelos soltos. Eu amo meus cabelos soltos, é como se eu pudesse ser livre como eles.

Peguei minha mochila e sai.

No caminho para escola percebi que eu não saia a tempos, parei em frente ao parque fiquei a observar as pessoas, algumas estavam lendo, outras estavam brincando com seus animais, havia uma mãe brincando com seu filho, uma moça a minha esquerda ouvia um rock pesado e mesmo estando de fones eu podia ouvir a música, e mais distante embaixo de uma árvore tinha uma menina sozinha, seu olhar parecia triste como o meu. Tive uma imensa vontade de ir lá e conversar com aquela menina, mas a minha timidez mais uma vez me venceu.

O tempo foi passando e quando me dei conta já tinha se passado mais de uma hora, o que significa que eu havia perdido as primeiras aulas. Decidi que não iria à escola hoje.
Caminhei até uma biblioteca que tinha no meu bairro. Chegando lá senti uma paz tomar conta do meu ser. Aqui era o único lugar que eu poderia sentir essa calma. Sempre fui apaixonada por livros, quando criança ao invés de ficar na rua como a garotada eu passava horas nesta biblioteca, desde então este é meu lugar preferido, meu refúgio. Passeando pelos corredores avistei um dos livros que mais gosto; Os elefantes não esquecem da Agatha Christie. Realmente, eu sou encantada por este livro, toda a história me prendia de uma forma que não podia explicar.
Procurei a mesa mais distante que havia no local, e fiquei lá, me deliciando com toda aquela aventura.

Espero que gostem meus amores. Críticas são sempre bem vindas, então se tiverem alguma sugestão para mim estarei a disposição! <3

Nos cachos de HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora