3. 19 minutos

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– É complicado. – Respondeu, enquanto dançava uma música francesa eletrônica.
– Por que é complicado? – Perguntei.
Alison não respondeu. Apenas se virou para Will e começou a dançar com ele, como se eu não existisse.
Por sorte, eu chamava atenção pela minha cor de pele. Dois rapazes começaram a dançar comigo, mas eu me afastei. Até que uma menina se aproximou, mas só ficou perto o suficiente quando teve certeza que estávamos dançando juntas e que ela não levaria um fora. Os quatro que haviam entrado na sala de tinta saíram impecavelmente desenhados e pintados.
A menina que estava comigo sorriu, mostrando os dentes perfeitos e olhou para a sala, sugerindo para que fossemos até lá. Fomos. Quando Alison olhou, eu já não estava mais lá.
A sala, uma parte era como um estúdio de tatuagem e a outra estava escura. Haviam três pessoas na fila para os artistas pintarem, mas quem quisesse poderia se pintar sozinho.
– Qual o seu nome? – Perguntei, finalmente.
– Victória, mas pode me chamar de Torie. E o seu?
– Emily.
– Meu nome preferido. – Sorriu. Ela tinha um sotaque britânico, o que fazia com que ela fosse mais sexy do que já era. Longos cabelos claros cobriam suas costas, unhas não muito cumpridas pintadas de vermelho, olhos castanhos e o queixo que lembrava o da Alison, dividido no meio. Sorri de volta. Eu queria conversar, flertar e mostrar que também era interessante e namorável.
– O que você faz sozinha nessa festa?
– Esperando que alguém seqüestre minhas indignações e me mostre como se divertir.
– Não vai ser difícil... – Chegou mais perto de mim e colocou sua mão em meu pescoço – A parte de seqüestrar... - Sorriu, como se tivesse brincado com as palavras e se aproximou mais.
Alison abriu a cortina e a porta.
– Emily, eu estava te procurando. – Afirmou.
– Por que? Você não estava dançando com o Will? – Perguntei, sem me separar de Torie.
– Vem, vem dançar comigo. – Afirmou, não era um pedido.
– Não. Estou ocupada. – Apontei para Torie.
– Pode me usar a vontade para fazer ciúmes para ela. – Sussurrou.
Os olhos de Alison começaram a ferver de raiva.
– Vem logo, Emily!
– Não. – Franzi a testa, tentando mostrar o quão estranha ela estava. – Vai lá com o Will. – Me sentei na cadeira. Alison saiu.
Pintaram "Emirie" na vertical de nossos braços. Emily + Torie. Era apenas algo para Alison ficar mais irritada. Torie era legal, parecia que não se importava de eu não estar ali por ela e sim fugindo de outra.
– Então, ela é sua namorada?
– Na verdade, começo a duvidar se ela tem alguma vontade de me beijar. Namorar já é algo que eu nem me iludo mais. Mas... Já que estou aqui, vamos aproveitar?!
– Fico muito feliz por ela não ficar com você. Você me é muito interessante. Azar dela. Sorte minha.
– Quer saber? Concordo com você. – Eu realmente concordava, mas minha vontade era de ir atrás de Alison. – Diversão? – Contrariei meus sentidos.
– Diversão! – Estendeu um pote amarelo de tinta de neon para mim e fomos para a parte escura, que não era tão escura quando se estava nela.
Torie começou a escrever ao longo do vestido escuro que eu vestia, enquanto eu destruía o penteado dela, passando a tinta.
– Sabe que você está desfazendo todo o trabalho que eu tive para arrumar hoje, né? – Perguntou, se referindo ao cabelo.
– Acho que sim. E o que você vai fazer em relação a isso? – Ri, enquanto esperava ela pensar numa resposta.
– Sou obrigada a destruir o seu também. – Victória colocou as mãos nas laterais do meu rosto. Nossos rostos estavam muito perto. Eu estava nervosa e ansiosa. Victória tinha um olhar e um sorriso conquistador estampado. Nossos narizes se encontraram.
– Er... Acho melhor a gente voltar para a pista de dança.
– Está desconfortável em ficar aqui comigo ou quer ficar de olho na sua garota?
– Digamos que um pouco dos dois.
– Hum. Pelo menos você é direta. Gosto assim. – Olhou para a tinta e depois para mim. – Mas ainda preciso te dar o troco.
– Como quiser. – Estendi o pote para ela.
– Estou brincando. Você sempre leva as coisas tão a sério?
– Basicamente.
Saímos da sala das tintas. Alison estava sentada conversando com Simone.

– Você está sozinha aqui? – Perguntei.
– Vim com meu amigo, mas ele está ocupado nesse momento. – Apontou para Giuseppe e um branquelo de touca.
– Ah... - Não sabia mais o que falar.
– Pensei que não ia mais sair de lá. – Comentou Alison.
– Pensando seriamente em voltar.
– Não era para fazermos a viagem "juntas"? – Perguntou, ignorando totalmente a existência de Torie.
– Eu que deveria perguntar isso. Mas quer saber? Eu estou começando a me divertir. A intenção maior não era a diversão? Pois então... - Falei ironicamente e visivelmente irritada com a falta de atenção que ela havia dado.
– Então, ta. Não vou ficar atrás de você.
– Como se você fizesse isso sem algum interesse. – Sorri sarcasticamente. Alison conteve a postura, pegou a bolsa discretamente na mesa e foi ao banheiro.

Eu e Torie sentamos em uma mesa separada dos outros.
– Sex on the beach?
–Sex on the beach! – Fizemos nossos pedidos de bebida. Depois de alguns minutos, olhando para a porta do banheiro, eu comecei a ficar preocupada.
– Pode ir. – Afirmou gentilmente.
– Já volto. – Me levantei e fui até o banheiro. Ela estava bem na entrada, onde haviam alguns sofás, entre a porta de entrada para os banheiros e a porta para os boxes.
– Ali?! – Exclamei ao vê-la.
– Sabia que você ia vir. – Sorriu, depois riu com ironia. – Não importa com quantas pessoas você tente me substituir, você sempre volta para mim. – Olhou para o relógio. – 19 minutos você demorou para vir. – Se levantou.
– Só vim ver se você estava bem. – Virei as costas.
– Você não vai me deixar aqui, Emily.
– Você está ai porque você quer.
– Eu estava esperando você largar aquela garota.
– "Aquela garota" tem nome.
– Ai, pouco me importa.
– Você nunca vai gostar de mim, né? Sempre vou ser sua marionete, que faz tudo o que você quer.
– Não fala besteira, Emily.
– Então me explica, pois é difícil de entender.
Alison deu dois passos para frente e me beijou, mas me afastei logo em seguida.
– Para alguns, isso pode ser uma resposta, mas vindo de você, só me gera mais dúvidas. – Me virei novamente e dessa vez Ali não me impediu de sair.
Voltei para mesa.
– Quase fui ver se estava tudo bem.
– Ela me beijou.
– E o que você está fazendo aqui? – Perguntou, inconformada.
– Eu não faço idéia do que a gente está fazendo. Eu e ela. Parece que nunca vai dar certo.
– Percebi. – Fez uma pausa e apontou para a porta. – Ela está indo. – Me virei automaticamente para ver. Torie pegou um papel e anotou o número do celular. Me entregou e disse – Me liga se precisar. – Beijou o canto da minha boca e saiu. Lembrei da Maya, minha primeira namorada. Tinha acontecido algo parecido. Fui atrás de Alison. Consegui chegar a tempo de entrar no mesmo taxi que ela. Não nos falamos até chegar na pousada.
– Boa noite. – Consegui dizer, enquanto caminhava até meu quarto.
– Boa noite. – Abriu a porta do quarto e entrou.
Três quartos nos separava. O clima estava agradável para a época do ano.
Alison tomou banho e se deitou. A cama parecia muito grande para seu pequeno corpo.
"Que droga, Emily!" – Pensou Alison, ao se levantar e ir até a porta do meu quarto.
Abri a porta. Queria sorrir, mas pareceu inapropriado. Ela nada disse, apenas entrou como se fosse o dela e deitou na cama. Observei a cena e apaguei a luz.
Estávamos deitadas de lado, uma de frente para outra. Encostei a ponta dos dedos no rosto dela e fiz o contorno. Sentia que ela me olhava, mas só tive certeza quando me acostumei com a escuridão.
Ali chegou o mais perto que pode de mim. Meus pelos se arrepiaram. Eu sentia a respiração dela. Ela colocou a mão em minha cintura. Fiquei com a respiração descompassada, até que a beijei.
Ali apertava minha cintura e eu sua nuca. Ali fez força sutilmente, até ficar por cima de mim.
A gente se olhou. Sorrimos e voltamos a nos beijar demoradamente. Algum tempo depois Ali deitou a cabeça em meu ombro e dormimos.
Acordei com o despertador. Era hora de levantar e conhecer os pontos turísticos de Paris. Olhei para Alison que ainda estava de olhos fechados. Ela não havia se movido desde que pegara no sono.
"E se ela só veio aqui ontem por que estava bêbada?"
O despertador tocou. Eu abri os olhos.
Alison não estava lá.

Emison em 8 tonsOnde histórias criam vida. Descubra agora