Capítulo 17

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É fim de semana e decidi voltar á casa dos meus pais, eles têm estes dois dias livres de trabalho e ainda conseguimos com que o meu irmão e o seu namorado nos viessem visitar, portanto isto é um grande feito para mim. Sei que estou a nadar em trabalho mas não acho que vá deixar de estar, portanto vou aproveitar enquanto ainda não me estou a afogar em responsabilidades para passar tempo com a minha família. Como não tenho carro, vou ter de ir de autocarro e não estou pronta, enjoo sempre quando ando de autocarro, mandem ajuda.

É a primeira vez que fico mais do que algumas horas longe do meu companheiro de apartamento, desde o inicio do ano, não sei bem como vai ser. Acho que não me vai custar, é algo natural e são só dois dias, isto é canja. Não é caso para andar a chorar pelos cantos só porque não tenho aquele gostoso comigo, até fico feliz por ter espaço para pensar.

"Tu sabes que não me importo de te ir levar"- Calum disse.

"Mas eu já disse que não é preciso"

"Pronto pronto, não ofereço mais"

"Está ali o meu autocarro"- comecei a pegar na minha mochila que estava no chão.

"Não te vais despedir?"

"São dois dias, Calum"

"Está bem, mas isso não me impede de querer um beijo"

"Querer não é poder"- ele revirou os olhos.

"Mia"

"Desculpa"-ri e dei-lhe um beijo demorado.

"Assim sim"- sorriu.-" Vou ter finalmente paz"

"Posso dizer o mesmo"

"Vai embora de uma vez antes que percas o autocarro"

"Estou a ir estou a ir"- ri e comecei a andar em direção ao meu autocarro.

Dei o meu bilhete ao condutor para ele rasgar e mo dar de volta. Entrei no veículo e fui-me sentar num lugar em que não tenha mais ninguém, prefiro fazer as minhas vigens sozinha. Mas como não tenho sorte, uma velhinha acabou por se sentar ao meu lado, porra devia de ter ido lá para o fundo. Não é que não goste de falar com pessoas de idade, mas não gosto de falar com pessoas de idade (?) É que há momentos para tudo, e acabam sempre por não me deixar no meu cantinho. Eu no fundo percebo o porquê de quererem falar, eu sou igual, por favor não me odeiem. Neste momento não me apetecia falar muito, acho que precisava da viagem para pensar e dormir. Mais para dormir.

"Não se importa que eu me sente aqui pois não?"

"Claro que não"- sorri á senhora.

"É que a menina tem uma cara simpática e prefiro sentar-me consigo do que com aqueles velhos"

Apenas me ri, porquê que eu acho que esta senhora e eu nos vamos dar bem?

"Tem muitos jovens que são muito mauzinhos e recusam-se a fazer uma simples viagem com uma velhota como eu"- agora sinto-me muito mal.

"Lamento que tenha experienciado isso"

"Eu era igual, se calhar não tão mázinha, mas eu percebo"

Sorri-lhe e olhei pela janela apenas para ver se via Calum em algum lado, e lá estava ele ainda á espera. Sorriu para mim e ficámos assim até o autocarro andar, ele é mesmo lindo. Acenei-lhe como uma parva até o perder de vista, talvez não vá ser tão canja como pensava. Só espero que ele não destrua o apartamento porque eu tenho quase a certeza de que ele vai convidar os outros desgraçados para lhe fazerem companhia e vão virar o nosso cantinho do avesso, mal posso esperar por chegar a casa e ter de limpar tudo.

"É o seu namorado?"

"Não sei bem o que somos"

"Bem, menina, acho que ficariam muito bem juntos"

"Obrigada"- sorri á senhora.

"Espero que ele a trate bem"

"Não poderia tratar melhor"- corei um pouco, quando é que me tornei nesta desgraçada sensível e lamechas???

"Muito bem"- fez-me uma festa na mão.-" Bem, vou deixá-la a pensar no seu amor e vou ver se consigo dormir um pouco"

"Vou fazer o mesmo"

"E obrigada mais uma vez por ser tão simpática"

"Ora essa"

Ela apenas sorriu e pôs a sua almofada de viagem no banco e pouco tempo depois começou a dormir, eu começo a achar sinceramente que vou ser igual a esta senhora no futuro, meu deus.

Encostei-me ao vidro, pus os fones e coloquei a playlist que tenho dos BTS em aleatório. Deixei-me levar e adormeci, o que me surpreende bastante.

******************************

Já cheguei á paragem destinada, acabei por não ver mais aquela senhora mas ela deixou-me uma barra de chocolate no colo, e eu sei que não se deve aceitar doces de estranhos mas vá lá, é uma barra de chocolate.

Saí do autocarro com a minha mochila, bem pesada, e pus-me a caminho da minha casa. Já não faço este percurso há alguns meses e mesmo assim todos os passos que dou me saiem com naturalidade. Avistei a minha casa e acelarei o passo, já não vejo a minha família há algum tempo. Toquei á campainha de maneira impaciente até que o meu irmão a abriu.

"JONAH!"- Agarrei-me ao vagabundo de maneira sufocante.

"Olá, então"-riu.

"A MIA JÁ CHEGOU?"

"SIM MÃE ESTOU AQUI"

Ouvi alguém a correr, sim a correr, pelas escadas abaixo e claro que era a minha mãe que tinha entrado em modo avestruz só para me vir esmagar.

"Mãe eu percebo mas eu não estou a conseguir respirar"

"Desculpa,filha, estou só feliz por te ver"

"O pai?"

"O teu pai foi falar com os vizinhos há umas horas"

"Horas?"

"Sabes como ele é quando começa a falar"

"Se sei"- ri.

"Mas bem, vamos para a sala tens de me contar as novidades"- arrastou-me para o nosso sofá. Alguém ajude a minha mãe.

"Não há novidades, mãe"

"Nada? Como é a tua companheira de quarto?"- eles não sabem que eu vivo com um rapaz... Ainda.

"Ele é boa pessoa, está a ser bom"- tentei dizer assim para ver se não causava tanto escândalo.

"ELE?"

Merda.

"Bem, não foi a minha primeira opção"

"Como é que isso não é uma novidade?"

"É algo normal, mãe"

"Gostas dele?"

"Ele ajuda com as tarefas e é simpático"

"Não é nesse sentido, cabeça de atum"

"Mãe!"

"Estou a ser intrometida"

"Achas?"- revirei o olhos a rir.

"Desculpa"- riu também.

"A mãe já te interrogou?"- o meu irmão entrou na divisão.

"Definitivamente"

"Oh mãe"

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