Capítulo 36: Parte 2

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Deve ter passado meia hora desde que Calum saiu da gelataria e são agora 2 da manhã, ou seja, esta gelataria já está vazia e pronta para fechar. 

"Menina"- a senhora que trabalha aqui chamou por mim.

"Sim?"- olhei para ela, ainda sentada no sofá sem qualquer tipo de reação.

"Está na hora de fechar"

"Oh, pois, desculpe"- comecei a pegar nas minhas coisas, para poder sair da gelataria.

"Não não, sente-se. Não a deixo sair nesse estado sozinha"- Ela insistiu com que eu me voltasse a sentar no sofá e foi trancar a porta.-" Eu não devia de fazer isto, mas não pude deixar de reparar na vossa situação"

"Pois, isso"- disse baixinho.

"Não estive a ouvir a conversa, mas não me pareceu que estivessem felizes."

"É complicado"- disse enquanto olhava para ela a sentar-se á minha frente. Era uma senhora com uma idade já avançada, não diria idosa, apenas já com uma certa idade. Mas nada disso lhe tirava toda a vida e energia que ela tinha, que senhora incrível.

"Está com cara de quem precisa de um chá, eu volto já"- fez-me uma festa na mão e dirigiu-se para trás do balcão.

Não sei bem o que pensar sobre isto nem por onde começar, há tanta coisa que um bébé altera na vida de alguém. Como é que é suposto eu acabar a universidade? Como é que eu vou sustentar uma criança sem uma licenciatura? Como é que eu vou fazer isto tudo sozinha, sem o Calum. Eu não o quero arrastar comigo, ele tem de construir a vida dele. Como é que simplesmente eu vou resolver isto? Tudo isto invadia a minha cabeça e eu não conseguia pensar como deve de ser, só conseguia chorar. 

"Aqui tem"- ela pousou a caneca na minha frente.-" Oh, parece que o seu amigo chegou"

Ela tinha razão, Calum tinha chegado e estava á espera que lhe abrissem a porta. O que é que eu lhe digo?

"Olhem, não pude deixar de reparar na caixa que traz na mão"- apontou para o teste de gravidez que Calum tinha comprado.-" Eu vivo mesmo aqui por cima, porque não vão até ao meu apartamento e tratam desse assunto? Eu fico aqui a limpar umas coisas"

"Não podemos apoderar-lhe da casa assim, nós vamos para a nossa casa não se preocupe"- eu disse ao voltar a pegar na minha carteira.

"Eu insisto, não se preocupem com isso meus queridos. Prefiro que vão para casa com a cabeça no sítio do que nesse estado"- estendeu-nos a mão com a sua chave de casa.

Calum ainda não tinha dito nada e continuou assim.

"Tem a certeza?"

"Coisas destas são mais importantes do que eu ir ver a minha novela preferida, não se preocupem"

Acenei e agradeci á senhora antes de aceitar a chave e sair da gelataria seguida por Calum. Não foi nada difícil de encontrar as escadas que davam para o apartamento da senhora e muito menos foi dificil de abrir a porta. Ironicamente o mais dificil foi fechar a porta de casa e encarar o silêncio que criámos. Nenhum de nós sabia o que dizer.

"Acho que antes de fazeres o teste precisamos de esclarecer umas coisas"- Calum finalmente disse alguma coisa e sentou-se no sofá. Nunca estive tão assustada na minha vida ao sentar-me ao lado dele.

"Cal"- interrompeu-me.

"Agora é a minha vez de falar"-olhou-me nos olhos, o que sinceramente só me deixa mais frágil.

"Nada do que eu possa dizer vai ser o suficiente para demonstrar o quanto eu te amo, mas eu amo-te. Eu amo-te tanto. Tanto tanto."- ele passou a mão na minha bochecha.-" Ao ponto de fazer seja o que for por ti, ao ponto de conseguir imaginar-me ao teu lado para o resto da minha vida"- entrelaçou a sua mão na minha. A este ponto não havia água suficiente no meu corpo para as lágrimas que caíam.-" Não há nada neste mundo que me vá fazer desistir de ti, muito menos um filho nosso. Não importa o que este teste diga, eu não vou a lado nenhum okay?"

"Eu tenho medo"- tapei a cara com as mãos a chorar, sinceramente não sei se nestas situações há outra reação para além de lágrimas.

"Eu sei amor, eu sei"- encostou a sua cabeça á minha.-" Estou a morrer de medo também"- conseguia ouvir a sua voz de choro.

"O que vai ser de nós se este teste der positivo?"- questionei baixinho.

"Nós vamos arranjar solução"

"Mas as nossas vidas académicas? Não vamos poder arranajr trabalho para"- interrompeu-me.

"Ei, nós vamos arranjar solução"- encarou-me e deu-me um pequeno sorriso.

"Eu amo-te"- encostei a minha testa á dele.

Deixamo-nos estar assim durante uns minutos até que finalmente ganhei a coragem de pegar no teste e fazê-lo. Calum e eu sentámo-nos no chão da casa de banho e esperamos os três minutos que eram precisos em silêncio, mas sem nunca largar-mos a mão um do outro. Aquele teste ia ditar o destino do resto das nossas vidas em trâs minutos, e nós não sabíamos o que íamos fazer da nossa vida caso fosse positivo. Naquele momento tudo o que importava era a presença um do outro, saber que ninguém ia a lado nenhum, saber que o amor que sentíamos um pelo outro era o suficiente. Talvez fosse das únicas alturas em que o nosso amor fosse a única coisa que importasse nas nossas vidas e , por mais aterrorizadora que esta situação fosse, não queria deixar essa sensação ir embora.

"Passaram já quatro minutos". Calum disse ao olhar para o relógio.

"Leste as instruções?"

"Dois tracinhos azuis se for positivo, e apenas um se for negativo"-Calum voltou a ler o panfleto e de seguida pegou no teste.-" Aos três olhamos"

"Okay"- acenti e dei-lhe um ultimo beijo.-" Um"

"Dois"

"Três"- dissemos ao mesmo tempo e olhamos.-"Oh meu deus"

Ficamos perplexos a olhar para o teste.

"Vamos ser pais"- Calum disse ao me dar um beijo na testa para de seguida me abraçar.

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Bem, olá? 



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⏰ Última atualização: Jul 31, 2018 ⏰

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