Capítulo onze

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— Duas horas dentro de um elevador, isso é um absurdo!

Haviam se passado duas horas desde que houve a suposta falta de energia, e até agora ninguém tinha aparecido para nos resgatar. Rodrigo era uma ótima companhia, mas eu estava faminta e com sede. Virei de barriga para baixo, incomodada. Rodrigo conversava comigo, me distraindo, mas eu não conseguia ignorar o fato da minha barriga estar roncando. O garoto percebeu meu incômodo e foi diminuindo o tom da voz, até estar quase mudo. Achei estranho e comentei:

— Por que você decidiu sussurrar, de repente?

— Você está obviamente incomodada com a nossa conversa. Acho melhor eu calar minha
boca — ele diz, sentando-se e encostando as costas na parede. Ele baixa a cabeça, como um sinal de derrota. Eu ia falar que não estava incomodada, na verdade, com ele ali, tudo se tornou bem mais suportável, mas ele se adianta:

— É sempre assim.

— Rodrigo... Espera, como assim?

Ele me encara, receoso. Por fim, ele fala:

— Nada.

Decido me sentar e viro de frente para o garoto. Mas ele me interrompe:

— Olha, pode parar. Se você quer me dar uma lição de moral dizendo que eu devo ser mais aberto para as pessoas...

— Rodrigo...

— ...que eu deveria ser mais parecido com uma pessoa da minha idade...

— Rodrigo, me escuta...

— ...que eu deveria mudar meu jeito, não precisa, eu já escutei...

— Rodrigo, cala a boca, cacete!

O garoto me observa, espantado. Ele se cala e, finalmente, me deixa falar:

— Eu estou com fome. E eu sempre fico insuportável quando estou com fome. Não é você que está me incomodando, é a falta de comida.

Ele permanece calado por alguns instantes. Depois de um bom tempo, a única coisa que ele fala é:

— Ah.

Deito-me novamente no chão. Respiro fundo. Não sei como iniciar aquela conversa, mas iria falar alguma coisa. Então, falo uma das coisas mais verdadeiras que meu irmão costumava me dizer:

— Você não precisa mudar por ninguém.

Ele não fala nada, mas percebo que sorri. Eu acho que ele não vai comentar nada, mas ele diz:

— Mas é sempre assim. Eu tento fazer uma amizade, mas as pessoas não gostam do fato de eu ser diferente. As pessoas implicam se eu não quiser desobedecer meus pais. Elas implicam se eu não quiser beber em uma festa. Elas implicam demais. Então eu tentava ser uma pessoa diferente, com medo de ser um babaca. Mas eu já desisti disso há algum tempo. Eu prefiro simplesmente ficar calado mesmo.

— Acredite quando eu digo, você não é babaca. Pelo contrário, passa longe disso. Eu já conheci pessoas realmente babacas, e elas não se pareciam nem um pouco com você.

— Que pessoas?

— Praticamente todos os meus antigos amigos. Todos me abandonaram depois que meu irmão morreu. Eles são babacas. Você não é.

No meio do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora