Capítulo catorze

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Antes de tudo que aconteceu, eu odiava dormir. Pensar que oito horas do meu dia seriam jogadas no lixo, me deixava revoltada. Eu queria aproveitar a minha vida ao máximo, era uma jovem vívida que ainda não tinha sofrido muito pela vida. Depois da morte de Lucas, dormir se tornou um escape. Sair do mundo por todo aquele tempo, apenas me deitando na cama e dormindo, parecia uma solução mágica, uma fuga. Mas o fato de que quando eu acordasse meu sofrimento continuaria ali e a primeira coisa da qual eu me lembraria ao abrir os olhos de manhã seria como eu queria dormir para sempre, me fez odiar mais ainda o sono.

A semana que se seguiu depois daquele impactante fim de semana, foi marcada pelo meu novo despertar. Desistir não era a primeira coisa que vinha na minha cabeça assim que eu acordava. Eu tinha motivos para erguer minha cabeça e enfrentar o mundo. Enfrentar a mim mesma.

Talvez as coisas estivessem realmente melhorando. Um pedacinho de cada vez.

Rodrigo e eu éramos oficialmente amigos. Conversávamos quando podíamos durante as aulas e nos encontrávamos nos intervalos. Laura, que inicialmente ficara desconfiada em relação ao rapaz, também aproveitava a sua presença. Durante os poucos minutos que tínhamos por dia, nós nos conhecíamos e construíamos uma nova etapa que revolucionou a história dos nossos mundos: nossa amizade

— Mesmo que não venha mais ninguém, ficamos só eu e você. Fazemos a festa somos do mundo, sempre fomos bons de conversar — estávamos sentados debaixo da árvore do amplo pátio da escola, enquanto eu fazia uma dança estranha e cantava uma música que queria mostrar para Rodrigo. Seu gosto musical era algo admirável. Não importava a música que estivesse tocando, se soubéssemos a letra cantaríamos até esvaziarmos o ar dos nossos pulmões.

— Nunca ouvi. Como a música se chama? — Ele questiona, ainda sorrindo pela minha incrível performance.

Mais ninguém. Eu adoro essa música.

Era uma sexta-feira pós-aula. A escola estava praticamente vazia. Rodrigo estava esperando sua mãe para busca-lo, enquanto eu fazia companhia. Havia se passado meia hora desde que o sinal alertara o fim das aulas. A mãe do Rodrigo nunca demorava tanto assim.

— Por que a Tia Val está demorando tanto?

Sua face, anteriormente brincalhona, é tomada por uma súbita tristeza.

— Eu... não sei.

Passar quatro horas dentro de um elevador com alguém pode te dar algumas novas habilidades, como identificar quando algo de errado tinha acontecido, mesmo a pessoa não ter falado nada.

— Eu acho que você sabe. Mas não quer me falar o que aconteceu.

Ele inspira profundamente e me fita.

— A gente brigou. Eu não quero ir para casa.

— O que houve?

Ele parece querer dizer alguma coisa, mas não fala nada.

— Você sabe que pode me falar sobre tudo, né?

Ele concorda com a cabeça. Espero alguns instantes, com a esperança de que ele fale algo, mas o garoto não se pronuncia.

— Tudo bem. Vamos resolver isso de outro jeito.

Levanto abruptamente, assustando Rodrigo, pego minha mochila e puxo o menino pelo braço, obrigando-o a se levantar.

— Siga-me — eu e um Rodrigo confuso andamos.

Atravessamos o pátio e saímos da escola. Andamos sob o sol forte do início de tarde.

No meio do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora