Capítulo doze

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Acordo com um som metálico da porta do elevador se abrindo. Estou meio desorientada, meu corpo está quente, como de quem acabou de acordar, e percebo que há alguma coisa do meu lado. Mexo a cabeça e identifico um Rodrigo adormecido. Estávamos conversando sobre coisas banais quando percebi o quanto estava cansada, assim como ele. Nos deitamos e caímos no sono. Enquanto estava adormecida, devo ter me mexido, pois a lateral do corpo de Rodrigo agora encostava em mim.

Fecho os olhos, tentando me acostumar com a claridade de uma lanterna que propagava luz no cubículo escuro, quando escuto uma voz, desesperada:

— Rodrigo? Meu Deus, ele está desmaiado! Deve ter faltado ar no elevador! Olha o que você fez!

Era a mãe de Rodrigo. Os olhos do garoto se abrem rapidamente ao escutar a voz da mulher, e responde:

— Mãe, eu estou bem.

Eu seguro meu riso. Rodrigo está com os olhos inchados do sono e sua voz está rouca. Então, um homem, provavelmente o porteiro, fala:

— Vamos tirar vocês agora, jovens. A moça primeiro, segure na minha mão.

O elevador não estava no mesmo nível do piso, então nós só conseguíamos enxergar os pés das duas pessoas. Depositei minha mão em cima da do homem e fui puxada. A mãe de Rodrigo também ajudou a me puxar. Quando saí do elevador, a mulher tateou meu rosto e perguntou se eu estava bem. Respondi que sim. Um sentimento de vitória corria pelas minhas veias, porque eu estava realmente bem. Pelo menos melhor do que eu estava antes de entrar naquele elevador.

O lugar onde saí estava escuro. A energia ainda não havia voltado. O porteiro ajudou Rodrigo a subir, e quando o menino finalmente foi resgatado, sua mãe correu em sua direção e o envolveu com seus braços. A mulher podia ter os seus defeitos, mas ela amava o filho mais do que tudo. Rodrigo apertou a mãe contra o seu coração por um instante. Era uma cena bonita. Então os dois se soltaram, e palavras choveram da boca da mulher:

— Meu filho, eu fiquei tão preocupada. Assim que você saiu de casa, eu cochilei, e acabei dormindo antes da energia acabar. Acordei algum tempo atrás, e percebi que você não estava em casa. Desci os degraus até a portaria para te procurar — por isso ela estava suando.

— Mãe, você desceu 25 degraus?

— Me deixe terminar! Esse incompetente — exclamou a mulher, apontando para o porteiro — esqueceu de verificar se havia alguém nos elevadores, já que as câmeras estavam quebradas. Você vai ser demitido, nem que seja a última coisa que eu faça!

O porteiro estava de cabeça baixa, constrangido. Imagine a surpresa da mãe de Rodrigo ao escutar as doce palavras, ditas calmamente pelo filho:

— Mãe, está tudo bem. Todo mundo erra.

Rodrigo olha para mim com um leve sorriso. Só nós dois sabíamos o quanto tinha sido maravilhoso aquele homem ter esquecido de checar os elevadores. Eu poderia dar um abraço nele neste momento.

— Todo mundo erra? Você está lou...

— Mãe, esquece. Essas coisas acontecem, relaxa.

A mãe de Rodrigo está se preparando para gritar milhões de motivos para o porteiro ser demitido, mas ele se precipita:

— Acho melhor levar a Clara até a portaria, a mãe dela deve estar preocupada.

No meio do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora