Nem sempre Milena morou em Juiz de Fora. Ela nasceu e passou boa parte da infância em Ipatinga, uma cidade mais ao norte do estado, na região metropolitana da capital, Belo Horizonte. Lá, vivia com o pai e a mãe, Helena. Quando jovens, Sebastião e Helena eram belos e atraentes. Ele, descendente de alemães, era loiro, corpo malhado e olhos verdes vibrantes. Ela, uma descendente de índios lindíssima, era morena, um pouco mais alta que ele, de cabelos lisos e negros, os olhos meio estreitos, perfeitamente ovais e um sorriso reluzente. A mistura do sangue dos dois, europeu e indígena, era a causa de Milena ser considerada uma das garotas mais bonitas de seu colégio e do bairro.
Pensar na mãe era sempre difícil. Em suas lembranças sua mãe era uma mulher carinhosa e dedicada, que sempre a buscava na porta da escola. Mas um dia ela não apareceu. Milena ficou lá por horas esperando, até que a diretora conseguisse contatar seu pai e comunicar o ocorrido. A partir dali começou o inferno. Helena havia desaparecido da face da Terra como fumaça. A polícia foi comunicada, cartazes foram espalhados por toda Ipatinga e até mesmo em locais da capital. Sebastião apelou até para programas de TV sensacionalistas, que contavam casos de pessoas desaparecidas. Mas, em cinco anos, nenhum sinal de vida ela deu. Era como se não tivesse existido. E pela lei, após cinco anos, uma pessoa desaparecida é dada como morta. A pequena Milena entrou em depressão e teve que fazer tratamento intenso, pois seu pai temia por sua sanidade. Essa responsabilidade de criar uma filha sozinho e de nunca ter certeza do que aconteceu à mulher transformou o baixinho bonitão em um baixinho flácido. Seis anos depois do desaparecimento, a reduzida família Schimidth mudou-se para Juiz de Fora.
*
— Minha mãe? Minha mãe era...
— Uma lobisomem... assim como eu e você. É a explicação, ora, para você também ser. Os genes da licantropia são passados hereditariamente. Seu pai era um humano comum, mas sua mãe uma lobisomem, uma das mais fortes. Você é a cara dela.
— E você é louca! Quero sair daqui! — Milena se levantou, mas num átimo, Raquel a impediu.
— Sente-se, por favor. Deixe-me terminar de contar o que aconteceu. Depois você decide o que quer fazer.
— Acha que vou ficar aqui ouvindo essas suas baboseiras? Preciso ir embora para saber se meus pais e meus amigos estão bem!
— Milena... — Raquel continuou forçando ela a ficar sentada. — Sinto muito, mas acho que eles estão todos mortos.
— O QUÊ?!
— Acalme-se!
Milena não se levantou, apenas arregalou os olhos e começou a respirar com dificuldade. Seu pai, Joana, Suzy... mortos?! Não, não podia ser verdade!
— Ouça... um amigo foi ao local analisar o ocorrido... e a viu na forma de lobisomem. Você estava totalmente fora de controle, mas por sorte ele conseguiu dominá-la, tirou-a de lá e nos contatou para que a buscássemos. Quando ele voltou ao local para verificar se havia mais algum sobrevivente, a granja inteira estava em chamas. Foi notícia em jornais do mundo todo nos últimos três dias, veja!
E atirou no colo de Milena um exemplar de um jornal com circulação nacional. Na manchete trágica, uma foto com carros de bombeiros tentando apagar o fogo. "Mais um ataque da gangue". Dizia um trecho da notícia. "Cerca de cento e cinquenta mortos".
— Acreditamos que o incêndio foi obra de outros vampiros, querendo limpar o local da chacina...
— E isso prova que meus pais estão mortos? — perguntou Milena, a voz embargada e furiosa, sentindo um tremor violento sacudir suas mãos.
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Luz da Lua - A Caçada do Imortal (Degustação)
WerwolfEm dezembro de 2012, como os maias previram, uma série de catástrofes naturais quase acabaram com a humanidade. A reconstrução da civilização trouxe enormes mudanças, e em 2048, o mundo está completamente diferente. É nessa nova realidade que vive M...