— Já estamos chegando, moça. — disse Jorge, o caminhoneiro, à garota ao seu lado.
— Ah, claro. — respondeu a moça. — Obrigada pela carona.
— Não há de que. Embora eu esteja curioso em saber o que uma moça tão bonita e jovem veio fazer em uma cidade como Juiz de Fora.
— Negócios. — disse ela, seca, porém educada.
— Entendo. — mas Jorge duvidava que aquela moça fosse atrás de negócios.
Eles se encontraram nos arredores de Poços de Caldas, bem ao sul do estado de Minas Gerais, onde ela pediu carona. A garota parecia ter uns dezoito anos, pele branca e pálida, cabelos longos e castanhos claros. Estava vestida de maneira bem simples, camiseta branca com uma estampa de surf, calça jeans meio surrada, óculos escuros mesmo à noite e tênis preto de solado baixo. Carregava com ela apenas uma mochila meio vazia.
— Pode me deixar ali mesmo. — ela apontou para um trevo aonde terminava a estrada. — Mais uma vez, obrigada.
— Leve este folheto com você. — Jorge estendeu a mão — E lembre-se que Jesus a ama.
— Claro. — ela pegou o folheto e guardou no bolso, mas o jogaria no lixo assim que o caminhão sumisse de vista.
Inspirou o ar e olhou para a área da cidade. A viagem até ali havia sido conturbada no início, mas o último trecho foi tranquilo. Os dois primeiros caminhoneiros com quem pegou carona a confundiram com uma prostituta de estrada e tentaram aliciá-la, pagando pelo erro com suas vidas. O primeiro, ela arrancou a traqueia com as mãos nuas, o segundo, ela torceu o pescoço em 180 graus. De ambos ela escondeu bem os corpos na beira da estrada e ateou fogo nos caminhões. Mas Jorge mostrou ser um homem correto e respeitador. Porém, era um religioso fervoroso, que passou a viagem toda falando de Deus e da volta de Jesus Cristo, obrigando-a a fingir que dormia. Não que ela não acreditasse em Deus, não tinha como não acreditar, por tudo que já tinha visto e vivenciado, mas sabia que o Paraíso nunca a receberia. Não alguém como ela.
No lado direito do trevo se erguia um bairro grande, cheio de prédios altos, todos construídos em vários morros, o que dava uma aparência estranha ao lugar. A cidade toda de Juiz de Fora era assim. Construída em um vale, as margens de um rio, foi tomada por prédios e cresceu de maneira desenfreada na primeira metade do século XXI, quando o Brasil cresceu bem economicamente após a Grande Hecatombe de 2012.
À sua direita, viu um batalhão da Polícia do Exército, onde antes funcionava uma delegacia da Polícia Militar. Durante a Segunda Revolução Militar, as Forças Auxiliares, Polícia e Bombeiros militares, foram incorporados ao exército, e o atual Presidente da República, que subira ao poder desde maior parte do período, se recusava a desincorporá-las. À sua frente, logo após a linha superficial do metrô, se encontrava um quartel do exército, o 4º Grupo de Artilharia de Campanha Leve. Era exatamente ali que ela começaria suas investigações. Todas as pistas que recolhera sobre o grupo que caçava em Pouso Alegre, haviam levado para aquela área, e indicavam que parte de seus membros se escondia em unidades do exército. Como eles faziam isso, ela não tinha nem ideia, mas descobriria.
Estudou o quartel pelo lado de fora. Havia um muro branco de cerca de dois metros de altura, e duas guaritas que davam visão para aquele setor. As duas ocupadas por sentinelas armados de fuzil IA2 5,56mm. Do lado de dentro da unidade ela teria que ser rápida, não fazer ruídos e silenciar as sentinelas que se aproximassem para descobrir o que buscava. Provavelmente o comandante da guarda cederia as informações de que precisava, através de um interrogatório não convencional. Capitu sorriu ao pensar nessa possibilidade, sacou uma pistola Beretta 9mm da mochila e foi cumprir a missão que ela mesma havia imposto.
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Luz da Lua - A Caçada do Imortal (Degustação)
WerewolfEm dezembro de 2012, como os maias previram, uma série de catástrofes naturais quase acabaram com a humanidade. A reconstrução da civilização trouxe enormes mudanças, e em 2048, o mundo está completamente diferente. É nessa nova realidade que vive M...