(02) • resolvi sair da sala •

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Resolvi sair da sala, passei por um longo corredor cheio de armários e me sentei na enorme escadaria que dava para o pátio.

Sentia minha raiva escorrer pelo meu rosto, as mais solitárias lágrimas que eu tinha. Uma droga chorar sempre que estou irritado, é algo que acontece involuntariamente, não é sinal de fraqueza, pelo contrário.

Limpei meu rosto pois não queria parecer uma criança chorona, sabia que ele era horrível, mas isso não deveria me incomodar tanto. Eu não tinha nada com ele, sempre o evitei o máximo. Gostava e odiava a nossa distância, era conveniente não me aproximar de alguém que não tinha uma reputação muito boa.

- Que inferno de garoto estúpido. Espero que nunca mais olhe em minha cara.

Respirei fundo enquanto falava comigo mesmo em um tom baixo, mas que qualquer pessoa que estivesse em uma distancia considerável poderia facilmente me ouvir.

- Desgraçado e arrogante.

Ouvi alguém chutar a parede ao meu lado como quem não quer nada.

Poderia ser qualquer pessoa. Poderia ser o próprio demônio. Poderia ser um fantasma.

Mas não ele.

Ele parecia desolado e eu pouco me importei com isso.

- Você parece odiar muito essa pessoa. Ela tem muito predicados ruins.

Eu não sabia o que responder, então apenas coloquei minhas mãos em meu colo e esperei ele ir embora.

Mas ele não foi.

Que irritante.

Aquele maldito não se moveu ou simplesmente passou direto e ao contrário do que eu queria, ele se sentou ao meu lado.

- Não é muito bom odiar alguém tanto assim - Ele falou, mas não estava olhando para mim - Você não fala?

Aquele riso baixo me fez ficar irritado.

- Falo sim, o problema é que eu não quero falar com você - e não queria mesmo.

Ele deu duas batidinhas em suas pernas. Parecia irritado, mas não queria demonstrar isso - Uma pena - Ele se levantou, mas continuou parado bem ali ao meu lado - Uma pena - Ele repetiu, mas dessa vez sua voz saiu em um tom divertido.

- Você pode me deixar sozinho? - Pedi tão friamente. Usei meu tom ríspido, o melhor que eu tinha.

- Queria conversar com você... Park.

Ótimo. Ele sabe o meu nome e agora a minha vida vai se transformar em um inferno. Ele faria de tudo para me destruir naquela escola. Meu último ano seria como um filme de terror.

Um filme de terror podre e clichê.

- Eu percebi que você queria conversar comigo - Meu deboche estava em outro patamar. Felizmente eu sabia ser bom nisso.

- Percebeu? - A sua voz pareceu tão amedrontada. Eu não entendi e talvez nunca fosse capaz de entender.

- Você me olhou feito um lixo dentro da sala de aula e diz que quer conversar comigo. Um arrogante maldito.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

- Então a pessoa que você odeia tanto sou eu.

Não era uma pergunta pois ele já sabia a resposta desde que apareceu ali para me irritar.

Ele sorria baixo, parecia se divertir com aquilo.

O sinal toca e o corredor, antes vazio, estava começando a ganhar vida e eu precisava voltar para a sala. Me levantei rápido e me virei mais rápido ainda, coisa que não deveria ter feito, poderia ter sido mais cuidadoso.

Acabei me aproximando dele tão rápido que a única ação que ele teve foi segurar em meus braços com muita força, caso o contrario eu cairia escada abaixo. Seus olhos estavam negros. Porra! Sua boca convidativa. Caralho! Ele sorriu de leve e afrouxou suas mãos do meu braço.

- Você me odeia tanto assim? - Ele sorriu e fechou os olhos de uma forma fofa - Eu te fiz alguma coisa, Park?

Eu quis morrer bem ali na sua frente.

ODEIO.

E SIM, VOCÊ FEZ.

Queria tanto dizer isso, mas apenas me afastei e voltei para sala. Nem ao menos olhei para trás, mas o ouvi falar meu nome em um sussurro quase inaudível.

"Park Jimin"

Quase uma suplica, senti vontade de correr para seus braços e perguntar se era isso que ele queria.

Se ele me queria.

Mas eu sabia que ele estava zoando com a minha cara e eu não o deixaria brincar comigo como faz com todos dessa escola. Não seria tão fácil.

Tão simples.

stairway • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora