Meu dia foi cheio e para complicar mais ainda, passei o dia inteiro pensando nele. Naquele cheiro de menta, olhos escuros feitos jabuticabas. Aquele riso escandaloso, o qual tinha plena certeza que foi por minha causa.
Ele nunca havia se aproximado tanto assim e isso era novo para mim. Lembro da primeira vez que o vi, estava sentado em uma das mesas da lanchonete da escola. Era novo ali e tudo o que podia fazer era esperar até que alguém falasse comigo, pois não era muito bom em puxar assunto.
Tímido e perdido.
Então eu o vi. Ele estava ao lado de dois meninos bonitos e altos. Um era loiro e o outro moreno, o moreno tinha os ombros largos e um sorriso maravilhoso ja o loiro era magro e parecia ter saído de uma revista de moda. Ele se vestia bem, muito bem.
Mas o Jungkook foi o que me chamou mais atenção. Aquela pele branca, lábios tão bem desenhados. O canto dos seus olhos com um leve esfumado escuro, fazendo seu olhar se tornar ameaçador.
Os outros dois me olharam e sorriram como se já me conhecessem. Taxei o momento como o-mais-estranho-da-minha-vida. Eles estavam sendo simpáticos, não pareciam prepotentes, pelo contrário.
Os olhos de Jungkook pousaram em mim por miseráveis segundos que até um piscar de olhos leva mais tempo, mas foi o suficiente para a minha total desgraça.
Essa foi a primeira e última vez, até o dia de hoje, que algo assim aconteceu. Nunca mais o vi olhando para mim durante quatro anos. Quatro longos anos.
Eu não sabia como falar com ele ou se queria mesmo fazer isso. Passei esses anos sabendo de todas as coisas ruins e boas que ele fazia, lembro de alguém ter me contado que ele havia ficado com uma menina, duas vezes eu acho, ela queria algo sério com ele, mas ele só queria apenas um momento. Ela entrou em desespero, coitada.
Ele era um escroto de carteirinha.
E ainda por cima... Hetero.
Pensei em desistir na hora, mas então soube que ele pouco se importava com gêneros. Isso deveria ser algum aviso dos céus, mas eu não conseguia chegar perto dele sem imaginar o quanto seria patético. Posso dizer que sentia medo?
Cada mês que se passava a minha vontade de falar com ele era coberta com o medo que eu sentia. Talvez eu estivesse desistindo aos poucos, pois se eu desistir agora sei que não me magoarei, mas também não saberei o que poderia acontecer.
Achava que seria fácil desistir e seguir em frente sem ao menos tentar pelo menos uma vez. Porém eu queria provar algo para mim mesmo.
Se não der certo, é, não deu.
Levarei um chute.
Um fora.
Mas saberei definitivamente que rumo as coisas tomariam, pois durante esses quatro anos eu só soube imaginar.
Imaginar e imaginar.
Uma vez achei que ele viria falar comigo, mas ele passou entre minha cadeira, a qual eu estava sentado, e uma mesa vazia. O cheiro dele ficou por dias me assombrando. E ele nem se quer me olhou.
Eu era invisível.
E ele um fodido.
Nesse dia tive uma prova gratuita de que realmente ele era alguém que pouco se importava com os outros. Sei lá, ele podia ter falado um "oi" ou um "e ai" e ter passado direto, não precisava parar.
Eu estava ali, porra! Sentado bem em sua frente. Mas não, ele não fez nada. Ele era tudo o que todo mundo sempre dizia, mas eu não sabia o motivo de sentir que ele era bem mais do que aquilo que demonstrava ser. Bem lá no fundo eu sentia que algo era diferente.
Talvez toda a porcaria que ele fez e faz fosse uma casca. Talvez o lado frio e prepotente fosse a única forma que ele tinha para se proteger.
Ou talvez eu estivesse tentando defender alguém totalmente culpado por seus atos escrotos.
📱
Meu celular vibrou.
Estranhei o horário, mas pensei que fosse algum dos meus amigos e o peguei em cima da mesinha do quarto.
Namjoon que adorava ligar a noite e dormir em meio a conversa.
Ele dizia que era relaxante.
Mandei várias vezes ele ouvir ASMR no YouTube ou simplesmente arrumar uma namorada para que pudesse fazer isso.
Ele dizia "Jiminie, isso não vai te matar, não custa nada."
Atendi a ligação, mas tinha percebido que o número era desconhecido.
- Alooooo.
Disse rápido e arrastado.
- Finalmente!
Não pode ser!
- Estou discando os dois últimos dígitos do seu número desde o zero zero.
Pude ouvir um riso desanimado.
- E você sabe muito bem quais são os dois últimos números e o tanto de ligações que tive que fazer?
Aquilo definidamente era uma pergunta.
Ouvi seus dentes rangerem, como se estivesse fazendo uma ceninha barata do outro lado da linha.
Ele ficou quieto enquanto esperava a reposta, mas logo resolveu falar.
- Park Jimin, o que você está fazendo comigo?
Porra!
Aquela voz.
Aquela fodida voz.
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stairway • jikook
Hayran KurguDepois de longos quatro anos gostando de Jeon Jungkook em segredo, Park Jimin resolve tomar uma atitude impensada. 🚫 NÃO ACEITO ADAPTAÇÕES.