HOTEL OLIMPUS | Divine Blood

Capítulo 1 | Apollo

- Eu pedi tulipas vermelhas! Isso é escarlate! Até um idiota saberia a diferença! Arrume isso! AGORA!

A voz aguda e autoritária de Hera vagava por todo o prédio, ecoando por vários e vários segundos até finalmente se dissipar. Meu quarto não era uma exceção.

Aos poucos eu abro os olhos, sentindo a brisa fria que entrava pela única janela do ambiente, que por opção minha, permanecia sempre aberta. Desviei o olhar para o criado mudo ao lado de minha cama.

05:48 AM

Tentei levantar, mas um peso sobre meu tórax impediu a ação. Eram duas garotas, adormecidas e com a cabeça apoiada sobre mim.

Jéssica e Emily. Velhas amigas, ou algo do tipo, não me lembro direito. Parando agora para pensar, não me lembro nem mesmo de ter trazido as duas para meu quarto.

Fiz um esforço para levantar sem acordar as garotas. Coloquei-me em pé diante a confusão de roupas íntimas jogadas no chão e caminhei até a janela. Apoiei os braços no parapeito e fechei os olhos.

No horizonte escuro, apenas nuvens densas se faziam presente. A brisa fria fazia arder a pele do meu rosto e a escuridão da madrugada pairava por toda a cidade. O Hotel Olimpus ficava na parte mais alta da região, o que resultou em uma vista magnífica de todo o litoral, incluindo Atlants, o restaurante de Poseidon.

Um raio de sol escapa por entre as nuvens e atinge meu rosto, revelando que finalmente o dia havia começado.

Suspiro.

...

- Não ouse comer um docinho sequer desta mesa, Apollo!

A voz matriarcal de Hera me fez largar o beijinho que tinha em mãos e me afastar da superfície da mesa repleta de doces.

Suas vestes eram todas em tons pastéis. Um vestido azul com o comprimento abaixo do joelho. Um salto branco que aumentava ainda mais sua pose de "ser superior". Em seu pulso esquerdo se dispunham duas pulseiras de pérolas que, quando em contato com o brilho do sol, mudavam de tonalidade.

- O senhor já deveria estar trocado para o evento desta noite. - Disse enquanto analisava o short estilo surfista amarelo que eu estava usando.

- Ainda são sete da manhã. - Disse lhe encarando com um sorriso debochado no rosto. Era perceptível a ansiedade de Hera com relação a esta noite. Toda aquela sobrecarga de preparativos. A escolha do doces e bolos. A elaboração da lista de convidados. Tudo contribuía para o crescimento da loucura de Hera.

- Sete? Meu Deus! As flores já deveriam estar organizadas! - Ela direcionou seu olhar para a escadaria que levava aos quartos. - Deméter! Deméter! Onde ela foi se enfiar agora?

Em passos rápidos pude ve-la se afastando.

Ela ainda vai deixar alguém surdo com esses gritos...

Poucos segundos após Hera deixar o cômodo uma penumbra toma conta do mesmo. A janela que antes permitia a entrada de sol, agora fora fechada com uma brutalidade excessiva.

- Já lhe disse um milhão de vezes! Nem todos os hóspedes dessa espelunca acordam cedo! Eu agradeceria se não saísse pelos corredores abrindo essas malditas janelas!

Qualquer outro hóspede, se posto em meu lugar, haveria levado um tremendo susto. Mas minha reação foi outra.

Me virei e encarei-o com meu sorriso debochado de sempre.

A pele pálida. Os traços fortes. O cabelo escuro. A iris acinzentada.

- A bela adormecida acordou de mal humor hoje? - Disse tentando mudar o foco do meu olhar, que permanecia direcionado para sua samba-canção cinza.

Ele apenas revirou os olhos e continuou procurando algo nas prateleiras do armário. A visão que tinha dele não ajudava em nada a minha exaustiva busca por autocontrole.

- Você não deveria andar pelo hotel assim. Algumas pessoas podem não ter o meu nível de controle. - Disse em tom provocativo.

- Vá arranjar algo de útil para fazer, cachinhos dourados! - Ele disse sem expressar nenhuma mudança nas expressões. Mas eu o conhecia suficiente para saber que, por debaixo daquela feição séria e ameaçadora. Um lindo sorriso se escondia.

O que mais eu poderia esperar de Hades? Ele adora manter a posse de Aspirante a Senhor das Trevas.

...