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- Não aguento mais ter aula com a Marília. - disse Bianca, se jogando de cabeça sobre a mesa.

Marília era essa garota do terceiro ano, que toda quarta-feira dava aula de matemática durante 3 períodos para o primeiro ano. Era o inferno na terra. A escola vivia demitindo seus professores, por isso os alunos com as melhores notas do terceiro ano quebravam um galho.

- Nem me fala. Cada dia que passa aquela pinta parece crescer. - riu Bernardo, uma risada triste de quem não aguentava mais ouvir sobre equações do primeiro grau.

- Agora crianças, quero que vocês formem trios e resolvam os exercícios das páginas 47 e 48.- Marília terminou de falar e se sentou na mesa da professora, tirou uma revista da bolsa sobre '' 50 dicas infalíveis para ter uma pele perfeita'', e ignorou a classe.

Automaticamente, Bianca e Bernardo juntaram as mesas. Além de serem irmãos gêmeos, ambos eram imbatíveis quando botavam seus esforços em conjunto, seja para resolver a lição de matemática ou rir a aula inteira da pinta da Marília. Hoje eles iam rir da pinta da Marília.

Durante uns 30 segundos a sala ficou repleta de barulho de mesas e cadeiras sendo arrastadas, e depois só se ouviam conversas em voz baixa.

Bernardo já fazia um desenho de uma pinta gigante com uma Marília no queixo quando Rebeca chegou.

- Oi Bernardo, posso sentar com vocês? Não sobrou mais nenhuma dupla...

- Claro, senta aí.

A garota japonesa puxou uma cadeira, e colocou a mochila e a espada de Kendo no chão.

Rebeca era filha de imigrantes japoneses, e o próprio pai era seu mestre de Kendo. Como parte da cultura, a menina tinha que carregar a espada (de madeira) onde fosse.

Não demorou muito até os 3 estarem dando altas gargalhadas, com os livros de matemática ainda na mochila. Pra variar, Marília sequer tirou os olhos da revista.

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O sinal do intervalo tocou, e todos os alunos desceram do prédio para a cafeteria. A escola era gigante, dividida em várias sessões. Os alunos do ensino médio ficavam em um prédio separado do restante da escola, enquanto que os mais novos ficavam perto do pátio, da cafeteria e dos ginásios.

O corredor central ficava entre os dois prédios de estudantes, onde ficava a sala dos professores, da diretora, e alguns andares acima, os quartos das freiras. Era restritamente proibido os alunos andarem pelo corredor central, quem diria entrar no quarto das freiras. Um dos garotos idiotas da escola, Álvaro, disse ter entrado nos quartos e visto que, no lugar das camas, haviam caixões, insinuando de que as pobres freiras eram vampiros. Claro que a pele pálida delas e suas feições que continuavam mumificadas faziam 50 anos ajudavam seu caso, mas não passava de uma mentira de criança.

Bianca e Bernardo, após comprarem seus salgados, viram Rebeca sentada sozinha e decidiram fazê-la companhia.

Marília estava sentada com outras garotas vaidosas, que chegavam na escola sempre maquiadas e com cheiro de 37 tipos de spray para cabelo.

Apoiados numa parede estava Álvaro e outros garotos, quase todos de regata e os braços cruzados, fazendo o máximo possível para parecerem intimidadores. Claro, não funcionava.

Raul entrou na cafeteria. Passou os olhos pelo local até enchergar o cabelo preto de corte chanel de Bianca.

- Bom dia galera. Bom dia, Bi. - disse Raul, dando um selinho em Bianca.

Raul era o namorado de Bianca faziam 4 meses, e sua relação era ótima com Bernando. Fora quando Bernardo dizia que Raul tinha uma quedinha por ele, mesmo que indiretamente.

- É claro que tem, eu e minha irmã somos gêmeos. Querendo ou não, dividimos os mesmos traços.

Bianca apresentou Rebeca para Raul, que se lembrou dela como '' a menina da espada''. Não era sempre que uma garota andava com uma espada de madeira pra lá e pra cá né.

Após conversarem um pouco, o sinal tocou. O intervalo era o tempo necessário para comerem e voltarem para as salas. A escola, comandada pelas freiras católicas, era muito rígida e ''careta''. Meninas não podiam usar saias ou short curtos, o uso de celulares era proibído, e até correr fora da educação física era motivo pra levar um puxão de orelha.

Os 4 caminharam para o pátio e começaram a se despedir.

- Vamos pra minha casa hoje, né? - disse Raul para Bianca, que confirmou e lhe deu um abraço. - Te espero na saída.

Bernardo se virou de costas e ouviu um barulho de vidro quebrando. Ao se virar, havia um garoto atirado no chão do pátio e o vidro de uma janela do segundo andar quebrado.

Se ouvia gritos vindo do segundo andar e muitas pessoas corriam para fora do prédio.Raul correu em direção ao garoto, enquanto que o resto tentava entender o que possivelmente poderia ter acontecido.

-Ele... tá morto. - Raul concluiu, devagar. O sangue do garoto já pintava o chão de vermelho, fazendo até algumas pessoas vomitarem.

- Seja lá o que for, não vamos ficar aqui pra descobrir. Venham! - Bianca chamou os outros, e correram.

Correram junto com a multidão para a saída da escola, mas esta estava trancada. Ninguém conseguiria sair. A escola era construída como uma fortaleza. Com mais de 150 anos desde sua construção, inicialmente uma escola somente para meninas, era preciso ter todo o cuidado para evitar a entrada de adultos perturbados ou jovens com tesão.

Decidiram sair dali, e foram em direção ao corredor principal. As portas do corredor principal também estavam trancadas.

- Já sei para onde podemos ir. - Rebeca falou, correndo na frente de todos.

Ela os levou até a biblioteca, que estava vazia. Os jovens se sentaram atrás do balcão e respiraram fundo várias vezes.

- Certamente isso é melhor que aula de matemática. - disse Bernardo, tossindo e rindo ao mesmo tempo.

MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora