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Bernardo já se prepara para o pior. Tinha certeza de que estava gritando, mas não se ouvia. Não ouvia nada. Viu ao seu lado Max com vários dedos decepados e o queixo tremendo, enquanto tentava estancar o sangue que corria da sua mão.

Olhou para baixo e viu seu uniforme rasgado, manchado de vermelho escuro. Estava com dois cortes rasos na área do peito/abdômem, mas não sentia dor.

Quando a velha ergueu a garra para rasgar seu rosto, Bernardo fechou os olhos com força.

1... 2... 3... 4 segundos haviam passado e nada. Abriu um dos olhos devagar. Ele teria dado risada se não estivesse coberto em sangue. Viu Rebeca montada nas costas da Irmã, com sua espada de Kendo sufocando o pescoço da velha. Ela gritava alguma coisa, mas Bernardo não ouvia.

'' morre? corre? CORRE!'' Bernardo leu seus lábios. A garota estava o mandando fugir, e ela parecia realmente brava. Não pensou duas vezes.

Engatinhou até Max e puxou o velho, colocando seu braço por cima dos ombros. As pernas do velho estavam moles, em estado de choque. Juntos cambalearam até as escadas, fugindo da ira de Ana.

- -

Irmã Ana girava de um lado para o outro, furiosa, tentando tirar a garota japonesa presa nas suas costas, como um macaco filhote agarrado na mãe. Ela segurava a espada nas duas pontas, entre o pescoço da velha, ganhando tempo até que Bernardo e Max dessem o fora dali.

Quando eles sumiram do corredor, ela pulou das costas da Irmã e a atacou com uma rajada de golpes, que fizeram a velha recuar, surpresa. Se preparou para atacar novamente, mas dessa vez quem tomou a iniciativa foi Ana.

Para uma velha centenária ela era bastante rápida, mas todo mundo sabe que, independente de qual seja teu talento, sempre tem uma criança asiática melhor. Rebeca se esquivava dos ataques com relativa facilidade e sempre que encontrava alguma brecha, contra-atacava.

Aos poucos a velocidade e consistência da Irmã iam diminuindo e a confiança de Rebeca aumentava. Após um ataque lento e previsível, Rebeca atacou o rosto da velha fazendo seu olho inchar. Se antes ela já estava assustadora, agora estava pior.

Os ataques cessaram. Irmã Ana se encolheu e Rebeca achou que havia acabado. Então algo muito estranho aconteceu. Ana rasgou a própria pele, em cima das costelas. Botou sua mão dentro de si, e após um urro de dor, ela puxou algo para fora.

'' Um osso? '' Pensou Rebeca. ''A doida tirou a própria costela. Mas que merda?''

Ana encarou Rebeca. Encarou é um termo estranho, já que a velha era cega de um olho e o outro estava inchado igual uma ameixa madura. Estava praticamente cega, e o corredor mal iluminado não ajudava.

Segurando o osso como uma espada na mão direita, avançou em direção á Rebeca, que foi pega de surpresa. Estava em uma batalha de espadas, onde uma das espadas era um osso do seu oponente, que era uma freira da sua escola. Informação demais para uma garota de 15 anos, como se a adolescência já não fosse algo difícil de se lidar sozinha.

Rebeca bloqueou a ''espada'' de Ana com a sua própria. Não deu certo. Sua espada de madeira se partiu ao meio, jogando a garota para o lado. A velha se lançou atras da garota, atacando de vários ângulos. Rebeca desviava os ataques que iam em direção á sua cabeça, enquanto se movia para trás. Foi pega de surpresa quando o ataque foi em direção ao seu joelho. A pontada de dor a obrigou a cair de bunda no chão, automaticamente rolando para o lado, escapando por pouco de outro ataque.

Rebeca engatinhou com velocidade para fora do corredor, chegando ao corredor intermediário que ligava o prédio do fundamental com o corredor da direção. Este estava repleto de luz, devido á todas as janelas. Quando se virou para trás viu Ana saindo das sombras. Ana viu um pequeno vulto se movendo no chão, e abriu um sorriso.

- Aí está você. Vem cá menina, não vamos mais perder nosso tempo. - Ana disse. Sua voz era igual a da bruxa com a casa de doces de João e Maria, seja lá qual for.

Rebeca usando a parede como apoio, se pôs de pé. Ela tremia, mas havia determinação no olhar. Uma lágrima escorria pela bochecha. Sabia o que tinha de fazer.

Irmã Ana se aproximou e atacou Rebeca, que se abaixou e deslizou para as costas da velha. Abraçou a cintura da Irmã e correu em direção á umas das janelas, que se quebrou e as duas caíram para o pátio. Caíram para a morte.

'' Pra variar tenho que fazer tudo sozinha.'' Pensou Irmã Sophia, olhando para os corpos lá de cima.

MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora