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Marília havia visto a cena de perto. Estava no fim do corredor quando viu aquela coisa jogar o menino pela janela, como se fosse papel. Depois de gritar muito e quase desmaiar, ela tentou correr, mas acabou sendo jogada no chão pela multidão. Já fadigada e com o emocional destruído, se trancou no banheiro, chorando e soluçando o mais baixo que conseguia.

A gritaria havia passado: todos os alunos e professores haviam fugido do prédio. Só sobrara Marília. Trancada em uma cabine no banheiro do segundo andar, ela apertava o rosto entre os joelhos, sentada em cima da privada.

- Alunos e professores - uma voz chamou a atenção, vinda dos auto-falantes espalhados por toda a escola. - por favor se encaminhem todos para o auditório. Assim que a situação for resolvida todos serão liberádos para irem pra casa. Até lá, NÃO SAIAM DO AUDITÓRIO!

Quando começara a se recompor,e se preparava para ir ao auditório, ouviu passos. Passos lentos e bem leves. Como os de uma criança, ou algo que não pesava mais que 35 quilos. E se aproximava.

Por debaixo da porta ela viu pequenos pés descalços, de cor acinzentada, se arrastando devagar. Não conteve um gritinho, e em desespero encheu a boca de papel higiênico.

Os pés pararam em frente á sua porta, e de repente não havia mais porta.

O último pensamento de Marília, enquanto gritava até a garganta estourar e sua cabeça ser amassada na parede, era de como mãos e braços tão finos e de aparência delicada tinham o poder de quebrar uma porta de tal maneira.

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- Mas que merda? Porque estão mantendo a escola fechada? - Bianca disse furiosa. - Devíamos encontrar a diretora e explicar pra ela que um garoto morreu. Não é possível! E se mais alguém se machucar?!

- Acho que é justamente isso que estão fazendo, impedindo sejá lá quem foi que fez aquilo com o garoto de fugir. - respondeu Bernardo, lendo um livro do Guinness World Records.

- Acho que devemos encontrar as chaves, que provavelmente estão na sala da diretora e dar o fora daqui. - Raul deu a idéia, com a imediata concordância de Bianca. - O que tu acha Rebeca?

- Er... eu preciso recuperar minha espada. Meu pai vai ficar uma fera comigo se algo acontecer com ela. - ela disse olhando para baixo.

- Eu vou contigo. Pegamos sua espada e encontramos vocês na sala da diretora. - Bernardo disse decidido.

Todos concordaram com a cabeça. Bianca deu um abraço forte em Bernardo. Mesmo sendo 4 minutos mais velha, ela se sentia responsável pelo irmão.

- Se cuida tá? Não vai bancar o herói.

- Se tu se machucar o Raul tá frito. - disse Bernardo alto o suficiente para Raul ouvir, que respondeu com uma risadinha.

E assim foram. Rebeca e Bernardo para a direita em direção ás salas de aula e Bianca e Raul para a esquerda para o corredor principal.

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O prédio em que estudavam era o mais longe possível de onde o garoto havia sido jogado da janela. Mesmo assim, foram em silêncio. Bernardo ia na frente com a postura de '' se algo acontecer, eu te defendo'', mesmo sabendo que se alguma merda rolasse quem ia tomar a dianteira e controle da situação seria Rebeca.

Subiram a escada em formato caracol e avistaram o corredor vazio.

Chegaram na porta da sala, e lá dentro estava Álvaro. Ele e seu 3 amigos idiotas. Um deles brincava com a espada de Rebeca enquanto que os outros revistavam algumas mochilas.

- Opa amigão, tudo bem? Então, vamos precisar dessa espada aí. Mas de resto podem continuar o que estão fazendo, belê?! - disse Bernardo em tom amigável, enquanto estendia o braço para pegar a espada.

- Humm, acho que não cara. - disse o rapaz gorducho, desferindo um golpe que pegou de raspão na orelha de Bernardo.

- Ok então.

Sem aviso prévio Bernardo levantou uma cadeira e arremessou em direção ao garoto, que deixou a espada cair e se afastou segurando o braço. Sem perder tempo Rebeca correu e pegou a espada do chão.

- Acho que terminamos por aqui né? - disse Bernardo piscando para Álvaro.

Álvaro furioso disparou em direção de Bernardo, que se jogou para trás de Rebeca. A menina deslizou por baixo do braço de Álvaro e então acertou uma pancada com a espada nas suas costas. O garoto grandão gemeu de dor e ficou mais bravo ainda.

Rebeca pegou da mão de Bernardo e correram juntos para fora da sala de aula. E lá estava a coisa, no corredor. Vestida com trapos e os poucos fios de cabelo na cabeça tapando o rosto.

- Fodeu. - Bernardo disse baixinho, puxando Rebeca para trás.

MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora