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De novo encontraram a porta trancada. Mas dessa vez Raul resolveu chutá-la até abrir. Fácil.

O corredor era maravilhoso. O chão era de porcenalato líquido, marrom escuro com uns detalhes triangulares. As paredes eram lotadas de fotos de turmas, meninas uniformizadas com uma freira ao lado, sempre em preto e branco. Bianca reconheceu algumas freiras das fotos. '' Turma de 1931''.

- Uau. - Bianca disse, em voz baixa, quase um sussurro. - Essa foto tem quase 90 anos, e a freira continua com a mesma cara. Que coisa bizarra.

O teto era repleto de lustres, nunca iguais, que deixavam uma iluminação fraca.

Conforme o corredor seguia, haviam portas de ambos os lados. ''Tesouraria'', ''Enfermaria'', ''Secretaria''. Entre duas portas, havia um painel de pedra '' Em memória do Dr. Roberto. Seu talento será eternizado.'' em letras grandes, e o resto estava preenchido com letras pequenas demais para se ler. Abaixo, uma data: inverno de 1933.

Ao fim do corredor havia uma porta dubla, de madeira com detalhes em vidro.

''Diretoria''.

Era surpreendente que durante uma situação de alerta da escola não houvesse movimentação nenhuma. ''Eles sabem de algo que nós não sabemos.'' pensou Raul.

Com a mesma técnica usada na porta do corredor, a porta da Diretoria também se abriu.

O chão era coberto por tapetes, que tinham uma aparência bem rústica. Uma escrivaninha enorme se encontrava no centro com uma cadeira também rústica atrás. As paredes eram repletas de estantes com livros, muitos deles cobertos em poeira. A iluminação, assim como no corredor, era precária, realizada por alguns lampiões e nenhuma janela. Atrás da mesa, um enorme móvel, repleto de gavetas. Em cima da mesa estava um computador e algumas pilhas de livros.

- Cadê aquela velha desgraçada? - perguntou Raul.

- Se ela não vai fazer nada, a gente vai.

Bianca se jogou na cadeira e começou a fuçar na escrivaninha. Revirou as gavetas, que estavam cheias de papelada inútil. Então foi para o computador. Enquanto isso Raul puxava as gavetas do móvel e vasculhava entre os papéis.

- Olha isso Bi, são fichários sobre cada aluno e professor que a escola já teve. 54, 53, 52... - Raul passava o dedo rapidamente entre os fichários, até encontar o que estava procurando. - Arrá! Encontrei o primeiro.

Raul puxou um conjunto de papéis quase cinzas com as bordas gastas. Com um sorriso no rosto, ele passou o dedo pelos nomes, até o sorriso sumir e Raul não acreditar no que estava vendo.

- Bi, isso não pode estar certo. A data é de 1895, e a professora é a Irmã Sophia.

Irmã Sophia se encontrava jovem na foto, com um belo sorriso.

Bianca não prestava atenção em Raul. Estava focada demais tentando descobrir a senha para o acesso ao sistema de vigilância.

- A Irmã Sophia é a diretora, Bi. Ou isso tá errado, ou ela tem mais de 130 anos de vida haha...

Raul deixou o fichário de lado e foi para o próximo, e o próximo, e o próximo. Decidiu pular alguns anos. 1930, lá estava a Irmã Sophia de novo, dessa vez já mais velha. 1940, continuava igual. Em 1950, 60, 70, também.

Olhou para a parede, e nele havia um quadro com um certificado '' Em agradecimento aos anos de serviço prestado e grande dedicação, Irmã Sophia Schulz foi condecorada Diretora da escola São Bartolomeu.'' O certificado era de 1974.

''Ao se tornar Diretora, ela parou de dar aula. Faz sentido, mas isso não explica de jeito nenhum como ela tá viva até hoje, a não ser que aqueles produtos jequiti realmente funcionem e ela usasse uma tonelada deles.'' Raul pensou.

MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora