4

4 1 0
                                    

- Caralho Max. Tu sabe que merda ta acontecendo? - Bernardo perguntou.

O faxineiro/vigia noturno de meia-idade parecia perdido. Demorou até reconhecer Bernardo, que um dia tentou comprar maconha com ele. Infelizmente ele só negociava cocaína.

- Eu nunca sei o que tá acontecendo, garoto. Ontem mesmo caí das escadas. Ou será que foi semana passada?

Max cuspiu no chão. Trabalhava naquela escola desde onde sua memória lembrava, o que não era muito.

- Precisamos chegar rápido na sala da diretora. Tu tem as chaves né?

- Er... não comigo. - Max cocaça a cicatriz no lábio superior enquanto pensava. - No meu quarto sim.

- E onde é seu quarto? - Rebeca perguntou.

- Embaixo do auditório.

- -

O segundo andar do corredor central era idêntico ao primeiro, fora o chão de madeira.

Entraram na primeira porta á esquerda. Era um quarto com uma cama de solteiro arrumada, um pequeno armário e ao lado da cama um criado-mudo. Quarto mais simples era impossível. O chão havia sido varrido aquela manhã.

- Nada de caixões. Mas depois daquilo, não duvido de nada. - Bianca comentou, relembrando o ataque da Irmã Sophia e sua mandíbula que daria inveja para algumas atrizes pornô.

As próximas portas também eram quartos. Não esperavam nada diferente, até chegaremao fim do corredor.

O último quarto em que entraram era escuro e cheirava mal. Cheirava a suor, sangue e se raiva tivesse cheiro, estaria lá também.

Este não era mobiliado como os outros. Em um canto estava uma maca inclinada verticalmente, com correntes largadas no chão. Uma mesinha metálica de dentista estava ao lado, com vários tipos de agulhas e outros equipamentos. Alguns tubos e bolsas de soro com restos de sangue estavam jogados ao lado. Toda a parede era coberta por espuma, tornando o quarto a prova de som. No caso, gritos.

Na parede oposta á maca, presas ás espumas, havia uma coleção de fotos. Bianca não conseguiu olhar, não queria olhar. Eram meninas, de 11 á 14 anos presas á maca. Algumas estavam saudáveis nas fotos, outras quase em estado de decomposição. Em algumas fotos um homem posava ao lado da ''paciente'', sempre usando uma máscara de médico, luvas, e roupas brancas. Raul começou a ligar os pontos.

'' Dr. Roberto.''

Ao canto da parede havia uma geladeira de porte pequeno.

- Deixa comigo. - Raul disse, mantendo Bianca afastada.

Lentamente Raul puxou a porta. A luz da geladeira se acendeu, revelando várias garrafas com um líquido vermelho. Sangue. Todas estavam etiquetadas com nomes. ''Schulz'' , ''Schulz ll'' e ''Carmelita''.

- Ei, a outra Irmã, aquela cega de um olho...

-A Ana? - Bianca perguntou.

- Isso. O sobrenome dela é Carmelita?

- Hum, acho que sim.

- Tem três sobrenomes aqui. Schulz, Carmelita, e Schulz 2. Tem alguma idéia do que pode ser?

- A gente já sabe que a Irmã Sophia tá metida nisso, acho que a Irmã Ana também. Mas quem é Schulz 2?

- Também não sei...

Raul andou até as fotos novamente. Puxou uma delas da parede. No verso haviam algumas anotações: ''Nome: Anastácia. Idade: 12. Resultado: parada cardíaca causada pelo coquetél.'' Puxou outras fotografias, que somente resumiam como as meninas morreram. Até que encontrou o de Maria. '' Paciente reagindo de maneira adequada ao coquetél. Efeitos colaterais: deslocamento consciente dos ossos, causando fratura exposta.''

- Deslocamento consciente dos ossos... dá pra dizer que aquilo que a Irmã Sophia fez com a mandíbula foi isso?

Bianca continuava a olhar as fotos, até encontrar algo diferente.

- Olha essa foto aqui. - ela segurava na mão uma foto, igual as outras, com o Doutor ao lado do paciente. Mas este paciente não era uma menina, nem uma criança. Era um homem de meia idade, com uma cicatriz no lábio superior. Bianca demorou um pouco até reconhecê-lo. - É MAX! O faxineiro! Ele também foi vítima. Como ele ainda tá aqui e não fez nada a respeito? No verso diz... lavagem cerebral realizada com sucesso. Mas que porra?

- Puta merda. Precisamos achá-lo.

Bianca guardou a foto no bolso de trás da calça jeans, saindo daquela sala e respirando o ar puro do corredor, desejando nunca mais ter de voltar.

- -

O quarto de Max não era algo bonito, ou confortável. A cama ficava acima do chão graças aos tijolos, e a altura do quarto era mínima, forçando o velho faxineiro a andar curvado.

Ele pegou as chaves jogadas em cima da mesa de madeira, ao lado de uma caneca que parecia ter sido usada por Jesus e seus apóstolos. Toda a iluminação era causada por uma pequeno abajur. Uma família de ratos se alojava em um sapato jogado no canto do quarto.

Não perderam tempo. Max guardou as chaves no bolso da jaqueta jeans surrada, e os 3 correram para o próximo andar.

Encontraram a porta do corredor principal arrombada.

- Oh não, isso não é bom. Nem um pouco bom... - Max pareceu entrar em algum tipo de mini-avc, chacoalhando a cabeça de um lado para o outro.

- Ei Max, relaxa cara! Vai dar tudo certo. - Bernardo disse, tentando olhar Max nos olhos.

Entraram devagar no corredor. Rebeca teve a impressão de que a temperatura havia caido drasticamente. O silêncio reinava naquele corredor mal iluminado.

Bernardo quase se deixou ser encantado pela beleza misteriosa daquele lugar, até notar a querida Irmã Ana no fim do corredor, com seu olho cego pulando entre os 3 rostos que estavam á sua frente.

- Pessoal, to com uma sensação ruim sobre isso. - Bernardo disse cochichando, enquanto andavam devagar em direção á freira.

- Eu falo com ela. - Rebeca tomou a frente, deixando a espada nas costas. - Com licença Irmã Ana, a senhora pod...

A velha segurou Rebeca pelos ombros e a jogou na parede, fazendo a menina trincar os dentes de dor. Bernardo e Max encaravam a freira que acabara de jogar uma de suas alunas na parede. Max segurava a coronha de seu revólver.

O rosto da Irmã Ana começou a mudar. Dentes brotavam do seu queixo para baixo, formando uma segunda mandíbula. Os ossos dos seus dedos se alongaram, jogando as unhas para fora e formando garras.

Max não hesitou em atirar na velha, deixando Bernardo surdo, somente ouvindo alguns estalos. Por um momento pareceu funcionar, só que não. Ana correu para frente e cravou suas garras na mão de Max, fazendo o revólver voar para perto de Rebeca, que se levantava devagar.

A primeira reação de Bernardo foi de socar o rosto da Irmã, automaticamente se arrependendo quando um dos dentes cravou na sua mão. Com uma mão segurando a dor da outra, chutou a velha no ''fazedor de xixi'', que a fez tremer as pernas e virar toda sua atenção para o rapaz. A Irmã/monstro cheio de dentes atacou Bernardo, rasgando sua camiseta e cortando seu peito, fazendo o garoto cair sentado encostado na parede.

A velha se preparava para o golpe final. '' Menos um para mijar no chão do banheiro'' ela pensou.

- -

Rebeca acordou com um barulho muito alto. Um tiro. Porém a dor nas costas e costelas não a deixavam levantar com rapidez. Então um revólver passou deslizando do seu lado, parando a poucos metros. Ela viu Max com vários dedos da mão perdidos, um deles inclusive preso no gatilho do revólver, e Bernardo no chão com a velha sobre si. Precisava fazer algo. Nem cogitou em pegar o revólver. Não era sua arma de escolha, nem sua especialidade.

Agarrou a espada de Kendo com firmeza e mordeu o lábio. Esse era seu tique de quando estava pronta.

MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora