1 - Não Importa o Que Aconteça

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O sino da escola tocou, os alunos corriam no puro extâse de saber que estavam de férias. Alguns olhavam para trás e resplandiam o local que nunca mais voltariam, enquanto outros só corriam pelo sentimento de liberdade. Gael era um destes. Tinha acabado de terminar o primeiro ano do Ensino Médio, junto com seus amigos, Noah e Helena, sabendo que teria de voltar para este mesmo lugar, no último dia de janeiro do ano seguinte, 2020.

Gael não seria um menino que se destacava na multidão, se não fosse por seu cabelo azul com meixas roxas. Tirando isso, tinha a aparência comum de um jovem da sua idade: magro de olhos castanhos com 1 metro e 72 de altura, e até que era baixo comparado aos outros homens de sua sala.

Naquele dia, ele se despidira de seus professores favoritos e de seus melhores amigos, Noah Wiseman e Helena Attan, mesmo sabendo que os veriam no dia seguinte, numa confraternização na casa de Sophia Kingsley, a patricinha de sua sala.

- Vejo vocês amanhã? - Perguntou, olhando para os olhos azuis de Helena, a menina que teria conhecido no primeiro dia de aula deste ano, depois de sua tranferência da escola mais cara do pais para uma menor e mais confortável.

- Lógico, a gente vai ficar lokão amanhã! - Disse Noah, tirando seus orbitais da tela do celular, e olhando para Gael por alguns segundos, voltando seu olhar para o celular. Desde aquele incidente, ele não é o mesmo com o menino...

Mas não é hora de se lembrar disso, pensou Gael. Agora é hora de eu relaxar e levar minha vida para frente. Afinal, somos amigos ainda, não?.

Sem perceber, o tempo havia passado, e sua mãe já tinha chegado. Ele dá seus últimos abraços nos amigos e entra no carro, jogando sua mala no banco de trás e dando um beijo na bochecha de sua mãe.

Ele nunca conheceu uma mulher tão batalhadora quanto sua mãe, Rafaela Fernandes Vilela. Nascera de uma família de fazendeiros pobres, raramente tendo algo mais que pão em sua mesa, porém, com esforço e dedicação, ela se formou em Direito, e, pouco tempo depois, Engenharia, conseguindo um pouco de dignidade para sua família. Porém, ela sempre foi uma mulher privada, nunca realmente contou nada mais que o necessário para ele, especialmente depois que o filho contou que era bisexual.

- Como foi o dia hoje na escola Gael? - Perguntou, com sua voz meiga.

- Você quer saber da parte educativa ou da parte divertida? - Respondeu o menino, rindo. - Por quê se quiser a educativa, ficará desapontada, pois não houve NADA hoje!

- Se continuar com essa atitude de adolescente rebelde e edgy na minha cara, você vai fazer NADA amanhã também! - Retrucou a mãe, ligando o rádio em uma estação de notícias qualquer.

- Poxa mãe, nem posso brincar com você! - Bufa o garoto. - Bom, a gente teve uma conversa sobre o que esperamos do ano que vêm, demos despedidas para a Johanna, que está indo morar na Austrália no intercâmbio, e enquanto a sala ficava jogando Porco, eu fui e passei as últimas horas do dia com a professora de redação, falando sobre o Talent do ano que vem.

- Você vai fazer essa coisa de novo? Você sempre tá reclamando que não tem tempo para nada, se não fizesse isso teria tanto tempo livre ano que vem, poderia até terminar seu curso de inglês!

- Mãe, eu não faço o Talent Show por fama, ou coisa do tipo. Eu faço por que é uma honra poder fazer parte de um evento tão bonito. Eu queria realmente poder cantar como metade das garotas cantam, ou dançar tão bem quanto os garotos, mas eu ajudo do jeito que eu posso, e é o mínimo que eu posso fazer! - Disse o garoto, com um tom irritado, como se já tivesse dito a mesma coisa mil vezes antes.

- Eu sei filho, eu sei... - Respondeu a mulher, suspirando, e parando a conversa por ali. Colocou seu óculos de sol e focou na rua. Gael coloca seus fones de ouvido e deixa tocar suas músicas favoritas, não querendo saber de mais nada. Foda-se os problemas com o bullying, foda-se os problemas com sua família, foda-se os problemas com suas notas, foda-se o mundo. Sua viagem de carro era algo sagrado, um momento de paz e reflexão, e não deixaria nada, nem mesmo a desaprovação de sua mãe lhe irritar.

Deve ter passado 6, 7 das músicas de sua playlist no Spotify, pois já estava em casa. Gael abre a porta do carro, saindo dele junto com sua mochila. Ele olha para o apartamento e suspira, nunca gostara de morar lá, preferia a casa que morava na Granja Vianna, mas fora obrigado a se mudar depois do divórcio da sua mãe e do seu "pai". Ele olha para trás e fecha a porta do carro, permitindo que sua mãe continue o caminho dela pelo trânsito caótico da cidade, enquanto ele sobe os degrais para a portaria.

- Bom dia Gael! - Disse o porteiro, abrindo a porta para o menino. O porteiro é uma das pessoas mais simpáticas do prédio, sempre comprimentando e mostrando sua preocupação ao bem estar de todos.

- Bom dia seu Porto - Respondeu o menino, adentrando o edifício. Foi até o elevador e apertou o botão, tirando seu celular do bolso e olhando suas mensagens.

O grupo da sala tá bombando... o pessoal deve tá falando da festa de amanhã, pensou o garoto, e o grupo da fandom também tá falando mais que o normal, será que estão marcando um evento?

Gael, curioso, destrava o celular e olha o grupo do fandom, e descobre que pensou corretamente: O fandom está se reunindo novamente para um festival de cosplay no Parque Ibirapuera.

Finalmente vou conseguir ver esses putos denovo, faz quase 8 meses que a gente não se reúne para um evento, pensava o garoto, olhando pelas mensagens, e vendo a data que estava circulando no grupo, dia 20 de Janeiro de 2020.

O elevador chegou e ele finalmente entra, enquanto responde umas mensagens do grupo e de suas conversas privadas, e aperta o botão de seu andar, o 8º, e as portas começam a se fechar. Quando as portas estavam prestes a se encostar, alguém vem correndo e coloca seu braço no meio das portas do elevador, que quase não tem tempo para os sensores detectarem o membro e abrirem as portas para revelar Jordan Verantwor, um menino de sua escola, da sala do 2º ano do Ensino Médio, e que era seu crush.

- Opa, parece que dei sorte - Diz o menino, entrando com um sorriso no rosto - Tudo bom, sou o Jordan! - Ele ia colocar a mão para frente para comprimentar Gael, mas percebe que já o tinha visto em algum lugar.

- Oi Jordan, eu sou da mesma escola que você, sou do 1º do Médio... - Gael responde, na esperança de que o outro lêmbre-se de quem ele é

- Gael? Cara, eu não sabia que você morava aqui! Como você tá? - Pergunta ele, clicando no botão do 5º andar.

- É, eu moro aqui sim - Diz, rindo fracamente - Eu tô cansado, finalmente vou poder dormir, mas amanhã tem a festa da Sophia Kingsley...

- Cara, essa festa vai ser toppersom! - Disse Jordan, animado. - Minha sala inteira vai!

Gael mordeu os lábios. Esse não seria seu primeiro rolê, mas seria o primeiro com Jordan Verantwor.

O elevador chega no andar do menino, e ele sai, não antes de olhar Gael nos olhos e perguntar:

- Te vejo lá?

- Sim - Sorriu Gael, esperando as portas se fecharem para despencar no elevador. Ele poderia ser um jovem extrovertido, mas era bem introvertido em questões amorosas. O coração dele acelerava com a ideia de conseguir pegar seu crush na festa da patricinha.

Finalmente, o elevador chega em seu andar e o garoto sai dele, pega a chave de sua casa e adentra o recinto, jogando sua mala num canto e indo para a varanda do apartamento, olhar o pôr-do-sol.

Esta hora amanhã, pensou Gael, eu estarei beijando Jordan Verantwor, não importa o quê aconteça.

Foi então que uma dor de cabeça o atingiu, e ele fecha seus olhos, e, ao abri-los, fica pasmo, e lembra a razão de sua vida não ser uma normal.

Coração de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora