4 - É Meu Dever Te Proteger

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Gael se esforçou ao máximo para "parecer normal" durante o Natal. Foi para a casa de sua avó, Ofélia, em Cesário Lange, e está lá até agora, dia 31 de Dezembro de 2019, véspera de Ano Novo.

- Gael, para de brisar e vem me ajudar a tomar conta desses demônios que são nossos primos - Disse Samara, uma das prima de Gael. Ela tinha 18 anos de idade, e estava para entrar na USP em 2020.

- Ah, já tô indo Sam.

E então, os dois sairam da grande estrutura que era a casa da avó, que tinha 5 quartos, com 12 camas no total, bastante o suficiente para a família toda, foram andando pelo caminho de grama que fazia parte das terras da idosa, que ia se estreitando até chegar perto do portão de madeira, que, a sua direita, ficava um escorregador construído pelo seu falecido avô, José. Nele, estavam Emma e Michael, filhos da filha mais nova de dona Ofélia, a Letícia.

- Gael! Sammy! Venham escorregar com a gente! - Dizia cheia de emoção a Emma, uma menina já nos seus 10 anos de idade, e que era muito mais homem que vários garotos da idade do Gael. Ela fazia Karatê, Judô e Krav Maga, e realmente gostava de dar uma surra nos outros.

Passaram-se horas que Gael e Samara ficaram lá, cuidando de seus primos, aproveitando a ponta de internet que aparecia do nada para olhar suas redes sociais, e foram atualizando o que já não tinham falado um para o outro durante o percorrer de sua estadia juntos na casa da avó. No caso de Samara, ela contava das suas aventuras, normalmente sexuais, com seu namorado, o Ian. Gael ficou aliviado que ela tinha tanto assunto para falar, pois a única coisa que não contara para ela ainda era sobre o que aconteceu na festa de Sophia Kingsley.

- Ah, e a melhor parte é que nós fomos para a festa da Sophia Kingsley, aquela menina da sua sala, sabe? A tia disse que você foi, mas não te encontrei lá! Onde você tava?

- Ah... é... é uma longa história - Retrucou Gael, negando com a cabeça, revivendo todos os curtos momentos que esteve na festa antes de perder a consciência, e sua virginidade, contra sua vontade.

- Aaah... pera ai... você conseguiu ficar com aquele cara que você não parava de falar sobre no seu aniversário? Qual que era o nome... Jorge? João? ... JORDAN! Você ficou com ele? - Perguntava a garota, batendo de leve no braço do garoto, querendo uma resposta.

Gael ficou vermelho. Ele sempre odiou como Sam constantemente tem uma memória tão boa para segredos e fofoca. Num ato de coragem e de desespero, ele suspirou, olhando para os lados, vendo que as crianças estavam distraídas demais brincando no meio do pomar de sua avó para ouvir qualquer coisa, e fala bem alto e rápido.

- Sim eu fiquei com o Jordan, e ele me estuprou.

Sam ficou sem palavras, a garota que esperava uma resposta mais meiga e feliz foi acertada na cara com uma voadora, que leva ela a mexer a cabeça para trás e cerrar os olhos.

- Você tá me zoando né? Eu não acredito nisso, nem um pouco. Você sempre me falou que...

- Sam...

- ... que Jordan é um cara bacana e legal, que faz gestos voluntários e vai a noite dar marmita para os mendigos, isso não condiz com o caráter dele! - Gritou a menina, de forma revoltada, como se achasse um insulto a sua pessoa o que o garoto tinha acabado de falar para ela, como se a história de ser estuprado fosse uma piada de mal gosto.

- Sam, eu nunca mentiria sobre algo desse nível... ele me estuprou e me largou numa lata de lixo no meio de Osasco... - Falou Gael, cabisbaixo, pois nem mesmo sua prima favorita acreditava nele.

Samara não falou mais nenhuma palavra, apenas levantou e saiu marchando em direção a casa, numa forma de se rebelar aos "jogos de mal gosto e sem graça" do Gael.

Coração de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora