Isabella andou a passos largos, tentando manter distância, pois sentia medo que de alguma forma a batida forte do seu coração pudesse ser ouvida por Oliver. Ele não a tocou realmente, apenas segurou seu cabelo. No entanto, toda sua pele formigava. Sua respiração estava irregular também. Portanto, era imprescindível ficar longe de Oliver Crane, até que seu corpo parasse de agir por vontade própria. Poucos instantes depois, porém, ele já estava novamente ao seu lado. Com a acusação de que ela tentava trapacear ao se afastar, os dois se viram obrigados a andar no mesmo compasso novamente. A princípio foi esquisito. Eles não se lembravam da última vez que ocuparam o mesmo ambiente sem distribuir insultos e irritarem um ao outro. Mas como o silêncio não era uma opção, graças à regra ridícula dele, Isabella forçou-se a tentar conversar civilizadamente.
Ela pediu que lhe explicasse o que sabia sobre cada flor e árvore do Hyde Park. Botânica era o assunto preferido de Oliver, ele aprendeu com o pai. Por isso, ele se entusiasmou e começou a explicar os nomes científicos, lugar de origem e curiosidades sobre praticamente toda flora que existia ali. Surpreso, ele percebeu que Isabella não se mostrava entediada, chegou até a fazer algumas perguntas, com curiosidade. No fim, aquela foi uma manhã agradável.
– Agora é minha vez. – anunciou Isabella, com divertimento, enquanto eles retornavam pelo caminho, para irem embora. – Deixe-me ver. Oh, isto aqui é uma... – ela balançou a mão, com suspense. – folha! A cor dela é verde, existem vários tamanhos e formatos diferentes e sua principal função é cair no chão quando o outono chega. E aquilo ali se chama grama. Por falta de criatividade da mãe natureza sua cor também é verde. Ela serve para ser pisada e esconder formigas da vista humana.
– Impressionante. – Oliver elogiou, esboçando um sorriso zombeteiro. – Eu não fazia ideia que você era um poço de conhecimento relevante.
– Eu mantenho isso em segredo, não quero que ninguém se sinta diminuído com a minha intelectualidade. – ela brincou, batendo de leve em seu ombro.
– Você daria uma excelente botânica. – disse ele, e pela primeira vez no dia, Oliver ofereceu o braço a ela, como um cavalheiro deveria ter feito desde o início.
– Quem sabe um dia eu não venha ter uma linda estufa só para mim, como você e tio Phillip tem. – ela repousou a mão enluvada na curva do braço dele, sentindo-se confortável.
Quem sabe um dia eles não tivessem uma estufa juntos.
Ele apressou-se em reprimir aquele pensamento tortuoso. Eles nunca estariam juntos. Não dessa maneira. Provavelmente o tempo sozinho no campo começara a prejudicar seu discernimento. Não que ele tivesse completamente sozinho. Tinha seus encontros amorosos periódicos com uma viúva, que morava nas redondezas. Mas, talvez devesse lhe visitar com mais frequência, ele ponderou, pois seu corpo estava despertando de um jeito muito impróprio naquele momento. O perfume de Isabella estava lhe afetando. E o som que ela produzia toda vez que ria de si mesma lhe causava fisgadas onde não devia.
E ainda tinha o restante do dia com ela ao seu lado.
Na hora do almoço eles deveriam se dirigir à Casa Bridgerton, onde toda a família estava reunida. No entanto, não o fizeram. Em vez disso, eles foram a uma confeitaria e conversaram sobre nada em específico, basicamente falaram sobres as histórias vergonhosas dos pais e tios. Depois foram visitar a exposição de quadros de renomado artista francês, que havia acabado de estrear.
– Além do notório conhecimento de botânica, você entende algo sobre artes? – perguntou Oliver, com ironia, assim que entraram numa sala repleta de quadros.
– Não entendo nada sobre obras de arte, mas posso fingir se desejar – respondeu ela, sorrindo, à medida que se aproximava de uma pintura de uma bela menina.
– Não precisa. Talvez... – Ele fez uma pausa. – Você possa apenas me dizer sua opinião sobre este quadro.
Isabella encarou rapidamente o retrado pintado de uma criança, e depois girou um pouco o pescoço para olhar para Oliver. Ela não conhecia muitos homens dispostos a ouvi-la. Naquele instante ela percebeu que ganharia a aposta. Não era presunção sua, realmente tinha chances de ganhar. Porque enquanto estava ali ao lado dele, ela se sentia leve, havia tranquilidade na conversa, a presença dele trazia certo aconchego. Ela podia baixar a guarda, não sentia mais necessidade de atacá-lo. Sentia-se bem.
– Eu acho a expressão da criança lamentável. – Ela opinou, voltando a olhar o quadro. – Ela possivelmente está aborrecida por ter sido impedida de brincar e obrigada a ficar parada, posando ao pintor. É como se eu estivesse lá em tempo real, vendo como seus pais forçaram-na a ficar quieta. Pela leve vermelhidão na parte inferior percebe-se que a menina esteve chorando por um tempo. É um quadro triste.
– Não gostou, então. – deduziu ele, indo em direção a próxima obra.
Isabella permaneceu inerte, ainda fitando o rosto pintado da menina.
– Eu adorei este quadro. – revelou, aumentando o tom de voz, para que Oliver a escutasse.
Ele parou e voltou-se para ela.
– Apesar de ser uma imagem triste?
– Exatamente por este motivo. – ela confessou. Sua boca se movia para falar com ele, porém seu olhar permanecia cativo pela tela à sua frente. – Para quê pintar um ser humano, se não for para retratar a realidade. Este artista se atentou a cada detalhe, respeitou o dilema juvenil em que ela se encontrava. Ele poderia ter-lhe desenhado de forma distinta, mais agradável aos olhos do público, sem a vermelhidão do choro, com feições mais risonhas, no entanto, o pintor optou em achar beleza em quem a menina realmente era, estivesse chorando ou sorrindo.
Oliver não disse nada. Enquanto Isabella admirava a pintura, ele a admirava. E ela era realmente admirável. Era inteligente. Podia fazer até a pessoa mais taciturna cair na gargalhada. Não era fresca ou enjoada, como a maioria das jovens. Ele praticamente a viu nascer, a segurou no colo quando nem dentes ainda ela tinha. Eles brincaram juntos em algumas ocasiões. Depois o tempo trouxe mudanças. Ele se tornou adulto, ela ainda era uma menina, que corria descalço pela casa. Contudo naquele preciso momento em que Isabella encarava o quadro, e ele a devorava com olhar, uma conclusão assustadora o sobreveio. Ambos eram adultos. Ela era uma mulher deslumbrante, com uma personalidade envolvente, e Oliver... Bem, Oliver era um idiota por ter aceito a aposta.
Ela iria ganhar.
Não importava se ela era uma brisa ou um furacão.
Isabella já havia provado que era muito mais que ele imaginava.
– Então devemos comprar este quadro. – anunciou ele, antes que a situação toda ficasse embaraçosa.
– Devemos?
– Eu vou comprar, quero dizer. – Oliver se aproximou do quadro, posicionando-se ao lado de Isabella. – Será um presente meu para você.
Ela se retraiu, engolindo em seco.
Então contou até dez. Depois falou.
– Tem certeza? Você já irá perder cinquenta libras hoje. – Ela sorriu maliciosamente. Ele sorriu de volta. – Não precisa gastar mais comprando este quadro.
– Não preciso. – ele concordou. – Mas quero comprá-lo para você.
Ela corou instantaneamente. Não conseguia entender por que ele estava agindo assim. De repente, era como se ela fosse de novo aquela menina de sete anos de idade, encontrando na simples presença de Oliver um motivo para sorrir.
Ela sorriu. Agradeceu pelo quadro. Depois sorriu mais uma vez. E quando foram acertar os trâmites da venda do quadro, ela retornou a sorrir. Até chegar ao momento em que ela perdeu a conta dos sorrisos. Porque ela estava contando os seus próprios e os deles. E eram muitos.
Ao deixarem a galeria, eles foram andando pela calçada, sem saber ao certo qual seria o próximo passeio. Em certo ponto, acabaram por esbarrar com um grupo de senhoritas. Oliver observou quando as jovens pararam e começaram a acenar, chamando por Isabella. Elas não se aproximaram, pois ele era um homem, um homem que nunca tinha sido apresentado a nenhuma delas. Percebendo o inconveniente, ele inventou a desculpa de que precisava comprar algo em uma loja e a deixou a sós com a acompanhante, para que pudesse conversar com as amigas.
Um pouco mais tarde, Oliver retornou no exato momento em que Isabella simplesmente dava uma forte pisada no pé de uma das jovens. Ele ficou parado, apenas observando a cena, se sentindo cada vez mais confuso.
– Esse é um dos maus modos que eu aprendi com minha bisavó. – disse ela severamente para a senhorita que prendia o choro. – Sorte sua eu ainda ser muito jovem para usar uma bengala.
Enquanto o grupo de mulheres a fitava estarrecidas com sua atitude, Isabella as encarava com ódio, suas bochechas estavam quase da cor do cabelo, a respiração estava curta. Ela estava imensamente irritada. Com um aceno de mão, ela dispensou as jovens e saiu pisando forte. Quando viu que ele estava ali, assistindo tudo, seu coração murchou, um vislumbre de vergonha passou pelo seu rosto, mas ela não se importou. Ou fingiu não se importar.
– Muito bem. Você ganhou a aposta. Vamos embora.
Ele havia ganhado realmente. Ele nunca a tinha visto tão alterada.
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[FANFIC] A rebelde Isabella St. Clair
Fanfic*** TODOS OS CAPÍTULOS POSTADOS *** Essa é uma fanfic inspirada nos personagens da série Bridgertons da Julia Quinn. Espero que gostem 😉 Quando os sangues de Hyacinth Bridgerton e Lady Danbury se misturam... Isabella St Clair tem fartos motivos par...