Capítulo 4

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O problema era que uma vez que a aposta tivesse fim, não haveria mais motivo para estarem juntos pelo restante do dia. Era a aposta que os unia. E aquele dia com ela era tudo que Oliver tinha. No dia seguinte eles retornariam ao seu habitual campo de batalha, Isabella não teria mais cinquenta libras como motivo para estar com ele. Dane-se a aposta! Ele queria aquele dia com ela.
– Nada disso! – reverberou ele, correndo para alcançá-la. – A aposta continua de pé.
Assim que ouviu as palavras Isabella parou, voltando-se para encará-lo com uma expressão incrédula.
– Eu não entendo. – disse, desconfiada. – Ficou bem claro para nós dois que eu acabo de perder a aposta.
Ele não tinha bons argumentos para convencê-la.
– Eu não vejo deste modo. – disse ele cautelosamente.
Ela cruzou os braços, sentindo imediata desconfiança.
– E como você vê, Oliver?
Ele não fazia ideia de como responder a isso. Chegou a pensar em pedir como prêmio o restante do dia com ela, mas seria algo tolo a se fazer. Já tinha uma recompensa em mente. E caso ele ganhasse – esperava que isso acontecesse somente no fim da noite – o prêmio tinha que ser aquele.
– Bom... – ele pigarreou para ganhar tempo. – A aposta foi feita entre você e eu, o que acontece com outras pessoas não me diz respeito. Então, a menos que você pise no meu pé, esta aposta continua valendo. Já decidiu o próximo passeio?
Isabella piscou perplexa. Quem era aquele homem? E o que acontecera com o verdadeiro Oliver Crane?
– Tudo bem então. – ela deu de ombros. – Se você diz.
Ela voltou a andar e subiu na carruagem. Assim que estava afastada dele suspirou aliviada. Havia ficado com raiva por protagonizar uma cena na frente daquelas pessoas, certamente o acontecido se espalharia até sua mãe tomar conhecimento. No entanto, sua decepção maior foi ter perdido tão precocemente a aposta. Aquele dia já não se resumia mais em uma disputa tola. O que ela verdadeiramente almejava era mais tempo com ele. Um dia que durasse mais vinte quatro horas. Talvez setenta e duas horas. Se fosse possível, um dia que não terminasse nunca, Isabella desejou. Felizmente recebera uma segunda chance. Ganhou mais algumas horas.
– Nós não podemos mais passear essa tarde. – declarou ela, logo depois que ele entrou na carruagem.
– Como não? – protestou ele, elevando o tom de voz. – Está tentando trapacear?
Ela revirou os olhos.
– Se eu estivesse tentando trapacear acha que eu revelaria isso respondendo a uma pergunta?
Ele ignorou seu questionamento.
– O que pretende, Isabella?
Naquele instante ela teve um enorme desejo de discutir com ele, mas resistiu.
– Todas as quartas eu passo a tarde com minha bisavó. Desde que passou a usar cadeira de rodas ela passa a maior parte do tempo em casa. E dada a sua peculiar personalidade ela não recebe muitas visitas. Por isso, não gosto de desmarcar minhas idas até lá.  Além disso, quando eu desmarco, minha bisa faz com que eu me arrependa amargamente.
Oliver fez que sim com a cabeça.
– Vou pedir ao cocheiro que a leve à casa de lady Danbury; eu vou voltar para a casa do tio Anthony.
– Obrigada. Por tudo. O dia foi inesperadamente suportável.
Ele riu.
– Cuidado para não inflar demais o meu ego com esse tipo de elogio.
Subitamente envergonhada, ela o fitou nos olhos.
– Oliver. – ela tentou novamente. – foi divertido. Muito obrigada.
Os dois seguiram em silêncio, cada um com a sua cabeça borbulhando de pensamentos. Ele queria perguntar se poderiam se ver de novo no dia seguinte. Ela queria parar de pensar nele e concentrar seus pensamentos na Itália. A carruagem fez os últimos movimentos antes de parar por completo e Oliver a ajudou a descer do veículo.
– Nos vemos no baile. – ele se despediu.
– Sim, claro. – disse Isabella, e então por uma razão desconhecida, acrescentou: – A não ser que você deseje entrar, a bisa ficaria feliz com a sua visita.
E ali naquela hora foi provada a existência de Deus. E Deus era misericordioso. E simpatizava com Oliver.
– Eu ficaria encantado em ver Lady Danbury. – respondeu, esforçando-se para disfarçar a alegria.
Sim, ele estava feliz por passar a tarde na companhia de lady D.
Que o chamassem de louco! Ele não se importava.
Lady Danbury era alguém que uma pessoa poderia classificar como amedrontadora, se esta pessoa gostasse de fazer uso de eufemismo. Seu caráter excessivamente franco era conhecido e temido por toda Londres, porém, os poucos que conseguiam gostar dela, faziam efusivamente. Oliver compunha a minoria. Ele gostava daquela senhora.
– Vejo que terei que pedir ao mordomo para que traga mais sanduíches. – disse Lady D. ao ver Oliver entrar na sala logo após Isabella.
– Bisa, eu trouxe Oliver comigo. – anunciou ela, para preencher o vazio.
– Eu sei, menina. Não sou cega. – A condessa fechou a cara. – Pelo menos não ainda.
Isabella aproximou-se mais de Oliver.
– Não ligue para ela, a bisa conseguiu a façanha de ficar ainda mais rabugenta. – sussurrou, para que apenas ele ouvisse. – Ela não faz por mal, é a velhice.
– O que os dois estão cochichando? – ralhou Lady Danbury.
– Nada, bisa.
– Eu não estou surda. – argumentou a senhora. – Pelo menos não...
– Ainda. – Isabella e Oliver completaram ao mesmo tempo.
Lady D. bufou, descontente.
– Humpf! – sibilou ela. E então virou o rosto.
Sua bisneta respirou fundo. Procurava sempre manter a calma, por mais que fosse alguém direta e impulsiva, jamais se permitiu que isso de qualquer forma a impedisse de amar e cuidar de sua bisavó incondicionalmente.
– A senhora está com dores? – Isabella perguntou.
– Não! – mentiu a bisavó.
Era nítido que sentia dor.
– Eu vou buscar seu elixir e já volto. – anunciou ela a Lady D. e logo saiu antes que a bisavó protestasse.
Uma vez que restaram apenas ele e lady D. na sala, Oliver não viu outra opção se não puxar assunto.
– Eu sinto muito se a minha visita a pegou de surpresa, condessa. Não queria incomodá-la.
– Não seja tolo. Você não me incomoda. Eu tenho inúmeros ossos no meu corpo incomodando-me, você não seria páreo para competir com eles.
Ele sorriu, bem humorado.
– Fico feliz em saber.
Isabella voltou e eclodiu-se uma guerra para convencer Lady Danbury a tomar o remédio. Por fim a condessa concordou, mas não sem reclamar a cada gota que ingeria. Oliver falou pouco, limitou-se a observá-las interagir. Elas eram tão parecidas, e por mais que não trocassem palavras de afeto, o sentimento estava ali. Amor. E o verbo também estava. Amar. Isabella leu para a bisavó. Depois tocou piano. Quando Lady D. soltou baixos gemidos, ela compreendeu, então começou a massagear suas costas. Ela era uma mulher madura lidando com um problema. Oliver a olhava impressionado.
– Vá buscar minha bengala. – ordenou lady Danbury, uma certa hora.
Isabella arqueou a sobrancelha, em alerta.
– Para quê a senhora precisa dela?
– Apenas vá! – Lady D. balançou a mão, ordenando que fosse.
Ela obedeceu contrariada.
Oliver se empertigou na cadeira, ao notar que eram apenas ele e a condessa outra vez.
– Por que você esta aqui com a minha bisneta? Vocês não se gostam. – disse Lady Danbury. – Há sempre muita tensão entre vocês.
– Nós estamos nos esforçando para coexistir cordialmente. – justificou ele, inexpressivo.
– Bobagem! – desdenhou ela. – Você a quer.
– Não. – ele protestou, franzindo o cenho.
– Você respondeu rápido demais, meu rapaz. Me faz pensar que trata-se de uma resposta ensaiada e não algo vindo direto do coração.
Ele ficou em silêncio.
– Rá! – Comemorou lady D.
– Não é o que a senhora está pensando.
– Duvido muito.
Oliver exalou lentamente, não devia ter ido até ali.
– Você vai dizer a ela? – inquiriu a condessa.
– Não há nada a ser dito. – ele afirmou.
– Humpf! – ela se retraiu. – Você é teimoso que nem uma mula.

[FANFIC] A rebelde Isabella St. ClairOnde histórias criam vida. Descubra agora