17 De Fevereiro

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Hoje eu estava realmente cansada. Parecia que o mundo estava em meus ombros o que consequentemente me deixava irritada. Logo que sai de casa dei de cara com meu vizinho (que por sinal tinha uma bunda e uns braços que, Deus me acuda!), conversei com ele pedindo para a namorada dele gemer mais baixo já que eu tinha uma criança de apenas 5 anos em casa (e eu não estou afim de dizer para o meu filho o que é sexo agora) e ele prontamente disse que faria o possível.

Terminei de arrumar Gustavo e dei seu café da manhã. Peguei minha bolsa e a mochila do meu filho saindo de casa e quando entrei no elevador o vizinho entrou em seguida vestindo um terno de três peças maravilhoso. Ele coloca as mãos na frente do corpo e eu fico olhando para as portas do elevador.

Quase saio correndo daquele cubículo miserável por causa daquele cheiro maravilhoso daquele homem mas me controlei antes de fazer alguma coisa que eu me arrependa.

Depois de deixar meu filho na escolinha parto pro hospital onde eu tenho uma cirurgia marcada para agora de manhã. Troquei minha roupa para o uniforme e coloquei meu jaleco indo para o quarto da minha paciente.

Suzanne Rose, era uma mulher de 37 anos que tinha histórico de câncer de colón na família praticamente passada de geração em geração. Ela procurou ao hospital a algum tempo e pediu uma cervicectomia que é uma cirurgia para a remoção do colo do útero. É uma decisão arriscada da parte dela já que ela poderia fazer outros tipos de procedimentos cirúrgico ou poderia nem ter a doença, mas eu não posso interferir com a decisão do paciente.

Entrei em seu quarto e conversei com ela sobre os riscos da cirurgia como deve ser feito, na presença dos residentes que estavam ali para aprender.

Mais ou menos uma hora depois eu estava pronta para a cirurgia.

Ouvindo Buscando Huellas eu já tinha aberto a paciente com o bisturi e o afastador e estava com minhas mãos dentro dela chegando no local onde o procedimento seria realizado. Utilizando a pinça de Pozzi que me ajuda a segurar o colo fiz a incisão necessária. Pedi que fizessem a sucção o que me deu uma visão melhor e quando fui suturar para evitar a hemorragia uma enfermeira entra na sala.

Não me virei para ela e continuei a fazer meu trabalho fazendo as suturas utilizando as pinças hemostáticas curvas. Ela me disse, as seguintes palavras, “ligaram do colégio do seu filho. Disseram que...não conseguem encontra-lo.”

Me virei tao rapidamente para ela que quase cometo um erro. Pedi que repetisse já que parecia ser coisa da minha cabeça e quando ela relatou o que a diretora disse eu fiquei quase estática.

Respirei fundo naquela hora e agradeci a enfermeira. Continuei meu trabalho aflita e o mais rápido que eu podia sem afetar nada que eu não deveria. Quando o meu trabalho estava completamente feito olhei para o meu residente e disse “se tiver uma única linha fora do lugar, eu cuidarei para que você não tenha que costurar mais nada. Venha até aqui e termine para mim.”.

Sai que nem louca da sala e corri para fora indo até a sala do Staff para pegar minha bolsa. Sai do hospital entrando no meu carro e dirigi apressada até o colégio do meu filho para resolver o problema.

Gritei tanto com a diretora que acho que ela quase chamou o segurança para me prender, mas antes que eu fizesse um barraco maior meu filho foi achado.

Gustavo me abraçou com seu rostinho inchado e eu soube que ele estava chorando. Meu filho me contou que os coleguinhas dele disseram que eu não era sua mãe de verdade e eu senti meu coração quebrar por meu filho.

Levei ele para o hospital comigo e fui até a sala de descanso o colocando no meu colo quando me sentei no sofá.

“Filho, eu vou te contar uma história.” Eu comecei e ele logo deitou a cabeça no meu peito para ouvir. “Existia em um reino uma rainha que não tinha um rei, e essa rainha teve um pequeno príncipe. Só que quando esse príncipe nasceu, a rainha teve que voltar para a casa dela no céu e então esse pequeno príncipe foi levado até uma outra rainha de um reino próximo e essa rainha se tornou a mãezinha verdadeira desse príncipe.”

“mamãe, você é a minha mãezinha verdadeira?”. Eu sorri por meu filho ser tão inteligente e beijei seu cabelo. “sou filho, eu sou sua mãezinha.″

E no final, eu estava feliz, porque meu filho, por mais pequeno que ele ainda fosse, ele era inteligente e estava feliz comigo.

A. Redmersky

Diário de uma Médica Onde histórias criam vida. Descubra agora