4° Capítulo

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O sorriso simpático sumiu da face de Amelia ao reconhecer aquela voz. Sua vista embaçou mas ela ainda assim pôde ver aquele rosto que tentava ser coberto de todas as formas.

- Benedict?! – Ela se ouviu dizer.

- Ei, fala mais baixo. – Ele deu uma risadinha – Tirei muita neve dos chalés pra manter o disfarce, então...

- Claro, me desculpe. – Ela disse, se certificando que ninguém havia escutado – Ei, o que está fazendo aqui?

- Eu vim te ver. – Ele disse imediatamente, e depois retomou com um tom decepcionado – Mas você não pareceu estar muito feliz por isso.

- Tá brincando?! Eu estou mega feliz, só fiquei um pouco assustada. Não é todo dia que meu ídolo resolve falar comigo.

- Ei, Amy, vem logo! – Rose gritou de uma longa distância.

- Já vou. – Ela gritou de volta – Ei, se for pra proteger o seu disfarce de zelador, eu vou ter que ir agora.

- Eu sei, mas eu posso te esperar lá no chalé pela madrugada?

- Mas eu pensei que você não quisesse...

- Mudei de ideia. – Ele cortou – E mais tarde falamos sobre isso. Vai até suas amigas e não se esqueça de que ninguém pode saber.

- Eu estarei lá assim que todos forem dormir.

- Vou estar te esperando. – Ele deu uma piscada, que a fez sorrir. Ela se juntou as amigas e ele deu um jeito de sair dali sem terminar o seu trabalho gratuito de zelador.

- Sobre o que tanto conversou com o zelador? – Melissa perguntou.

- Nada de muito interessante, eu fui ser simpática e desejar um bom dia e o cara era tão carente que puxou um assunto louco. – Ela riu – Mas ele é um cara legal.

- E estranho. – Rose completou.

- Ei, meninas, vocês estão pensando em madrugar hoje? – Amelia perguntou de repente.

- Provavelmente. – Melissa disse – Você vai?

- Hoje não. – Ela disse rápido – Está sendo sacrificante demais dormir faltando duas ou três horas para acordar.

- Está mesmo. – Rose disse – Fico morcegando o dia inteiro.

- Acho melhor a gente descansar hoje, ter uma noite completa de sono, assim teremos mais disposição no dia seguinte.

- Você tem razão. – Melissa concordou.

O dia passou devagar, lentamente, como se o relógio estivesse parado ou até mesmo voltando no tempo, coisa que só acontece quando o desejo de que o tempo passe rápido é gigantesco. Amelia comemorou quando o céu escureceu e mais ainda quando o toque de recolhimento soou. Todos tomaram o caminho de seus dormitórios e aos poucos o chalé ficou completamente silencioso. No entanto, se manter acordada naquelas condições não foi uma tarefa fácil, mas Amelia se deu bem e, na primeira oportunidade que teve, desceu da beliche tomando todo cuidado do mundo para não fazer barulho – o que certamente foi em vão, já que ela rangia demais – e calçou suas botas, o casaco por cima do suéter e se pôs a caminho da floresta, sendo ainda mais cautelosa do que da última vez, para não correr o risco de chamar atenção novamente.

Ao cruzar a faixa amarela e passar pelas árvores que já pareciam tão familiares, ela sentiu ansiedade e quase continuou o seu caminho correndo, mas isso só serviria para chegar lá suada, se é que ela conseguiria suar naquele frio de congelar os ossos. Mal avistou o chalé do ator e ele apareceu com um largo sorriso estampado no rosto.

- Pensei que não viria mais. – Ele disse.

- Mas eu prometi que viria.

- Eu sei, e isso me motivou a não dormir. – Ele lançou um olhar que fez ela querer se jogar nos braços dele. – O que te fez demorar tanto?

- Bom, as meninas do meu dormitório não dormiam de jeito nenhum.

- Entendo. Bem, você nem demorou muito, eu é que estava ansioso.

- Eu também estava.

- Mesmo? – Ele franziu o cenho.

- Óbvio. Quer dizer... bem, eu...

- Ei. – Ele cortou ao perceber que ela havia ficado sem jeito – Não vamos ficar parados aqui a madrugada toda, não é?

- Você tem alguma ideia?

- É claro que sim. – Ele pegou a mão dela e caminhou com ela pela floresta, sem soltá-la, o que fez ela ficar com um sorriso congelado.

- Pra onde vamos? – Ela perguntou.

- Calma, já estamos chegando.

Mais cinco minutos e eles estavam na frente de um lago congelado.

- Nossa... isso é lindo. – Ela disse – De verdade.

- Eu sei, gosto de vir pra cá. Passo realmente muito tempo aqui.

- Podia ter um lago desses perto do acampamento. Certeza de que todo mundo ia gostar.

- Está dizendo isso e ainda nem experimentou patinar nele.

- Sem botas pra isso?

Ele gargalhou.

- Não é necessário botas aqui, Amelia.

- Benedict, será que você poderia me chamar só de Amy?

- Claro, Amy. – Ele sorriu – Amy Pond.

- Ou quase isso.

- É uma fã de Doctor Who também?

- Exatamente.

- E provavelmente já te disseram que você é a cara da Karen Gillan.

- O tempo todo. – Ela sorriu tímida.

- Mas sabe, seus olhos são azuis intensos e os dela não. E o seu rosto é ainda mais delicado. – Ele colocou uma larga mecha dos cabelos dela para trás da orelha. – Eu poderia apostar todo o meu dinheiro que você vai ficar ainda mais bonita do que a Karen.

- Ah, Benedict, isso não vai mesmo acontecer.

- Quem te garante? – Ele riu – Eu acredito piamente que vai.

Antes que ela pudesse responder qualquer coisa, ele a puxou consigo por cima do lago congelado, e os dois escorregaram até a metade do mesmo, onde Amelia perdeu completamente o equilíbrio e foi ao chão, mas não sem antes fazer com que acidentalmente Benedict caísse por baixo dela, o que fez ambos gargalharem.

- Você precisava ver a cara que fez quando estava prestes a cair! – Amelia disse entre as risadas.

- Oras, você também fez uma careta engraçada! – Ele se defendeu.

Os dois riram por mais alguns segundos, até que as risadas foram se cessando lentamente dando espaço ao silêncio que os mostrou o quão próximos estavam um do outro. Os olhos estavam fixos, os lábios estavam à poucos centímetros de distância. Ela pensou em não perder tempo e beijá-lo, mas se controlou. Já ele, deixou o autocontrole para uma próxima vez e colocou suas mãos na nuca da moça, a puxando para ainda mais perto.

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