Cena Extra - Capítulo VI

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— Você viu a Emme? — Sirius perguntou assim que se sentou à mesa para jantar.

Os dois tinham combinado de jantarem juntos. Emmeline passaria umas anotações de História para Sirius, para ver se ajudava em algumas aulas que ele não prestou muita atenção.

— Quem? — James tirou os olhos do livro e se virou para o amigo.

— A Emme, Pontas. Loira, magra, mais ou menos desse tamanho — Sirius esticou a mão.

— Ah. Sua amiguinha. Não vi, não — James respondeu.

Sirius revirou os olhos. Ele e Emme tinham começado a conversar no dia primeiro de setembro, quando se sentaram na mesma cabine no trem que os trazia à Hogwarts. 

James teve problemas na família — sua avó faleceu — e ele só chegou ao colégio no dia seguinte, trazido pelos motoristas da família Potter. Portanto, sem sua companhia usual, Sirius acabou se sentando com Emmeline.

Os dois descobriram vários gostos em comum, e Sirius viu que Emme era uma garota legal. Não a via com interesse romântico, não. 

Aliás, ele imaginava que nunca mais seria capaz de desejar outra mulher. E mesmo sem vontade de falar com ninguém do sexo oposto pelo resto da vida, Emmeline era quase como um... menino.

— Você viu ela, Aluado?

— Não... — Remus respondeu com sua costumeira lentidão.

Mas também, Sirius duvidava que Remus soubesse quem era ela. Eles não passavam muito tempo juntos. Se viam de vez em quando, mas por alguma razão, Sirius gostava da companhia de Emmeline.

— Você está procurando a Vance? — uma das meninas da Grifinória que Sirius não sabia o nome perguntou.

— Sim. Você viu ela?

A menina riu com as amigas.

— Ela deve estar chorando em algum canto do colégio, agora que o segredo dela foi descoberto — a menina disse.

— Ela merece — uma das amigas concordou — Só uma puta faria o que ela fez. Ela nunca vai arrumar ninguém.

— Que cara ia querer ficar com ela sabendo que ela foi usada desse jeito? — a terceira amiga falou.

— Onde ela foi? — Sirius perguntou preocupado.

— Sei lá. Talvez chorar a vergonha dela no banheiro da Murta.

O banheiro da Murta. Aquele que as pessoas nunca iam porque diziam ser amaldiçoado. Sirius se levantou e saiu correndo, deixando as meninas surpresas. Quando chegou ao banheiro, ele conseguia ouvir um choro fraco vindo da última cabine e ele teve certeza que Emmeline estava ali.

— Você me deu bolo — Sirius disse, abrindo a porta.

— Sirius...

Ele puxou ela pela mão e sentou os dois do lado de fora.

— Desembucha.

— Eu contei para Lisa algo pessoal. E agora a escola inteira está sabendo. Acho que até você já deve estar sabendo! E todo mundo está falando coisas tão ruins... — ela voltou a chorar.

— Primeira coisa — Sirius segurou no rosto dela — Para de chorar. Você não vai dar essa satisfação a ninguém, muito menos essa Lisa que eu mal sei quem é. Segundo: eu não estou sabendo de nada. Então faça o favor de me contar porque o único corno que descobre as coisas por último que eu conheço é o James.

Emmeline deu uma risada fraca.

— Nessas férias eu sai com o meu primo e uns amigos dele. Eles acabaram me forçando a beber, e eu fiquei... Acho que vulnerável demais. Acontece que um deles começou a me beijar, e até aí tudo bem, mas eles são mais velhos e então a coisa ficou... Eu tentei falar que não queria nada, mas ele...

Sirius percebeu que Emmeline ia voltar a chorar e a abraçou.

— Eu sinto muito, Emme.

— Eu também — ela disse num sussurro.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Até que Sirius voltou a olhar Emmeline.

— Você pensa em fazer alguma denúncia?

Emmeline balançou a cabeça negativamente.

— Eu só queria nunca ter contado para ninguém.

Sirius sabia porque: nenhuma das pessoas que já sabiam da fofoca viam aquilo como culpa do cara escroto que forçou Emmeline. Eles viam como culpa dela.

— A Lisa me disse que eu preciso parar de me fazer de ingênua. Que eu já sabia que isso ia acontecer quando aceitei sair com caras mais velhos, beber com eles, quando fiquei com um deles... Mas eu juro que...

— Eu sei — Sirius disse — Você não esperava por aquilo.

Emmeline concordou em silêncio.

— Eu transei com a minha prima no verão enquanto a minha namorada assistia.

Aquela confissão deixou Emmeline sem palavras.

— Você...

— A minha prima ameaçou destruir a Iris se eu não fizesse o que ela queria. Mas eu já devia saber que ela destruiria a menina de qualquer jeito. Se você visse a cara que ela fez, Emme... Ela era tão inocente, tão doce. E a culpa é toda minha.

— Sirius — dessa vez Emmeline que o abraçou.

E para a surpresa dela, ele estava chorando. Os dois ficaram daquele jeito por mais um tempo, chorando juntos em silêncio, um sem ser capaz de confortar o outro com palavras. Até porque não tinha nada a ser dito. Ambos se sentiam imundos, se sentiam burros.

— Acho que a gente podia fazer uma promessa — Emmeline disse.

— Qual?

— A gente nunca mais vai chorar por ninguém. E ninguém nunca mais vai passar a gente para trás. Nós seremos nossa própria fortaleza, e se você precisar, estou aqui. Se eu precisar, você estará aqui também.

— Nunca mais ser passado para trás — Sirius sorriu, e aquele era o nascimento de um sorriso dele que se repetiu muitas outras vezes — Eu gosto dessa promessa.

E então os dois limparam os olhos, lavaram os rostos, se abraçaram e seguiram andando rumo ao jantar e à selva que era Hogwarts.

Uma selva que daquele dia em diante eles dominariam.

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