Capítulo onze

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Helena

-Eu prometi que estaria aqui e que te aplaudiria de pé.

-Você prometeu tanta coisa Gustavo, você prometeu que nunca iria me abandonar, que não ia mentir para mim e que nunca iria quebrar meu coração, mas você fez tudo isso. Você me deixou sem chão, você me deixou devastada, você me deixou só. -Cuspi as palavras com todo ressentimento que havia em mim.

-Eu me arrependo todos os dias nesses quatro anos por ter te deixado para trás, mas eu não podia te contar.

-não podia me contar que a faculdade de engenharia era melhor do que eu? Não podia contar que eu fui só um passatempo pra você?

-Você é a pessoa mais especial que apareceu na minha vida, você é muito melhor do que qualquer coisa que eu poderia fazer na vida, mas eu não queria te machucar.

-você não só me machucou como me destruiu, você tem noção do quanto eu senti sua falta,do quanto eu demorei para entender que eu não iria mais ouvir sua voz, ter seu abraço?

-Eu senti tudo isso Helena, senti falta de ouvir você me chamar ou gritar quase sempre, senti falta de ter em meus braços, de ter sua mão pequena entrelaçada a minha, de deitar no seu ombro enquanto assistíamos o culto, eu também senti sua falta. –disse.

-Mas não foi eu que fui embora, não foi eu que nem ao menos se despediu de você. Eu merecia uma explicação ao menos uma desculpa esfarrapada. –falei com lágrimas rolando, eu não iria fingir que não doía em mim.

-Eu queria te poupar de sofrer, eu sabia que era inevitável a minha ida para São Paulo...

-Me poupar de sofre? Eu sofri e sofro todos os dias da minha vida, não tem um dia sequer em que eu não me lembre de você e que eu não me lembre que você me deixou para trás como lixo de mudança. –Falei com a voz alterada eu precisava me aliviar e deixar sair tudo que estava preso em mim.

-Não diz isso, por favor! –falou segurando meu rosto entre suas mãos. –eu precisava te poupar, precisa tentar afastar você de mim.

-Me poupar de quê Gustavo? Porque você queria me afastar de você. –perguntei o encarando ele também estava chorando e foi naquele momento que percebi.

Vê-lo chorar foi como receber uma pancada, foi mais doloroso do que imaginava. Embora durante quatro anos da minha vida eu tenha chorado por ele me doía vê-lo chorando por mim, ele nunca tinha chorado na minha frente. Agora eu tinha ali um homem de mais de 1,85, forte e bem vestido chorando como uma criança. Queria o abraçar forte e essa vontade me consumia desde o dia que voltou.

-De sofrer comigo. –falou.

-Sofrer como? –perguntei tentando entender o que ele queria me dizer.

-Eu estava doente Helena.

-E você não poderia me contar isso? –perguntei irritada.

-Eu estava com câncer! –falou deixando que as lagrimas rolassem sobre seu rosto.-Eu tive leucemia.

-Porque não me contou. –disse com a voz fraca.

-Eu te amo demais e não suportaria te ver sofrendo ao meu lado e por minha causa, imaginei que o tempo e a distância faria você me esquecer e em São Paulo eu tinha garantia de um tratamento melhor porque meu pai é médico lá. –Falou sentando no banco.

Eu não sabia o que fazer eu não tinha palavra para dizer, eu não sabia se agradecia por saber a verdade ou se tinha raiva dele por ter me tirado de sua vida num momento em que precisava de ajuda. Sua tentativa de não me fazer sofrer agora me fazia sofrer em dobro, primeiro por ter sido deixada para trás e segundo por não ter ajudado ele enquanto precisava.

-Nena?! –Ele falou tirando minhas mãos que cobria meu o rosto coberto por lágrimas e borrado de maquiagem.

-Quê?

-Me perdoa! –disse me encarando com aquele par de olhos pretos que tinha tanta saudade de olhar. –Por Deus, eu não estou mentindo eu achei que estava te poupando, que estava te protegendo e que você esqueceria de mim.

-Eu te amava Gustavo, eu não iria te esquecer tão fácil...

-Por favor, só diz que me perdoa amanhã eu volto para São Paulo e eu prometo que não te incomodo mais, mas me perdoa.

-Porque você vai embora? –perguntei.

-Eu não quero te fazer sofrer mais e eu não posso estar do seu lado sem te ter comigo.

-Entendo.

-Me perdoa?.

-Eu perdoo Gustavo depois de saber disso tudo não existe razão para não te perdoar.

-Obrigado. –Disse deixando um beijo na minha testa e não contive fechar os olhos nesse momento. –Eu já vou indo, obrigado por ser esse mulher incrível que é sou eternamente grato a Deus por ter conhecido o amor verdadeiro ao seu lado.

Meu coração, meu corpo, meu cérebro nada me obedecia naquele momento,eu sonhei tanto com esse dia, tentei imaginar tantas justificativas, tantos porquês e explicações que não diminuiriam em nada a dor que tinha sentido, mas saber a verdade sobre sua partida fez minha dor parecer tão pequena, fez todo meu sofrimento tão minúsculo comparado a dor que deve ter sentido e o sofrido com essa doença.

Ele já estava voltando para festa quando eu decidi que não podia ficar presa ao passado, quando decidi que não podia mais carregar aquela dor, que não precisava mais alimentar a tristeza, eu não fui uma qualquer na vida dele, eu fui alguém que ele quis proteger e alguém que ele admitia amar.

-Gustavo! –Gritei.

-Oi! –Falou virando.

Corri ao seu encontro e o abracei permitir meus braços segurar sua cintura enquanto minha cabeça repousava no seu peito e eu era mergulhada no calor do seu corpo e do seu perfume. Ele me apertou contra seu corpo e apoiou seu queixo no alto da minha cabeça.

Eu chorei tudo que podia dentro daquele abraço e pela sua respiração descompassada sabia que ele chorava também. Minha mente me levou ao nosso primeiro beijo e o quanto eu fiquei feliz quando ele me abraçou da mesma forma que fazia naquele momento, toda aquela paz que sentia antes passei a sentir naquele momento, senti Deus me devolver a vida e a esperança de dias melhores.Ficamos em silêncio por muito tempo até que ele resolveu falar.

-Eu te amo Helena, eu nunca deixei de te amar, sofri todos os dias a sua ausência.

-Eu também te amo Gustavo, nunca deixei de amar.

O que sobrou de mim? Depois que ele se foi, sobrou apenas uma menina abandonada e machucada, uma Helena triste e angustiada que com o tempo aprendeu a lidar com a dor e a entender que podia aprender muitas coisas através dela. O que sobrou de mim? Quando ele se foi, sobrou apenas raiva, magoa, frustração, decepção e tristeza, sobrou uma Helena fechada.

Mas quando o vi ali naquele momento, quando estive dentro do seu abraço sentindo seu cheiro e ouvindo sua voz, quando disse que me amava e que eu era o grande amor da sua vida eu percebi o que não sobrou. Não sobrou amor, não sobrou paixão, porque na verdade eles nunca deixaram de estar dentro de mim. Mesmo em todas as vezes que gritei para o mundo o quando eu o odiava ali ainda existia amor, mesmo em todas as vezes que quis se reaproximar e eu o desprezei aquele frio na barriga e o coração acelerado me dizia a todo momento que ainda existia paixão ali.

O que sobrou de mim? Depois da tempestade sobrou uma mulher forte,  madura e confiante, sobrou uma Helena dependente de Deus que em todo o tempo teve a certeza de que um dia tudo ficaria bem. O amor não sobrou porque ele nunca tinha acabado ele apenas estava dormindo e como beijo que ganhei depois daquele abraço ele voltou com força total.

FIM!

O que sobrou de mim? Onde histórias criam vida. Descubra agora