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A neve branca estava espalhada por toda cidade de Montreal, os dias pareciam mais longos e as noites cada vez mais frias, carros com os vidros esbranquiçados, cafeterias viviam cheias e as folhas sumiam dos jardins.

O carro preto foi estacionado frente a casa branca ao final da rua, uma senhora loira de olhos esverdiados desceu do veículo, ao lado de uma mulher de cabelo castanho e pele clara que colocava a mochila preta nas costas. Com muito esforço, a jovem terminou de descarregar mais três malas do carro.

Estava de volta, mas não estava mais acostumada com o frio, no Brasil, não nevava e a temperatura do inverno em São Paulo não chegava a ser tão baixa quanto no Canadá.

A mulher ergueu a cabeça e encarou sua mãe de loslaio, dando um sorriso singelo. Katherine entrou dentro de sua antiga casa e sentiu o tão amado cheiro de chá que só sua mãe sabia fazer.

- Ainda está quente, coloque as malas lá em cima e venha me acompanhar. - a arquiteta assentiu enquanto subia as escadas.

Abriu a porta do quarto no início do corredor, estava parecido como da última vez que estivera ali, as bonecas sobre a estante, os livros sobre a plateleira ao lado da cama, e a varanda com as flores que sua mãe cultivava.

Ela deu passos lentos observando o local, era nostálgico demais voltar em sua casa, era diferente. Katherine até definia como estranho, mas era seu primeiro lar, e agora, mesmo com a vida agitada, precisava se acostumar.

Abriu a porta de vidro que dava acesso a sacada, colocou suas mãos na madeira clara olhando o final da rua. Seus olhos desviaram para a casa azul a frente. Uma mulher de cabelos castanhos claros e de cadeira de rodas atravessava o pequeno jardim sentido ao carro. Katherine observou com atenção bela mulher destravar o veículo se impulsionando para entrar, em seguida, ela puxou a cadeira que foi dobrada jogando ao pé do banco do passageiro, fechando a porta. Ela ligou o veículo dando partida saindo dali.

Katherine admirou como nunca a independência daquela mulher que nem sequer conhecia, era jovem, com toda certeza não tinha mais que trinta anos.

Desceu as escadas indo até a cozinha, observou sua mãe depoistar os pratos sobre a mesa com um pedaço de bolo em cada um.

- Estava te esperando. - a senhora sorriu sentando-se sobre a mesa.

- Como se sente? - Katherine questinou sentando-se frente a sua mãe.

- Um pouco cansada, mas bem. - a senhora assentiu tomando um gole do chá.

A arquiteta ponderou sobre a mulher da casa da frente, pensou que talvez sua mãe soubesse algo sobre ela, era a única jovem da rua, e aparentemente vivia sozinha. Mastigou um segundo pedaço de bolo e olhou sua mãe.

- Quem mora na casa da frente? - perguntou Katherine instantaneamente. Clarice franziu o cenho sem entender o motivo do questionamento. - digo, eu vi uma mulher cadeirante e ela...

- Ah! É a Dominique, uma querida. - sua mãe respondeu com um sorriso no rosto. - ela mora à pouco mais de dois anos aqui, veio da Inglaterra, e optou por viver sozinha.

- Por quê? - Katherine não estava satisfeita com poucas informações, estava curiosa demais sobre a mulher.

- Ela recebeu uma proposta de emprego aqui, atualmente é dona de uma galeria de artes aqui perto, e é uma doce de mulher, muito guerreira e inspiração para todos. - Clarice falava com toda doçura, tinha um carinho imenso por ela. - Dominique me ajudou muito Kate.

A arquiteta assentiu sileciomamente, sabia que sua mãe havia passado por grandes problemas enquanto morou só.

Quando estava prestes a completar 28 anos, Katherine soube por sua tia, que Clarice estava com suspeita de câncer, na mesma semana a arquiteta atravessou o continente e desembarcou no Canadá, passou duas semanas com sua mãe, levando-a em algumas consultas, até os exames saírem, e fora confirmado o tumor no cérebro, acontece que ela tinha muito o que resolver no Brasil, onde morava a mais de 4 anos. Após receber uma proposta milionária em dois projetos de arquitetura, desenvolveu diversos prédios e casas para grandes e pequenos empresários. É responsável pelo apoio em ONGs quais deposita uma quantia em dinheiro todo o mês, participa de congressos, apresenta palestras e é muito envolvida e reconhecida no meio comercial.

Mais de um ano pra cá, após sua mãe descobrir que sua doença já não tinha cura, Katherine resolveu se mudar para o Canadá novamente, aproveitando os últimos meses que teria com Clarice.

A olhou com pesar tendo lembranças das vezes que esteve longe. Trabalhava e estudava demais, e o pouco tempo que tinha, usava para dormir.

- Ela quem te levou no hospital a última vez? - Clariu assentiu terminando seu último pedaço de bolo.

Katherine já era grata a mulher sem ao menos conhecê-la. Soltou um leve suspiro quando terminou seu chá, retirou o casaco vendo sua mãe retirar seu prato e o levando até a pia.

Estavam distantes, e ambas não sabiam como recuperar o tempo perdido. Katherine sentia falta de sua mãe, mas passou tanto tempo ausente que não sabia como se aproximar.

Quando ela tinha 13 anos foi embora para o Nova York, com seu pai que era americano. A jovem mulher, estudou, trabalhou e se tornou uma das maiores arquitetas do país, lutou para dar uma vida estável ao homem, que, acabou sofrendo um acidente de carro e falecendo quando a Katherine tinha 24 anos. A arquiteta viveu durante anos no Brasil, em São Paulo. Aprendeu o português com uma facilidade incrível, conheceu pessoas divertidas e chegou a se relacionar com a jornalista Heloisa por dois anos, com quem, terminou amigavelmente por ausência de interesse, acontece que Katherine não sabia se entregar emocionalmente a ninguém, era fechada demais.

Pensar que toda sua vida foi baseada em refúgios e promessas não cumpridas e que das vezes que sua mãe ligava pedindo para que Katherine voltasse pra casa ela se negava, negou por medo da infância violenta e privada que tivera, na qual, sua mãe era alcoólatra e seu pai passava o dia fora trabalhando por seu sustento. A arquiteta traumatizou tanto que todas as vezes que pensara em voltar para casa, o passado lhe assombrava, e por muitas vezes sua mãe lhe pediu perdão, mas Katherine pensava que, tudo o que estivera acontecendo com a mulher era consequencia do que fizera no passado. A arquiteta nunca saberia, mas sua maior certeza era que havia perdoado sua mãe, e prometera começar do zero.

Quando Te ConheciOnde histórias criam vida. Descubra agora