Tudo vai ficar bem

274 10 12
                                    

Ouço barulhos por toda parte, meus pulmões ardem, não consigo abrir os olhos, mas posso ver lampejos de luz a medida que passo. Minha cabeça está em chamas assim como meu corpo. E antes de apagar ouço alguém falar meu nome.

Acordo sentindo um desconforto na boca, ainda tento sem sucesso abrir os olhos e o barulhinho irritante e a luz me cercam de novo e então apago, pela segunda vez.

Quando acordo pela terceira vez, não consigo compreender onde estou, meu corpo todo está relaxado, mas ainda assim, sinto o desconforto em meu corpo, como se algo estivesse errado.

A última coisa de que me lembro é da água e depois de mais nada. Abro os olhos com dificuldade, a claridade me cega, pisco várias vezes. Sinto minha boca seca e minha língua áspera. Quando consigo abrir os olhos novamente me acostumando com a claridade eu a vejo. Primeiro seu cabelo cor de fogo, depois seu rosto distraído olhando pela janela. Tento mover minha cabeça para ve-la melhor, mas sinto dores só de tentar. O cansaço me vence mesmo fazendo o impossível para chamar sua atenção, e quando fecho os olhos novamente durmo.

Acordo cansada de mais para abrir os olhos. Ouço vozes.

--Trouxe café. -Era uma voz masculina.

Desejo ver seu rosto, sua voz me é familiar, no entanto não consigo relacionar a voz a um rosto. Sinto uma mão macia tocar a minha.

--Como ela está?

--Progredindo. -a voz era feminina, ela me transmitia calmaria. Como se tudo fosse ficar bem. --Ela esta melhorando Harvey.

Sinto um vazio quando tira sua mão da minha. Reuni minhas forçar e abri os olhos, um de cada vez. A claridade ainda me fere, pisco para aliviar meus olhos e assim que tomam foco a primeira coisa que vejo é cabeleira ruiva, a mulher estava abraçada a um homem. Ele a abraçava de uma forma protetora enquanto fazia carinho em suas costas.

--Acho que alguém acordou. -disse o homem sorrindo. A ruiva se virou bruscamente enquanto seus olhos transbordavam em lágrimas.

--Ei. -Diz se aproximando cautelosamente. --Oi. -sussurra segurando minha mão.

--Oi. -Consigo dizer. Focando em seu rosto de pertinho e forço ao máximo para me lembrar de quem ela é, minha cabeça está latejando.

Como se fumaça tivesse invadido minha mente e arrastado lembranças para serem exibidas, me recordo da moça ruiva arrumando os cobertores ao meu redor, nós duas de pijama assistindo TV de manhã, nós tomando café, ela chegando do trabalho e me perguntando como foi o meu dia. Eu me lembro, ela é minha mãe. Está claro isso, mas ainda sim, não consigo lembrar do nome dela.

--Está tudo bem querida? -Pergunta ela me olhando preocupada. --Vou chamar a enfermeira. -Harvey lançou a ela um olhar preocupado e saiu antes que eu pudesse protestar.

--Não, não. -seguro a mão dela --Está tudo bem.

Me sinto péssima. Ela continua a me olhar preocupada, tenho que me lembrar, eu tenho! Ela é minha mãe, eu preciso lembrar dela, do nome dela, das festas de aniversário, dela lendo pra mim antes de dormir, sinto minha respiração acelerar e o pânico toma conta de mim e então as dores chega. Meu ombro parece que vai cair de tanto que esta queimando.

Ela me abraça, não me contenho e começo a chorar. O perfume dala misturado ao do homem sobe até meu nariz e me acalma enquanto descanso minha cabeça em seu ombro.

--Mãe, por que eu não consigo me lembrar? -Falo separando uma mecha de seu cabelo. --Eu sei que você é minha mãe, mas eu não me lembro de você, me desculpa.

O corpo dela fica tenso então a aperto mais. Isso é tudo culpa minha, me lembro de entrar escondido no quarto da garotinha no Japão e me apertar dentro da mala, logo depois ja estava em um país diferente, com uma língua e curtumes diferentes. E depois disso tudo parece um borrão. Não sei o motivo de estar em um hospital, mas tenho certeza que é por causa do meu ombro e perna.

Respiro com dificuldade com aquele aparelho enfiado no meu nariz, me sentia encomodada com tudo. Meus pulmões ainda estão ardendo com a falta de ar e sinto meu corpo amolecendo nos braços dela.

--Está tudo bem. -ela massageia minhas costas enquanto eu tento não entrar em pânico. A porta do quarto é aberta e alguém entra, não consigo ver quem é ja que não consigo desviar dos olhos dela.

Estou suando, sinto algo mudando em meu organismo, me sentindo mais calma. Ainda estou acordada, mas de olhos fechados passo minha mão em meu joelho ralado antes de voltar a deitar.

--Ela engoliu muita água por isso vai ter dificuldade em respirar por alguns dias, e quanto aos outros ferimentos ela está estável, não corre risco algum. A senhora informou que ela não se lembrava de algumas coisas?

--Sim

--Para um evento traumático é normal o paciente bloquear essas lembranças, ainda mais por tudo o que ela passou. E não é surpresa que ela vai ter que ser acompanhada por um psicólogo durante alguns meses, Maisie é uma menina forte e vai superar tudo isso.

--Obrigado doutor.

--Quando vamos poder leva-la para casa?

--Ela vai ficar aqui por mais alguns dias em observação e se tudo correr bem logo logo vai estar em casa. --E como a Senhora esta se sentindo?

Logo adormeço e perco a conversa. Acordo me sentindo muito melhor. Demoro a abrir os olhos e quando o faço vejo Harvey entrando no quarto com um café em mãos, ele a abraça de lado e pousa sua mão delicadamente em sua barriga. Eles sorriam um para o outro e enquanto ela tomava seu café ele a observava. Parecia tranquilo, ela coloca sua mão em cima da dele e deposita um selinho em seus lábios antes de sua atenção voltar para mim.

--Bom dia.

(REVISÃO) Need? Need!Onde histórias criam vida. Descubra agora