CAPÍTULO 2 - PESADELOS E TRAIÇÕES

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Pela primeira vez em muitos dias, Anne parecia serena ao repousar sobre a cama. Susan se deitou ao seu lado, após trocarem as camisolas molhadas, não querendo deixar a irmã sozinha, e quando despertou, todas as lembranças da noite anterior dançaram em sua mente, deixando-a ligeiramente tonta. Anne ainda dormia profundamente, e Susan achou melhor não perturbá-la.

A janela do quarto de Anne amanheceu aberta novamente, embora a própria Susan a tivesse trancado quando retornaram da praia.

Aquela foi uma noite estranha. Adormecera depressa ao lado da irmã, e não muito tempo depois, sentiu o sopro do vento em seu rosto, e um forte e inexplicável perfume de jasmim preencher o quarto. Queria saber de onde ele vinha, o que era, e principalmente, por onde ele entrara, porém, não teve forças para abrir os olhos. Era como se um torpor tivesse dominado sua mente, tornando-a incapaz de despertar, apesar de sua vontade.

Talvez tenha sido apenas um sonho, mas Susan teve a sensação nítida de que alguém levantara as cobertas e se deitara silenciosamente entre as duas irmãs no meio da noite. Tremia só de pensar na possibilidade. Tinha que ser um sonho, para o seu próprio bem e de sua reputação; pois de outro modo, ela teria que aceitar a hipótese perturbadora de ter dormido a noite toda aconchegada com a irmã no peito de um homem.

Sentiu um calafrio mortal, e espantou rapidamente o pensamento. "Foi só um sonho", ela disse a si mesma, tentando se convencer a não pensar mais nisso. Mas a verdade é que ela não estava certa sequer de ter realmente adormecido naquela noite.

Sabia que havia tido dois ou três sonhos, dos quais despertara com o coração acelerado em diferentes momentos da madrugada, sem jamais conseguir abrir os olhos. E todas as vezes que isso acontecera, o perfume de jasmim invadira suas narinas e a embriagara de maneira a uma só vez perturbadora e reconfortante. O perfume a fazia sentir que adormecera na relva do paraíso; mas os sonhos que tivera naquela noite, e principalmente o peito que ela sentia subir e descer tranquilamente sob seu braço, e o braço que a mantinha aninhada tão protetoramente, a faziam sentir-se imunda.

Que espécie de pesadelo era aquele? Tão doce quanto apavorante. Ela se perguntava se seria possível que aquela presença fosse real. Queria crer que não; mas então ela teria que supor que as sereias que ela vira nadando nas águas de Salem também não eram reais; e a mansão onde ela entrara com a irmã, pouco antes de Anne começar a se afogar, também não poderia ser real. Era deveras a conclusão mais sensata a se chegar. Mas então ela teria que admitir que também estava alucinando, como vinha acontecendo com a irmã desde o início de março. Talvez ambas agora fossem escravas da mesma loucura.

E os sonhos que tivera foram igualmente perturbadores.

O primeiro deles se parecia com os sonhos que Anne mencionara no princípio do mês: Susan se viu exatamente onde estava, dormindo na cama da irmã. Anne estava ao seu lado, respirando muito superficialmente, mergulhada no mais profundo dos sonos. Uma brisa morna entrava pela janela aberta, carregando um suave odor de jasmim para dentro do quarto. Foi então que ele apareceu. Era alto e charmoso; seu rosto estava coberto por uma elegante máscara veneziana, mas através dela, Susan podia ver nitidamente os brilhantes olhos azuis.

Ele se aproximou da cama, e suavemente puxou as cobertas para se deitar entre elas. Seu corpo era grande e quente, e ele estava vestindo um fraque muito elegante.

Susan não se recordava do gesto, mas percebeu, quando ele envolveu seu corpo para aninhá-la em seu peito, que ele havia despido o fraque. A camisa branca estava entreaberta, e os dedos dela repousaram sobre uma sutil capa de pelos.

Um gemido escapara pelos lábios de Susan ao se dar conta do desatino. Sonhando ou não, era muito imprudente permitir-se aninhar no peito de um homem que não era seu marido. E o pior é que ela nem sabia como era o rosto dele.

As Noivas de Robert Griplen - Parte 1 - MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora